Vírus intestinais recém-descobertos podem mudar a forma como entendemos o corpo
Novos bacteriófagos podem transformar pesquisas e terapias do microbioma
Fala Ciência|Do R7

O intestino humano abriga mais do que apenas bactérias: ele também é lar de vírus escondidos dentro desses microrganismos, conhecidos como bacteriófagos.
Pesquisadores descobriram centenas dessas partículas virais, revelando que elas podem desempenhar papéis ativos na saúde intestinal e na forma como o corpo responde a doenças.
Em um estudo pioneiro publicado na Nature, cientistas da Universidade Monash e do Instituto Hudson de Pesquisa Médica desenvolveram um método inovador para cultivar e analisar bactérias intestinais junto com seus vírus residentes. Foram estudadas 252 cepas bacterianas humanas, cultivadas em ambientes livres de oxigênio que reproduzem as condições do intestino.
Como os vírus intestinais “despertam”
Uma das descobertas mais surpreendentes foi que a maioria dos bacteriófagos permanece dormente na maior parte do tempo. Entretanto, compostos liberados pelas próprias células intestinais e certos aditivos alimentares, como a estévia, podem ativar esses vírus. Isso sugere que o corpo humano não apenas abriga, mas também modula a atividade viral no intestino.
Essa ativação viral pode ter impactos diretos na regulação do microbioma, influenciando desde respostas imunológicas até condições como inflamações intestinais crônicas e risco de cânceres ligados ao intestino.
Perspectivas terapêuticas

Além de mapear os vírus, a equipe utilizou técnicas de edição genética para entender por que alguns bacteriófagos permanecem dormentes. Esses insights podem abrir caminho para novos tratamentos, incluindo probióticos customizados capazes de interagir com vírus específicos e estratégias para remodelar o microbioma visando benefícios à saúde.
A possibilidade de cultivar esses vírus em laboratório também permite explorar aplicações em biologia sintética e medicina personalizada, oferecendo um panorama sem precedentes de como vírus, bactérias e células humanas se influenciam mutuamente.
Decodificação da “matéria viral escura”
Este trabalho representa mais de oito anos de pesquisa internacional e fornece um método sólido para estudar o que os cientistas chamam de “matéria viral escura” do intestino, ou seja, vírus que existiam, mas não podiam ser analisados.
A descoberta promete redefinir a compreensão do microbioma, abrindo portas para diagnósticos inovadores e intervenções terapêuticas direcionadas.
