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Acordo entre Coreias é 'nova queda de muro de Berlim', diz especialista

Kim Jong-un e Moon Jae-in anunciaram tratado para encerrar Guerra da Coreia. Líderes ainda prometeram aliviar tensões militares na península

Internacional|Ana Luísa Vieira, do R7

Kim Jong-un e Moon Jae-in anunciaram tratado de paz
Kim Jong-un e Moon Jae-in anunciaram tratado de paz

O anúncio feito nesta sexta-feira (27) pelos líderes Kim Jong-un e Moon Jae-in de um tratado de paz para encerrar oficialmente a Guerra da Coreia (1950-1953) pode ser encarado como “a nova queda de um muro de Berlim”. É esta a opinião do professor Alexandre Uehara, doutor em Ásia e diretor acadêmico das Faculdades Integradas Rio Branco, de São Paulo.

“Essa divisão existente entre Coreia do Norte e Coreia do Sul é uma das últimas heranças que temos da Guerra Fria. Superamos o muro de Berlim em 1989 e a relação entre EUA e Cuba foi parcialmente retomada recentemente. Continuava o conflito das Coreias — que assinaram um armistício garantindo a trégua entre os dois países em 1953, mas ainda vivem tecnicamente em guerra”, explicou o especialista em entrevista exclusiva ao R7.

Próximos passos

Líderes: 'Coreias vão reconectar as relações de sangue'
Líderes: 'Coreias vão reconectar as relações de sangue'

Em declaração conjunta sobre a reunião ocorrida na Zona Desmilitarizada entre os países, os líderes afirmaram que "as Coreias do Norte e Sul vão reconectar as relações de sangue das pessoas e levar adiante um futuro de coprosperidade e unificação, facilitando avanços compreensivos nas relações intercoreanas".O plano é encerrar oficialmente a guerra até o fim deste ano.


O documento diz ainda que os países vão juntar esforços para "aliviar as tensões militares e praticamente eliminar o perigo de uma guerra na península".

Para Uehara, deve-se agora acompanhar especialmente os próximos passos do líder norte-coreano, Kim Jong-un.


“As próximas etapas dependem muito do Kim Jong-un cumprir o que foi assinado. Eu creio que serão iniciadas muitas discussões daqui em diante, mas somente a partir do cumprimento do que foi discutido é que se pode ter uma perspectiva de melhoria e de estabilidade na região”, diz Uehara.

O professor lembra que, no passado, a Coreia do Norte chegou a negociar o fim de seu programa nuclear em troca de ajuda financeira e energética, mas as conversas fracassaram.


A estratégia de Kim Jong-un

Após um 2017 marcado pela escalada das ameaças do lado norte-coreano, o que pode ter feito Kim Jong-un repensar seu posicionamento são as sanções comerciais e econômicas recentemente impostas pelos EUA e pela China.

“Além disso, ele atingiu o objetivo de desenvolver suas armas nucleares e usá-las como recurso de dissuasão para os outros países não atacarem a Coreia do Norte. Não faria sentido continuar este clima belicista. O ideal neste momento seria realmente caminhar para uma melhoria das relações, até para que ele possa permanecer no próprio cargo”, acrescenta o especialista.

Leia também

Leonardo Paz, professor no Departamento de Relações Internacionais no Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais), concorda — mas minimiza o papel das sanções no processo.

“Dizer que as sanções resolveram isso seria exagero. Elas contribuíram, mas a Coreia do Norte está acostumada a sofrer sanções a história toda, isso não é uma novidade para eles. De qualquer forma, o que aconteceu neste encontro foi inédito e muito mais robusto do que as negociações anteriores. O líder norte-coreano parece bem engajado neste processo de paz e, mais que isso, tem anunciado uma série de medidas neste sentido”, diz.

Suspensão de testes nucleares

No último dia 20, Kim Jong-un anunciou a suspensão dos testes nucleares e com mísseis balísticos de médio alcance e de alcance intercontinental, além do fechamento de um local de testes nucleares no norte de seu país.

Donald Trump elogiou a cúpula em post no Twitter
Donald Trump elogiou a cúpula em post no Twitter

Na opinião de Paz, é importante que Donald Trump, presidente dos EUA, "compre" a nova fase do líder norte-coreano. "Todo esse acordo de paz só funciona se os Estados Unidos não se tornarem beligerantes. Caso contrário, a Coreia do Norte obviamente volta atrás. Os norte-americanos têm bombas nucleares, bases militares e tropas na Coreia do Sul. É interessante observar até que ponto eles vão abrir mão disso a partir de agora", ressalta.

Nesta sexta-feira, Donald Trump elogiou no Twitter a cúpula, mas colocou em dúvida a durabilidade da diplomacia estabelecida. "Após um ano furioso de lançamentos de mísseis e testes nucleares, um encontro histórico entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul está acontecendo agora. Boas coisas estão ocorrendo, mas apenas o tempo dirá", escreveu.

Trump deve se encontrar pessoalmente com Kim Jong-un no próximo mês de junho. 

Probabilidade de reunificação

Entre os objetivos estabelecidos por Kim Jong-un e Moon Jae-in durante o encontro histórico, ganha destaque a reunião das famílias que foram separados pelo conflito, que já dura 65 anos. Uma futura reunificação dos países, entretanto, é ainda bastante improvável, segundo Paz.

"Caso acontecesse, seria muito difícil. A realidade de um lado é muito diferente da de outro — principalmente dos pontos de vista econômico e social. Eu acredito que seria um processo ainda mais complicado que a reunificação da Alemanha, por exemplo. A elite do Partido Comunista, que detém o poder na Coreia do Norte, teria de reencontrar um meio de continuar relevante", conclui o professor.

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