Ataque de grupo ligado ao Estado Islâmico contra escola em Uganda deixa dezenas de mortos
Há, até o momento, a confirmação de 37 mortes, além de 8 pessoas internadas em estado grave, segundo informações do Exército
Internacional|Do R7, com agências internacionais
Pelo menos 37 pessoas, a maioria estudantes, morreram num ataque de um grupo rebelde vinculado à organização jihadista Estado Islâmico contra uma escola de ensino médio no oeste de Uganda, muito perto da fronteira com a República Democrática do Congo (RDC).
O ataque foi levado a cabo pelas Forças Democráticas Aliadas (ADF), que tem ligação com o grupo Estado Islâmico (EI).
"Infelizmente, 37 corpos foram encontrados e levados para o necrotério do hospital da cidade de Bwera", disse em comunicado neste sábado (17) o porta-voz do Exército, o general de brigada Felix Kulayigye. Perguntado pela agência internacional de notícias EFE se todas essas vítimas eram estudantes, o porta-voz respondeu, por telefone, com um conciso “sim”, sem dar mais explicações.
O "ataque terrorista" ocorreu na escola Lhubirira, na cidade de Mpondwe, a cerca de 2 quilômetros da fronteira com a República Democrática do Congo (RDC), segundo afirmou a polícia ugandense em comunicado divulgado anteriormente em sua conta no Twitter.
"Um dormitório foi incendiado e uma loja de alimentos foi saqueada", disseram as autoridades policiais, acrescentando que "também foram resgatadas com vida outras oito vítimas, que permanecem em estado crítico no hospital de Bwera".
A polícia declarou ainda que, juntamente com o Exército de Uganda, iniciou uma "intensa perseguição" aos agressores em direção ao parque nacional de Virunga, na RDC. Em seu comunicado, Kulayigye detalhou que o ataque ocorreu às 23h30 de ontem (horário local, 17h30 de Brasília), que três pessoas foram resgatadas com vida (além dos oito hospitalizados em estado grave) e que os agressores sequestraram seis pessoas.
Dormitório dos estudantes
O general Dick Olum disse à AFP que, de acordo com as informações coletadas, os milicianos estavam na área havia pelo menos dois dias. Ele alegou que os agressores tinham informações detalhadas sobre a escola. "Eles sabiam onde ficavam os dormitórios masculino e feminino", disse Olum.
"Os rebeldes trancaram o quarto dos meninos com chave e atearam fogo. A seção das meninas não estava trancada, então elas conseguiram fugir, mas quando o fizeram, algumas foram atacadas com facões e outras baleadas", explicou o militar.
Segundo ele, alguns dos corpos estão tão carbonizados que serão necessários exames de DNA para identificá-los.
O general Olum especificou que solicitou reforços e aviões para resgatar os reféns e localizar os esconderijos dos rebeldes.
"As informações da inteligência revelaram que este ataque foi cometido por supostos membros dos rebeldes das ADF, que estavam em cerca de cinco", declarou o general de brigada. O jornal estatal ugandense New Vision estimou o número de mortos em 42, sem especificar suas fontes, dos quais 39 seriam estudantes, além de 2 residentes e um segurança.
"Os rebeldes perguntaram sobre os muçulmanos entre os estudantes, mas não havia nenhum", relatou ao jornal a estudante Mumbere Bright, que sobreviveu ao ataque no dormitório se escondendo entre os corpos de outros estudantes mortos. "Os rebeldes disseram que não matam companheiros crentes. Eles mataram todos os estudantes à vista usando facões, machados e objetos pontiagudos", acrescentou Bright.
Em uma mensagem no Twitter, o governo de Uganda transmitiu suas "mais profundas condolências às famílias e entes queridos dos falecidos que foram brutalmente atacados e mortos por rebeldes das ADF" em um "ato de violência sem sentido".
Forças Democráticas Aliadas
A milícia ADF começou como um grupo insurgente em Uganda, de maioria muçulmana, e se estabeleceu no leste da RDC em meados da década de 1990. De lá para cá, foi acusada de matar milhares de civis.
Em 2019, eles juraram lealdade ao grupo Estado Islâmico, que apresenta os combatentes do ADF como um ramo local na África Central. Eles são acusados de ataques jihadistas na RDC e em solo ugandense.
O ataque deste fim de semana não é o primeiro a uma escola em Uganda atribuído à ADF.
Em junho de 1998, 80 estudantes foram queimados vivos em seus dormitórios durante um ataque da ADF ao Instituto Técnico de Kichwamba, perto da fronteira com a RDC. Mais de 100 estudantes foram sequestrados.
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Uganda e a República Democrática do Congo lançaram uma ofensiva conjunta em 2021 para expulsar a ADF de seus redutos congoleses, mas até agora essas operações não conseguiram impedir os ataques do grupo.
Os Estados Unidos anunciaram no início de março que ofereceriam uma recompensa de até 5 milhões de dólares (R$ 24 milhões na cotação atual) por qualquer informação que pudesse levar a seu líder, um ugandense de 40 anos chamado Musa Baluku.
De acordo com o Barômetro de Segurança do Kivu (KST), as ADF são responsáveis por pelo menos 3.850 mortes em 730 ataques à República Democrática do Congo desde 2017.
Além disso, as autoridades de Uganda acusaram o grupo de organizar ataques dentro de seu território, incluindo dois atentados suicidas em Kampala em novembro de 2021 e assassinatos de funcionários de alto escalão do governo.
Para pôr fim às ADF, os Exércitos do Congo e de Uganda iniciaram uma operação militar conjunta em solo congolês em novembro de 2021, que ainda está em curso, embora os ataques rebeldes não tenham cessado.
Desde 1998, o leste da República Democrática do Congo está imerso em um conflito alimentado por milícias rebeldes e pelo Exército, apesar da presença de uma missão da ONU (Monusco), com cerca de 16 mil militares no terreno.
*Com informações da AFP e da EFE