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Estrela de ‘Epic’, Anna Lea fala ao R7 sobre musical que viralizou no TikTok e ganhou o mundo

Artista norte-americana dá voz a Penélope, a esposa de Odisseu, em obra que adapta a história da ‘Odisseia’, de Homero

Entrevista|Bianca Fávero*, do R7

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Cantora tentou o papel de Calipso no primeiro momento, mas foi selecionada como a esposa de Odisseu Reprodução Instagram - @musicannalea

Anna Lea tinha apenas 17 anos quando se deparou, em 2021, com a chamada para uma audição no TikTok que mudaria sua carreira artística. Era um trecho de Epic The Musical, projeto criado por Jorge Rivera-Herrans que transformou a Odisseia, de Homero, em sagas musicais que viralizaram nas redes sociais.

Curiosa e apaixonada por música, bastaram poucos segundos para que ela se encantasse pela melodia envolvente — um teste para interpretar Calipso, a ninfa dos amores não correspondidos que aprisiona o herói Odisseu por anos em uma ilha, em meio às provações durante sua longa jornada de volta para casa após vencer a guerra de Troia.


Sem grandes expectativas, a norte-americana decidiu gravar sua versão da música e publicá-la na plataforma. O que ela não imaginava era que aquele vídeo, feito de forma despretensiosa, chegaria até o próprio criador do projeto. Poucos dias depois, Jorge entrou em contato elogiando sua voz e, em vez de Calipso, ofereceu a ela o papel de Penélope, a esposa de Odisseu e uma das figuras mais emblemáticas da Odisseia.

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De repente, do quarto onde gravava covers e experimentava composições, Anna passou a dar voz a uma das personagens mais emocionantes da mitologia grega diante de milhões de ouvintes. Somente no Spotify, a música Would You Fall in Love With Me, dueto do reencontro de Penélope com Odisseu, já acumula quase 73,3 milhões de streams, enquanto o solo The Challenge, conta com mais de 48 milhões de ouvintes.


“Quando recebi a mensagem dizendo que eu interpretaria Penélope, fiquei completamente empolgada. Queria contar para todo mundo. Meus pais acharam que eu estava sendo enganada, mas, felizmente, não me impediram de seguir em frente — e olha só onde chegamos agora”, contou em entrevista ao R7.

@jorgeherrans

THANK YOU @anna.l.lol FOR LENDING YOUR VOICE AS PENELOPE!!! YOU ARE INSANELY TALENTED AND YOU ABSOLUTELY NAILED IT!!! #epicthemusical

♬ original sound - Jorge Rivera-Herrans

Todo o elenco de Epic The Musical foi selecionado pelas audições realizadas online, criando uma comunidade colaborativa em torno do projeto. Apesar disso, Anna era uma das artistas mais novas e ficou apreensiva de início. “Tinha um pouco de medo de não ser tratada como igual, mas foi o total oposto. Fui acolhida de imediato”, lembra.


Entre as faixas dos álbuns, divididas pela sagas Troy, Cyclops, Ocean, Circe, Underworld, Thunder, Wisdom, Vengeance e Ithaca, cada personagem é associado a um instrumento musical, criando uma paisagem e ambientação única para recontar o poema épico. Penélope, por exemplo, é representada pelo violino — seu timbre delicado e expressivo traduz tanto a força silenciosa quanto as emoções da personagem que está há 20 anos esperando seu marido retornar do campo de batalha.

Para Anna, dar voz a Penélope foi também uma forma de mergulhar nessa complexidade emocional. “Mais do que ser uma esposa, eu penso em Penélope como mãe. [...] Ela precisou ser forte e estoica por causa do filho — não para sobreviver até Odisseu voltar. Tudo que ela fez foi por Telêmaco”, conclui.


Confira a entrevista com a cantora e compositora Anna Lea na íntegra

R7 - Como foi o seu primeiro contato com Epic The Musical?

Anna Lea - Eu me envolvi com Epic The Musical pelo TikTok, em 2021. O primeiro post que vi foi um trecho da audição do Jorge para o papel da Calipso, e aquilo me prendeu na hora. Era o verão antes do meu último ano do ensino médio, e eu estava muito empolgada com a criação de conteúdo nas redes sociais. Quando vi a oportunidade de participar de um projeto com músicas incríveis, fiquei eufórica.

