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Após sapatada em Bush, iraquiano agora quer 'processar outros líderes'

Muntazer Al-Zaidi atirou calçados contra presidente americano em 2008. Agora, concorre em eleições no Iraque e quer processar envolvidos em guerra 

Internacional|Ana Luísa Vieira, do R7

Al-Zaidi concorre ao Parlamento iraquiano
Al-Zaidi concorre ao Parlamento iraquiano

A cena se tornou mundialmente conhecida: em uma coletiva de imprensa em Bagdá, no Iraque, em 2008, o então presidente americano George W. Bush é surpreendido pelo lançamento de um sapato em sua direção. Mal desvia do arremesso e um segundo calçado quase o atinge na cabeça.

À época, o autor do ‘ataque’ — o jornalista iraquiano Muntazer Al-Zaidi — foi detido e condenado a três anos de prisão por agressão contra um chefe de Estado estrangeiro. Hoje, é candidato a um assento na Casa dos Representantes do Iraque — que será palco de eleições parlamentares no próximo dia 12.

Em entrevista exclusiva ao R7, Al-Zaidi confirma que agiu em protesto contra a ocupação americana no Iraque e conta quais são suas principais propostas como candidato.

— Pelas crianças que perderam seus pais e mulheres que perderam seus maridos na guerra iniciada pela ocupação dos Estados Unidos no Iraque, eu pretendo processar todos os líderes mundiais que apoiaram Bush na invasão de meu país. Tony Blair — que era primeiro-ministro do Reino Unido —, John Howard, da Austrália, Silvio Berlusconi, da Itália, José María Aznar, que foi presidente da Espanha... todos eles.


Veja o momento em que o iraquiano atirou os sapatos contra o presidente dos EUA

Guerra e consequências


Em 2003, a ocupação militar liderada pelos EUA no território iraquiano se deu sob o pretexto de que o então presidente Saddam Hussein mantinha armas de destruição em massa que ameaçavam a paz mundial. A intervenção, marcada por campanhas de bombardeamento aéreo, culminou na Guerra do Iraque e na deposição e execução de Hussein. Críticos internacionais afirmam, entretanto, que a invasão ordenada por Bush trouxe um grande número de vítimas civis e danos estruturais sem provar, de fato, a existência de um arsenal químico em território iraquiano.

Na opinião de Al-Zaidi, a ocupação trouxe ainda consequências drásticas para o sistema político do país — cuja lacuna no poder após a queda de Saddam Hussein teria levado ao surgimento de partidos políticos corruptos e ao fortalecimento de organizações religiosas extremistas, como a Al-Qaeda. Em seus anúncios de campanha, o jornalista promete "varrer a corrupção" em seu país.


— A ocupação nos deixou com uma Constituição que não representa os iraquianos e trouxe uma administração corrupta. A situação financeira das pessoas hoje é ruim, a educação é precária e há milhares de crianças trabalhando nas ruas. Temos ainda mais de cinco milhões de órfãos e um milhão de viúvas da guerra.

Ajuda para órfãos e viúvas

Fundação ajuda órfãos e viúvas da guerra no Iraque
Fundação ajuda órfãos e viúvas da guerra no Iraque

Depois de jogar seus sapatos em Bush e cumprir pouco menos de um terço de sua pena por boa conduta, Al-Zaidi se refugiou no Líbano por temer por sua segurança. Voltou ao Iraque em 2011 e iniciou a Fundação Al-Zaidi — cujo objetivo é "encontrar uma atmosfera segura para crianças que perderam seus pais durante a ocupação americana no Iraque", além de ajudar as "mulheres que perderam seus maridos em guerras".

— Ajudo pessoas deslocadas pela guerra a encontrar novos lugares para morar, as viúvas a ter novos lares e as crianças a achar escolas. Tenho ainda uma casa para arrecadações em Bagdá, para onde as pessoas podem levar roupas e comida para as crianças.

As eleições parlamentares marcadas para 12 de maio no Iraque devem determinar os 329 membros da Casa dos Representantes. Caso consiga um assento, Muntazer Al-Zaidi ajudará na escolha dos futuros primeiro-ministro e presidente de seu país.

— Um dos grandes desafios que o Iraque enfrenta hoje é a falta de apoio aos partidos independentes de religiões extremistas, que ameaçam a nossa segurança. Desta forma, pretendo apoiar qualquer candidato que não seja de um partido religioso. 

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