Americano revelou aflições em diário antes de ser morto por índios
John Chau foi atacado com flechas ao tentar contato com uma tribo isolada na Índia. Em notas, ele fala sobre 'decepção' e 'medo de morrer'
Internacional|Ana Luísa Vieira, do R7
John Chau, o americano de 26 anos que morreu ao tentar contato com uma tribo isolada na Índia, ofereceu peixes e outros pequenos presentes aos indígenas em uma primeira tentativa de aproximação, antes de ser atacado a flechadas e enterrado na praia. É o que revelam trechos de um diário e emails publicados pelo jornal americano The Washington Post na última semana.
Os registros de Chau foram entregues à mídia por sua mãe. Nos escritos, o americano conta que foi recebido na ilha Sentinela do Norte — que é proibida para visitantes — por homens com aproximadamente 1,65 m de altura cujos rostos estavam pintados com uma “pasta amarela”. Eles teriam reagido com agressividade enquanto Chau tentava falar sua língua e cantar “músicas de louvor”.
Leia também
O homem que sobreviveu a contato com tribo isolada que matou o americano John Chau: 'Estava claro que eu não era bem-vindo'
Por que é quase impossível recuperar o corpo de John Chau, americano morto ao tentar fazer contato com tribo isolada
Um povo e sua ilha: quem são os humanos mais isolados do planeta
Acompanhe o noticiário internacional no R7
Acredita-se que os sentineleses — como são chamados os membros da tribo que vivem no local — têm sua origem em uma migração originada na África há 60 mil anos. Desde sempre, eles são hostis aos grupos de fora que tentam se aproximar e a língua que falam sequer é catalogada.
John Chau era um missionário cristão e pretendia falar sobre Deus aos índios. A mídia indiana afirma que ele teria subornado pescadores para levá-lo ilegalmente até a praia.
"Devem me achar louco"
O americano revela que, ao chegar à faixa de areia, disse: “Meu nome é John, eu amo vocês e Jesus ama vocês”. Um dos jovens que estava no local teria atirado uma flecha que atingiu a Bíblia de Chau. “Vocês devem me achar louco, mas eu realmente acho que vale a pena pregar para essas pessoas”, apontou o missionário em carta a seus familiares.
Em outro trecho de seu diário, o americano relata que da primeira vez que tentou se aproximar da ilha, levou peixes para dar de presente aos índios — ainda assim, a tribo avançou contra ele. “Senti medo, mas principalmente decepção. Eles não me aceitaram em um primeiro momento.”
Nesta ocasião, ele retornou ao barco de pescadores que o esperavam remando em um caiaque. Alguns dias depois, ele tentaria de novo o contato com a tribo.
Medo da morte
Na última das notas enviadas à sua família, em 16 de novembro, Chau parece confessar o maior de seus medos. “Deus, eu não quero morrer.”
No dia seguinte, os pescadores viram a tribo enterrando o corpo do missionário na areia da praia, segundo informou um colega em um e-mail à mãe do missionário, Lynda Adams-Chau.
O governo indiano tenta agora recuperar o corpo de Chau sem ameaçar a cultura dos aborígenes, como manda a lei. Uma unidade de polícia foi enviada à ilha remota, mas os oficiais pararam o barco a cerca de 400 metros da costa ao avistarem homens armados com arcos e flechas.