R7 - Como você se sentiu ao gravar sua primeira audição? Estava confiante, nervosa, um pouco dos dois?

Anna - Para Calipso? Eu não pensei muito, sinceramente. Fui com zero expectativas e fiquei agradavelmente surpresa quando recebi um elogio do próprio criador. Achei aquilo muito legal, e isso me incentivou a continuar fazendo audições para outros papéis no projeto. Quando fiz o teste para Penélope, tive uma sensação de que poderia conseguir. Eu sabia que ele veria, porque já tinha assistido às minhas duas audições anteriores, e senti que interpretei Penélope exatamente como queria. Achei que tinha feito jus à personagem.

R7 - Você originalmente fez audição para Calipso — o que te atraiu nesse papel? E qual foi sua reação ao descobrir que interpretaria Penélope em vez dela?

Anna - Sendo honesta, eu não sabia quase nada sobre Calipso, além do fato de que eu adorava a música dela. Achei que tinha uma vibe ótima e queria cantá-la. Não imaginava o caminho que essa audição abriria para mim, mas sou muito grata por isso. Quando recebi a mensagem dizendo que eu interpretaria Penélope, fiquei completamente empolgada. Queria contar para todo mundo. Meus pais acharam que eu estava sendo enganada, mas, felizmente, não me impediram de seguir em frente — e olha só onde chegamos agora.

R7 - Penélope é uma personagem com uma personalidade muito poderosa e cheia de emoções. Como você se preparou para dar voz a ela?

Anna - Quando interpreto Penélope, uso uma voz mais madura que a minha. A primeira vez que fiz isso foi algo meio instintivo, mas desde então aprendi a acessar essa “voz” sempre que “canalizo” a Penélope. Para me sentir “real”, eu me sento ereta, rolo os ombros para trás, aprofundo o tom e aí a Penélope aparece.

R7 - Qual aspecto você acredita que seja mais desafiador para interpretar a Penélope?

Anna - Os agudos. Perto do final de Would You Fall In Love With Me Again, Penélope grita com Odisseu, o que é cansativo para as cordas vocais, mas também é o momento de maior carga emocional que vemos na personagem em todo o musical. Durante o resto da história, Penélope se mantém estoica e forte. Nesse trecho, vemos um retrato do que poderia ser interpretado como fraqueza, mas isso não importa mais, porque o marido dela voltou para casa. Ela não precisa mais ser a matriarca forte e inquebrável. Ela pode ser frágil de novo, e reprimir isso por tanto tempo faz com que saia em forma de raiva — o que, para mim, é lindo.

R7 - No poema épico Odisseia, de Homero, Penélope é frequentemente vista como a “esposa à espera do marido”, mas Epic dá mais profundidade a ela. Como você enxerga o papel dela no musical?

Anna - Mais do que ser uma esposa, eu penso em Penélope como mãe. A maternidade, para mim, é uma força que a ideia de “esposa que espera” não capta. Não é que ela tenha sido leal ao Odisseu a ponto de não se deitar com mais ninguém; ela estava ocupada demais criando um filho sozinha para pensar em romance. Ela precisou ser forte e estoica por causa do filho — não para sobreviver até Odisseu voltar. Tudo que ela fez foi por Telêmaco. É assim que eu a vejo.

R7 - Você tem algum momento ou música favorita durante o arco de Penélope?

Anna - Com certeza Would You Fall In Love With Me Again. Acho que é a primeira vez que a vemos sentir algo verdadeiro. Ela está sempre fingindo no resto do musical. Mesmo quando não é realmente ela, a sereia está fingindo. Em The Challenge, ela precisa parecer que está considerando a ideia de um novo rei. Em WYFILWMA, ela sente raiva, tristeza, exaustão e, finalmente, paz, após 20 anos. Esse é, sem dúvida, o meu momento favorito.

R7 - Epic tem uma forma única de contar a clássica história da Grécia Antiga. O que você acha que torna o musical tão especial?

