Albinas viram alpinistas para denunciar perseguição na África
Mariamu Staford é uma das que sofrem com o terror, tendo sido vítima de ataque de nativos que consideram amuletos partes dos corpos dos albinos
Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7, com Reuters
Além de todas as dificuldades sociais em viver na África, a tanzaniana Mariamu Staford, de 38 anos, é uma das centenas que sofreram pelo fato de ser albina no continente.
Em 2008, homens armados com facões invadiram a casa dela no distrito de Lake Tanzania, quando ela estava com seu filho de 2 anos, e lhe arrancaram os braços.
Ela buscou perspectivas de vida, equipando-se com próteses e passando a administrar um negócio de roupas, no qual ela opera uma máquina de tricô. Mas isso não bastou para ela.
Cerca de 10 anos após o ataque, seu objetivo agora é conscientizar o mundo sobre o drama vivido pelos albinos na África
Por isso, ao lado de Jane Waithera, 31, ela irá escalar o Monte Kilimanjaro, ao lado de cinco mulheres albinas, em uma expedição que buscará o topo da monhana de 6 mil metros de altura, no norte da Tanzânia, junto à fronteira com o Quênia.
A equipe, liderada pelo montanhista e cineasta Elia Saikaly, usará as mídias sociais durante a expedição de sete dias, prevista para setembro, para falar sobre os desafios que enfrentam na vida.
Waithera, co-líder da expedição, disse que a subida fornecerá "uma plataforma para ampliar nossas vozes do pico mais alto da África ... como símbolos de resiliência e fortalecimento".
134 albinos assassinados
Segundo o Conselho de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), foram informados 134 assassinatos de albinos nos últimos anos em 25 países da África até 2015. Além desses assassinatos, há outros tantos ataques que mutilam as vítimas. E existem também outros tantos que não são relatados.
Principalmente nas regiões da África Sub-ariana, cuja população de albinos é estimada em 15 mil pessoas, em países como Tanzânia e República do Malawi, crenças locais consideram amuletos partes dos corpos de albinos.
Em ataques violentos, eles são mortos ou mutilados para a retirada do que é considerado um símbolo de sorte e saúde. Estima-se que partes dos corpos de albinos chegam a ser negociadas por mais de 70 mil dólares.
Segundo Waithera, a violência sexual também é uma das práticas das quais as mulheres albinas são vítimas. Há o mito de que o sexo com com uma mulher com albinismo possibilita a cura do HIV/AIDS.
Waithera relata o abandono de muitas crianças albinas, pouco depois que elas nascem.
"A maior barreira, claro, é o estigma que começa desde o dia em que você nasceu."
Isso, inclusive, ocorreu com ela, que foi abandonada por sua mãe quando bebê e intimidada quando criança.
Cegas por conta do albinismo
Todas as participantes da expedição são cegas, tendo perdido a visão como consequência do albinismo, um problema genético que interfere na produção de melanina, responsável pela pigmentação da pele, do cabelo e dos olhos. Cada uma delas será acompanhada por um guia e usará proteção especial para os olhos.
Além da perda da visão, outra consequência pode ser o câncer de pele.
Mas, pensando de forma otimista, Waithera dá a entender que iniciativas como esta têm grandes chances de sucesso, principalmente em função das redes sociais.
"Precisamos deixar a sociedade saber que não há diferença entre nós e eles. Acho que vamos realmente mudar a mentalidade. Já estava na hora."