Análise: utilização de ativos russos criaria precedente para captura de verbas europeias

A Rússia descreveu como “apreensão ilegal de propriedade” a proposta da União Europeia de utilizar ativos russos congelados como empréstimo para a reconstrução da Ucrânia e alertou, nesta quinta-feira (23), que pode retaliar caso as discussões avancem. Alguns países do bloco ainda sugerem gastar os fundos em armas fabricadas na Europa, de modo a impulsionar as indústrias de defesa locais.

Já Kiev — segundo funcionários ouvidos pela Reuters — afirma que qualquer condição imposta elimina o princípio da Justiça, e pede autonomia para direcionar os gastos, inclusive na compra de equipamentos de outros locais. O valor do empréstimo discutido equivale a mais de R$ 870 milhões.

Em entrevista ao Conexão Record News, o analista internacional Vladimir Feijó pondera que dar a liberdade para que a Ucrânia gaste os ativos sem ser fiscalizada, implica no perigo de perda e má utilização do dinheiro. Segundo o especialista “existe grande risco de corrupção” em relação à reconstrução e à indenização das vítimas: “Já há muitas dessas acusações internas e internacionais com ajudas do passado, quanto mais se os volumes fossem ainda maiores”.

A reticência dos próprios europeus, para Feijó, se dá justamente pelos precedentes que a medida abriria para a utilização de capitais alocados em outros países. “Essa utilização de ativos pode até resolver esse problema imediato de custear a expansão do parque industrial europeu e de dar a Ucrânia mais armas, mas ele vai deixar um legado jurídico e político por muitos anos”, ressalta.

Segundo o especialista, o bloco é assessorado acerca dos impactos da medida a longo prazo. “Muitas empresas europeias possuem capitais em outros países e, eventualmente, qualquer captura dessas verbas, em um golpe de estado ou um governo autoritário, reduziria muita legitimidade desses pleitearem a devolução da verba, já que os seus países teriam o feito agora em relação à Rússia”, conclui.

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