Anna - Eu adoro o formato de narrativa “passo-a-passo”. Falo das sagas — elas são super memoráveis e o ambiente sonoro é muito específico em cada uma, o que faz com que, ao ouvir, você saiba exatamente em que parte da jornada eles estão quase que imediatamente. Eu gosto que seja algo fácil de ouvir. Não é um musical criado para o palco, então muita coisa que normalmente é encenada é explicada ou narrada — o que torna ainda mais divertido de escutar.

R7 - Como foi trabalhar com o elenco de Epic? Você pode compartilhar algum momento divertido e memorável dos bastidores no processo de gravação?

Anna - Meu Deus, eu amo todas aquelas pessoas. Não há uma única pessoa envolvida em Epic com quem eu tenha tido qualquer experiência negativa. Meu primeiro contato com parte do elenco foi no início de 2023, gravando em Los Angeles. Estavam lá Jorge (Odisseu), claro, JP Warner, Luke Holt (Zeus), Armando Julián (Euríloco) e Talya Sindel (Circe). Eu estava supernervosa porque era a mais jovem e tinha um pouco de medo de não ser tratada como igual, mas foi o total oposto. Fui acolhida de imediato. A coisa mais engraçada que aconteceu dessa viagem, do meu ponto de vista, é que eu não sabia que Talya e Jorge estavam namorando. Acho que fazia poucos meses, então quando vi os dois super carinhosos, pensei: “Será que todo mundo do teatro é assim?”. Fiquei aliviada quando percebi que eles estavam realmente juntos, como um casal. É uma das minhas lembranças favoritas, com certeza.

R7 - E sobre a sua carreira? Você teve algum estudo formal em música ou é autodidata?

Anna - Eu diria que sou mais autodidata. A maior parte do meu aprendizado veio do coral da minha escola, e eu valorizo muito isso. Foi essencial para desenvolver minha voz. Minha professora era bem rigorosa e ela dizia exatamente o que você estava fazendo errado para te ajudar a melhorar. Eu levava tudo o que ela falava muito a sério, para o meu coração. Devo muito a ela. Fiz aulas de canto por um dois meses só para me prepara para uma audição do coral estadual, mas esse foi o único “aprendizado formal” que tive.

R7 - Você já tinha trabalhado em outros projetos de teatro musical antes de Epic?

Anna - Participei de algumas produções, mas nunca nada nessa escala. Agora, tenho várias oportunidades surgindo e mal posso esperar para continuar trabalhando nessa indústria. Eu amo música e estou muito animada para continuar perseguindo meus sonhos.

R7 - Você está trabalhando em alguma música solo ou outros projetos atualmente?

Anna - Sim, não sei o quanto posso contar ainda. Mas, em projetos pessoais, estou nos estágios iniciais da escrita de um pequeno livro de memórias junto com um EP, o qual estou super empolgada. Também comecei uma colaboração com outro integrante do elenco de Epic em um álbum — não quero dar muitos detalhes, mas estamos pensando em algo com uma vibe girl rock e estou muito animada com isso. Fui convidada para participar de outros projetos de dublagem e musicais, o que também me deixa empolgada. Pode demorar um pouco para tudo ser lançado, mas estou radiante com as perspectivas. Também tenho feito apresentações em eventos e casamentos, com agendamentos pelo meu site oficial, o que tem sido um complemento incrível à minha rotina.

R7 - Qual conselho você daria para quem sonha com a vida como artista musical?

Anna - Acho que algo que eu já fui culpada é ter sonhos, mas não fazer nada a respeito deles. Eu dizia “queria tanto estar em teatros musicais”, mas não fazia audição para produções de teatro comunitário. Dizia “queria ser uma artista”, mas não procurava lugares para cantar. Dizia “quero fazer mais música”, mas nunca falava com um produtor. Então, o meu conselho seria: não espere as oportunidades caírem no seu colo. Crie metas possíveis e faça acontecer. Pode demorar, mas enquanto você estiver trabalhando em algo, você não está fracassando.

*Sob supervisão de Arnaldo Pagano, editor do R7

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