Partidos escalam 'influencers' para alavancar candidatos em campanha
Pandemia de covid-19 reduziu corpo a corpo e levou concorrentes à prefeitura a buscar novas estratégias digitais para atingir eleitorado
Eleições 2020|Do R7
A pandemia da covid-19 reduziu o volume de campanha na rua com material físico e levou os candidatos a prefeito a buscar novas estratégias digitais para explorar o apoio do seus "exércitos" de candidatos a vereador. Postulantes a cargos no Legislativo municipal formam a principal rede de apoio aos candidatos e funcionam como ligação com a base de eleitores. Por isso, em geral, líderes comunitários ou pessoas identificadas com determinadas causas de apelo popular são escolhidos pelos partidos.
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Diante dos desafios impostos pelo novo coronavírus, neste ano, no entanto, outros atributos entraram na hora de escolher um candidato à Câmara Municipal: número de seguidores nas redes sociais, quantidade de grupos de WhatsApp e capacidade de engajamento nas redes sociais. Partidos políticos criaram santinhos com QR Code, para evitar o contato, arquivos digitais de material de propaganda para facilitar o disparo em listas de distribuição e até uma equipe de "mentoria" para uniformizar a atuação digital dos candidatos a vereador.
Marqueteiros e candidatos dizem que os santinhos de papel não deixaram de circular e o corpo a corpo em redutos eleitorais ainda faz parte da agenda, mas em proporções muito menores que nos tempos pré-pandemia. "Essa é uma eleição experimental. O mantra é unir o online com o offline", disse Elsinho Mouco, marqueteiro de Celso Russomanno (Republicanos). O deputado tem 166 candidatos a vereador em sua coligação, o terceiro maior número, mas ainda não finalizou sua estratégia digital.
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"O WhatsApp nessa eleição vai ser o novo corpo a corpo", disse Wilson Pedroso, coordenador da campanha à reeleição do prefeito Bruno Covas (PSDB). Com uma coligação de dez partidos, Covas tem o maior número de candidatos a vereador: 763. O comitê tucano estimulou entre eles a criação de grupos de WhatsApp temáticos e regionais, criou listas de transmissão para enviar materiais digitais do candidato com a foto do prefeito e adotou até o santinho de papel com um QR Code.
No "novo normal eleitoral", o principal ativo dos cabos eleitorais agora são os seus grupos de WhatsApp e o número de seguidores nas redes sociais. "Nesse contexto de pandemia é inevitável se pensar no meio digital. Não anula o corpo a corpo, mas cria uma nova rotina, um novo jeito de conversar com as pessoas", disse Thammy Miranda. Candidato a vereador pelo PL, partido da coligação de Covas, ele tem 3 milhões de seguidores no Instagram, 642 mil no Facebook e 120.900 no Twitter.
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"Nas redes sociais dá para ter um contato diário com o eleitor. Falo com mais de 4 milhões de pessoas diariamente e tenho que trabalhar meu conteúdo para que as pessoas possam decidir o voto", disse Thammy. A título de comparação, Covas tem 208.367 seguidores no Facebook.
Com o objetivo de dar uma cara de uniformidade às campanhas digitais dos candidatos a vereador, o MDB criou uma ferramenta, o MDB Drive, que permite baixar santinhos, faixas, cards e jingles oficiais direto do site do partido.
Manter uma unidade à campanha dos postulantes à Câmara também é a justificativa para a contratação de uma "mentoria" para os cerca de 376 candidatos a vereador da coligação de partidos que apoiam Márcio França (PSB). Coordenador de redes digitais da campanha, o publicitário Reginaldo Ferrante diz que há também um aplicativo feito apenas para os candidatos. "Cruzamos o conteúdo do vereador com nosso programa de governo", disse. Dessa forma, os candidatos recebem material digital sob medida para ser distribuído em seus grupos e demais plataformas. "A ideia é potencializar nosso alcance usando as redes conjuntamente, o que promove uma visibilidade maior e permite que mais pessoas conheçam nossos projetos", disse o ex-atleta olímpico Diego Hypólito, candidato a vereador do PSB que tem 594 mil seguidores no Instagram.
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LGPD
A LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), que entrou em vigor em setembro com objetivo de resguardar direitos dos usuários à liberdade e privacidade na internet, obrigou os candidatos a tomar mais cuidado na hora de enviar material de campanha virtual.
Segundo o advogado Francisco Brito Cruz, diretor do InternetLab e membro da Comissão de Direito Eleitoral da OAB-SP, as campanhas devem, por exemplo, ter consentimento do usuário antes de distribuir material de campanha. Além disso, devem fornecer mecanismos de descadastramento aos eleitores.
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"A gente considera eleitor aquela pessoa que te deu o contato", afirmou a médica Roberta Grabert, candidata a vereador em São Paulo pelo Novo, que tem usado grupos de WhatsApp dos quais já faz parte, como o do seu condomínio. Neles, Roberta envia um link convidando as pessoas para um novo grupo - este, sim, voltado para distribuir material eleitoral. Para ela, o método "evita que as pessoas se sintam invadidas."
De acordo com o advogado Francisco Brito Cruz, esse tipo de abordagem está de acordo com o que prevê a lei. O risco de se perturbar o eleitor está no radar das campanhas. O analista de operações Alexandre Aebi disse que foi adicionado a grupos de candidatos, mesmo sem saber como seu contato foi compartilhado. "Gosto de política, mas, ainda assim, isso tem sido um exagero."