'Xadrez não deve ser visto como um jogo elitista', avalia professor
Para Álvaro Aranha a prática desenvolve habilidades como raciocínio lógico, concentração e foco nos estudantes
Educação|Karla Dunder, do R7
O xadrez é jogo muito barato, "precisa apenas de um tabuleiro e algumas peças e, ao mesmo tempo, pode ser uma ferramenta para o desenvolvimento do raciocínio lógico no processo de aprendizagem". Essa é a definição dada pelo professor Álvaro Aranha, Mestre da Fide (Federação Internacional de Xadrez), que defende a prática entre estudantes de todas as idades e que a prática não é "elilista".
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Para Álvaro, que também é técnico da equipe de xadrez do Colégio Augusto Laranja, o xadrez "auxilia no processo de aprendizagem, na visão espacial, na concentraçao e no foco, principalmente para uma geração acostumada com a tecnologia, que precisa ficar atenta ao jogo e não olhar várias coisas ao mesmo tempo."
"Em diferentes países o xadrez é praticado nas escolas por alunos de todas as idades e classes sociais, não é um jogo elitista", diz. "Na Rússia, por exemplo, todos têm acesso às aulas."
"Acompanho jovens de escolas públicas e particulares vejo o quanto a prática do esporte faz a diferença na vida desses estudantes."
André Gonçalves de Castro, de 21 anos, estudou até o 9º do ensino fundamental no CEU Água Azul, em Guaianases, zona leste de São Paulo, é um exemplo. O jovem de começou a jogar xadrez aos 8 anos por acaso. "Gostava muito de futebol, a escola oferecia cursos à tarde, entre eles o de xadrez, comecei a jogar de olho na vaga para o futebol, que era mais concorrido", conta.
Começou a participar das aulas sem muita pretensão e se tornou um adepto do jogo. "Comecei a participar de competições, viajar para jogar xadrez, foi uma experiência muito rica na vida", diz o jovem que conquistou medalhas e campeonatos. Em 2014, se tornou campeão paulista de xadrez e conquistou uma bolsa de estudos para cursar o ensino médio em colégio particular.
Ainda como aluno do CEU, André teve a oportunidade de jogar online com o campeão mundial de xadrez Garry Kasparov. "Já joguei com o Kasparov em 2011, ele jogou com 20 crianças de escolas públicas com menos de 12 anos e para mim foi um sonho."
"Perdi minha mãe com 3 anos de idade e fui criado pelo meu pai e pela minha irmã, que tinha 8 anos", conta. "Quando cheguei no colégio, como vim de escola pública, percebi que não tinha base em todas as matérias, no xadrez, só aumentei o meu nível, mas reprovei o primeiro ano."
Além da dificuldade com as aulas, André tinha de sair de casa, em Guaianases, às 4h30 da manhã para chegar em Moema, na zona sul de São Paulo, às 7h30. "Eu estava me destacando no xadrez, mas a minha vida pessoal estava bem difícil, era tudo muito corrido, havia muita pressão e eu precisava trabalhar."
André teve de abrir mão da bolsa de estudos para ajudar a família, mas continua a praticar o xadrez por meio de aplicativos e partidas online. "Posso dizer que tudo o que conquistei foi influência do xadrez. Tudo em mim tem um pouco do xadrez: me desenvolvi intelectualmente, viajei e conheci muitas pessoas, por tudo isso sou grato ao xadrez", diz o jovem que pretende voltar aos campeonatos profissionais no ano que vem.