África do Sul celebra 25ª aniversário da eleição democrática no país
Comemoração remonta o momento responsável por sepultar em definitivo a segregação social do apartheid com a vitória de Nelson Mandela
Internacional|Da EFE
Com festas por todo o país e com o pleito do próximo dia 8 de maio no horizonte, a África do Sul comemorou neste sábado o 25ª aniversário das primeiras eleições democráticas do país, responsáveis por sepultar em definitivo a segregação social do apartheid com a vitória de Nelson Mandela.
"Neste dia, 25 anos atrás, fundamos um novo país como sul-africanos. Um país definido pelos princípios de igualdade, de unidade de não racismo e de não sexismo", disse o atual presidente do país, Cyril Ramaphosa, durante o principal evento de comemoração, realizado na cidade de Makhanda, no sudeste do país.
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O pleito de 1994 foi realizado entre os dias 26 e 29 de abril, mas o aniversário é comemorado no dia 27, batizado como "Dia da Liberdade". As eleições marcavam o fim de quatro anos de difícil transição, nos quais milhares de pessoas morreram em protestos, deixando dúvidas se o país não caminharia para uma guerra civil.
Longas filas para votar, com rostos de todas as cores pela primeira vez, e um ambiente majoritariamente festivo afastaram os piores presságios sobre o futuro da África do Sul.
"Isso é, para todos os sul-africanos, uma ocasião inesquecível. É a realização da esperança e do sonho que tivemos durante décadas. Os sonhos de uma África do Sul que representa a todos sul-africanos, o começo de uma nova era", afirmou Mandela no dia 27 de abril daquele ano, após votar pela primeira vez na vida.
Durante quase quatro décadas, o apartheid funcionou como um sistema pensado para manter o status quo da minoria branca que controlava o país, herança da colonização holandesa e britânica.
A segregação condenava a população negra a uma educação de baixa qualidade, a viver amontoadas em guetos. Os negros eram obrigados a entrar em prédios públicos por portas diferentes e a veículos de transporte exclusivos, não os mesmos utilizados pelos brancos.
O apartheid regulava todos os aspectos da vida na África do Sul, inclusive as relações sentimentais interraciais, que eram proibidas. A maioria da população também não podia votar.
Todo o sistema racista caiu em abril de 1994, quando Mandela foi eleito presidente do país com 62,65% de apoio popular.
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"Acredito que os sul-africanos estavam esperando, com razão, um resultado muito tenso e muito violento, provavelmente fracassado", disse em entrevista à Agência Efe o diretor de Comunicação da Fundação Nelson Mandela, Luzuko Koti.
"Estava tudo nas nossas mãos. Se escolhêssemos a paz e um novo caminho para a democracia, conseguiríamos avançar. Mas, se escolhêssemos ficar preso nessa batalha e na destruição, não chegaríamos a um país democrático", continuou Koti, que era um dos milhões dos sul-africanos que votariam pela primeira vez em 1994.
Apesar dos 25 anos, no entanto, a África do Sul ainda está longe de corresponder aos sonhos daqueles que elegeram Mandela.
O país é um dos mais desiguais do mundo, com a pobreza atingindo mais de 50% da população. A corrupção, espalhada por todos os órgãos públicos, especialmente durante a presidência de Jacob Zuma (2009-2018), mina a confiança dos cidadãos nas instituições.
Mesmo sendo o país mais industrializado do continente, a África do Sul não tem conseguido bons resultados econômicos nos últimos anos. O PIB (Produto Interno Bruto) do país avançou apenas 0,8% no ano passado, e a população sofre com a má qualidade dos serviços prestados pelo governo. O desemprego atinge 27% dos sul-africanos.
"Não podemos ser uma nação de pessoas livres quando tantos vivem ainda na pobreza, sem alimentos suficientes, sem um teto apropriado", reconheceu hoje o presidente sul-africano.
Apesar de todos os problemas, o CNA (Congresso Nacional Africano), partido fundado por Mandela, venceu todas as eleições realizadas no país desde a primeira, em 1994.
Tudo indica que Ramaphosa conseguirá se reeleger no próximo dia 8 de maio, dando sequência ao mandato que assumiu após a renúncia de Zuma em fevereiro de 2018, uma exigência do próprio partido devido aos vários escândalos de corrupção envolvendo o ex-presidente.