Na direção da Transnordestina, Ciro entregou apenas 81 km de ferrovias
Político assumiu cargo na concessionária prometendo destravar obras, mas admitiu na campanha que linha férrea ainda "liga nada ao coisa nenhuma"
Eleições 2018|Do R7, com Estadão Conteúdo
O ex-candidato à Presidência da República Ciro Gomes (PDT) foi diretor-presidente da concessionária responsável por uma das obras que mais representam o descaso com o dinheiro público no Brasil.
O governo já investiu R$ 11,2 bilhões no projeto e na construção da ferrovia Transnordestina, mas até agora, como o próprio político definiu em entrevista durante a campanha, "liga o nada ao coisa nenhuma".
Com oito anos de atraso, a ferrovia tem hoje apenas 52% das obras concluídas. Esse era para ser o maior projeto ferroviário do país, alavancando o desenvolvimento de cidades do sertão nordestino e facilitando a escoação da produção agrícola e de minérios. O Câmera Record mostrou em agosto que diversos trechos já prontos estão completamente abandonados (veja vídeo abaixo).
Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo diz que Ciro chegou à presidência da concessionária Transnordestina Logística em 3 de fevereiro de 2015, com a promessa de destravar o projeto de 1.753 km de extensão e acelerar a conclusão da ferrovia que, depois de nove anos de obras, tinha alcançado apenas 518 km de trilhos. O orçamento de R$ 4,5 bilhões havia crescido para R$ 7,5 bilhões e o cronograma de entrega, antes previsto para 2010, não tinha mais data.
O político saiu da TLSA alegando querer evitar problemas com o governo interino de Michel Temer (MDB), a quem fazia duras críticas e que havia acabado de assumir após o afastamento de Dilma Rousseff (PT).
"Ciro Gomes deixa a presidência da Transnordestina Logística SA para evitar que perseguições políticas a sua posição contra o governo interino interfiram no andamento da obra", justificou em nota sua assessoria naquela época.
Ciro Gomes disse que Haddad pode destruir o país
Durante sua passagem, de pouco mais de um ano (entre 2015 e 2016), pelo comando da TLSA (Transnordestina Logística SA), uma subsidiária da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), Ciro, que tinha salário estimado de R$ 250 mil mensais, conseguiu fazer com que avançassem apenas 81 km de trilhos, ou 4,6% do total previsto.
A CSN, empresa que seria a futura empregadora de Ciro, doou R$ 500 mil para a campanha dele em 2006, quando foi eleito deputado federal. Em 2002, fez a maior doação ao partido pelo qual ele disputava a Presidência, o PPS: R$ 697 mil. Os adversários, Lula, José Serra (PSDB) e Anthony Garotinho (PSB), receberam da empresa R$ 250 mil cada. Os dados constam nas prestações de contas do Tribunal Superior Eleitoral.
Ciro chegou a prometer a conclusão da Transnordestina durante entrevista a uma rádio cearense durante a campanha, caso fosse eleito. "Eu quero terminar porque ela é muito importante para integrar o Nordeste", disse.
A Transnordestina começou a ganhar fôlego durante o primeiro governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando Ciro era o ministro da Integração Nacional. Em 2006, as obras foram iniciadas e o projeto foi incluído no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
"O projeto foi incluído em 2007 no rol de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), sob a previsão de que custaria R$ 4,5 bilhões e estaria concluído até 2010. Contudo, em abril de 2014, a previsão de conclusão do empreendimento foi estendida para 2016, e o custo de construção foi ampliado para R$ 7,5 bilhões. Atualmente, tem-se noticiado que a obra está com 50% de execução, e com custo total estimado em aproximadamente R$ 11 bilhões", diz um trecho de relatório do TCU (Tribunal de Contas da União).
Na época da saída de Ciro da TLSA, o TCU havia acabado de bloquear qualquer repasse de recursos públicos para a ferrovia, alegando que "sequer existem elementos que permitam aferir o custo real da obra".
A ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) instaurou um processo administrativo contra a TLSA que apura "descumprimentos contratuais da ferrovia". Segundo a agência, o procedimento poderá levar à extinção da concessão.
"As obras encontram-se paralisadas desde dezembro de 2016 em função da falta de recursos para continuidade das obras", acrescenta a ANTT.
Quando concluída, a ferrovia irá ligar os portos de Suape (PE) e Pecém (CE) ao serrado do Piauí, na cidade de Eliseu Martins. Os dois terminais portuários são fundamentais para o escoamento da produção agrícola e de minérios.
A passagem de Ciro pela Transnordestina ainda resultou em um alto número de demissões na empresa, conforme levantamento do jornal O Estado de S. Paulo. Quando ele assumiu, eram 5.356 empregados, número que caiu para 1.261 em maio de 2016.
Procurada, a TLSA diz que "não comenta assuntos que envolvem política". O R7 procurou a assessoria de imprensa de Ciro Gomes, mas não havia obtido resposta até o fechamento desta reportagem. Caso isto ocorra, este texto será atualizado.