À beira do caos, Haiti prende mais suspeitos de morte do presidente
No total, seis estrangeiros foram detidos e quatro mortos em combate, mas a polícia ainda procura mais envolvidos no assassinato
Internacional|Do R7
A busca pelos assassinos do presidente do Haiti, Jovenel Moise, se acelerou nesta quinta-feira (8), com operações policiais em Porto Príncipe, capital de um país à beira do caos. Lojas, bancos, postos de gasolina e pequenos negócios fecharam as portas em uma cidade em tensão, junto à controvérsia quanto a transição de poder.
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A polícia anunciou ter matado quatro "mercenários" que supostamente eram membros do grupo que atirou em Moise em sua casa na quarta-feira de manhã, além de informar sobre a prisão de seis suspeitos.
Um dos detidos é um cidadão norte-americano, disse à AFP Mathias Pierre, o ministro encarregado dos assuntos eleitorais. Especula-se que quatro outros seriam colombianos, mas ainda não há confirmação das autoridades.
O Departamento de Estado dos EUA, sem confirmar a prisão de um cidadão norte-americano, anunciou nesta quinta-feira que concordou em ajudar a polícia haitiana na investigação.
O chefe da polícia nacional do Haiti, Leon Charles, pediu calma e foi muito vago sobre as operações em andamento.
"Dos bandidos, seis estão nas mãos da polícia e cinco carros foram recuperados. Infelizmente, incendiaram três", apontou a repórteres nesta quinta-feira. "Já temos os autores físicos e estamos procurando os autores intelectuais" do assassinato, acrescentou.
Vários "possíveis perpetradores" do crime "se refugiaram em dois prédios" de Porto Príncipe e "estão cercados pela polícia", afirmou a repórteres em Nova York a enviada da ONU para o Haiti, Helen La Lime.
O aeroporto da capital foi fechado, assim como a fronteira com a República Dominicana, país com o qual o Haiti compartilha a ilha de La Española. Um luto nacional de duas semanas foi decretado.
Nesta quinta-feira, O Ministério Público de Porto Príncipe convocou para depor os responsáveis pela segurança do presidente nos dias 13 e 14 de julho.
No Haiti, todos estão em alerta e tentando entender como o assassinato pode ter ocorrido.
"Onde estavam os policiais bem equipados que vigiam o presidente dia e noite? Por que não reagiram?", questionou Julia, uma advogada de 28 anos.
Diante de uma delegacia de polícia em Petionville, nos arredores de Porto Príncipe, vizinhos elogiaram policiais por terem prendido suspeitos e pediam para linchar os supostos agressores.
O comando era composto por pistoleiros "profissionais" que se passavam por funcionários de uma agência de drogas dos EUA, segundo o embaixador do Haiti nos Estados Unidos.
A comunidade internacional imediatamente levantou sua voz de alarme. O presidente americano, Joe Biden, disse que foi um ato "hediondo".
Enquanto isso, a pedido dos Estados Unidos e do México, o Conselho de Segurança da ONU discutiu a crise haitiana por uma hora a portas fechadas nesta quinta-feira.
Primeira-dama "fora de perigo"
A esposa do presidente, Martine Moise, foi ferida e transferida de avião para Miami. Segundo o primeiro-ministro, ela está fora de perigo e em situação "estável".
A filha do presidente, Jomarlie, estava em casa durante o ataque, mas conseguiu se esconder, disse o juiz Carl Henry Destin ao jornal Le Nouvelliste.
"O escritório e o quarto foram saqueados. Nós o encontramos deitado de costas, calça azul, camisa branca manchada de sangue, boca aberta, olho esquerdo perfurado", descreveu o magistrado.
O assassinato desestabiliza ainda mais o país mais pobre das Américas, que já enfrenta uma profunda crise política e de segurança.
O Departamento de Estado americano pediu que o processo continue para a organização de eleições legislativas e presidencial - programadas, em princípio, para 26 de setembro de 2021, com um segundo turno em 21 de novembro.
Vazio político
Além das perguntas sobre a busca dos autores do atentado, estão aquelas sobre o futuro do país: começando pelo governo.
Dois homens pretendem atualmente liderar o país de 11 milhões de habitantes, metade dos quais com menos de 20 anos.
Uma das últimas decisões políticas de Moise, de 53 anos, foi nomear Ariel Henry como o novo primeiro-ministro na segunda-feira. No entanto, Henry ainda não havia assumido o cargo.
E horas depois do assassinato, foi o primeiro-ministro interino, Claude Joseph, quem impôs o estado de sítio e reforçou os poderes do Poder Executivo. Este último deve durar 15 dias.
"Existem vários primeiros-ministros nomeados no país?", Henry indagou, ao assegurar que Joseph era apenas ministro das Relações Exteriores. A oposição também acusou Joseph de tomar o poder.
Helen La Lime considerou que Joseph representa a autoridade responsável enquanto Henry não havia prestado juramento, aludindo a um artigo da Constituição haitiana que estabelece que, em caso de vacância presidencial, "o Conselho de Ministros, sob a presidência do primeiro-ministro, exerce o poder Executivo até a eleição de outro presidente".
Por sua vez, o defensor dos direitos humanos Gédeon Jean qualificou à AFP o desejo do primeiro-ministro interino de declarar o estado de sítio como "suspeito", e essa suspeita o leva a "prever uma tentativa de golpe de Estado"
O Haiti está mergulhado em uma espiral de violência. Os sequestros praticados por grupos criminosos se tornou rotina.
Moise foi criticado por sua inércia em face da crise e sofria com a desconfiança de grande parte da sociedade civil.
Durante seu mandato, o presidente nomeou sete primeiros-ministros. O último foi Ariel Henry, que deveria tomar posse em breve.
Governando por decreto desde janeiro de 2020, sem Parlamento e com a duração de seu mandato em xeque, Moise implantou uma reforma institucional para reforçar as prerrogativas do Executivo.
Um referendo constitucional deveria ter sido realizado em abril, mas foi adiado para 27 de junho e, mais uma vez, para 26 de setembro.