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Ataques a refinarias: 7 pontos para entender tensão no Oriente Médio

Bombardeios com drones a petrolíferas da Arábia Saudita foram reivindicados por rebeldes do Iêmen. Instabilidade entre países remonta à Primavera Árabe

Internacional|Ana Luísa Vieira, do R7

Fumaça em instalação da petrolífera Aramco em Abqaiq, na Arábia Saudita
Fumaça em instalação da petrolífera Aramco em Abqaiq, na Arábia Saudita Fumaça em instalação da petrolífera Aramco em Abqaiq, na Arábia Saudita

A escalada de tensão no Oriente Médio, impulsionada pelos ataques de drones a duas das principais instalações petrolíferas da Arábia Saudita no último sábado (14), ganhou as manchetes no início desta semana. Pudera: os atentados provocaram uma redução de 5% na produção internacional de petróleo e o preço do barril disparou nos mercados mundo afora.

Por ora, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, autorizou o uso do estoque emergencial de petróleo dos Estados Unidos para garantir um suprimento estável à economia global. Especialistas ouvidos pelo R7, entretanto, ressaltam que o que está em jogo no Oriente Médio vai muito além dos valores de combustível.

1. Tensão entre países e Primavera Árabe

Os ataques contra as refinarias de petróleo foram reivindicados por rebeldes houthis do Iêmen — com quem a Arábia Saudita, ao lado de países como Estados Unidos e Emirados Árabes Unidos, está em guerra desde 2015.

O início desse conflito remonta à Primavera Árabe, quando a queda do então presidente iemenita Ali Abdullah Saleh e de seu vice, resultou na ascensão dos houthis — que passaram a controlar a capital e parte do sul e sudeste do país.

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“Os houthis são xiitas [ou, seja têm uma determinada visão do Islã] e a Arábia Saudita, vizinha do Iêmen, tem maioria sunita [representa outra visão do islamismo]”, explica Arnaldo Francisco Cardoso, professor de Relações Internacionais da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

“Com medo da ameaça xiita, o governo saudita já se mostrou disposto a usar de forças bastante violentas contra seus inimigos. No Iêmen, bombardearam hospitais, escolas, crianças, mulheres — o que tem sido alvo de críticas em todos os fóruns internacionais. Os rebeldes iemenitas, por sua vez, costumam atacar alvos do governo e da economia da Arábia Saudita”, completa o professor.

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2. A disputa entre Irã e Arábia Saudita

Fora os rebeldes do Iêmen, o grande inimigo da Arábia Saudita na região é o Irã — cujo governo xiita é apoiador dos houthis iemenitas.

Gunther Rudzit, coordenador do Núcleo de Estudos e Negócios do Oriente Médio da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), lembra que, no Oriente Médio, existe um embate entre Irã e Arábia Saudita pela liderança regional.

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“O apoio aos houthis é uma espécie de troco dos iranianos pelo apoio da Arábia Saudita à oposição de Bashar al-Assad na Síria — que resultou, entre outras coisas, no fortalecimento de organizações radicais que comprometem a estabilidade de toda a região, como o Estado Islâmico”, explica.

“Nesse sentido, há indícios de que o Irã tenha fornecido equipamento militar, armas e até assessores para que os houthis derrubem o governo e lutem contra o Exército da Arábia Saudita”, completa Rudzit.

3. O suposto envolvimento de Teerã

Embora o governo dos Estados Unidos aponte que o Irã é um dos grandes responsáveis pelos ataques com drones no último sábado, o governo de Teerã nega veementemente as acusações.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Abbas Mousavi, falando à TV estatal, considerou a alegação de Washington “sem sentido” — mas, para Gunther Rudzit, é fato que os houthis “não têm capacidade tecnológica e financeira” para liderar um atentado de tamanha sofisticação.

4. O interesse dos Estados Unidos

No Oriente Médio, o interesse dos Estados Unidos é, principalmente, de ordem econômica.

“A Arábia Saudita é um fortíssimo cliente da indústria armamentista norte-americana. Tanto que, logo após sua eleição, Donald Trump fez uma viagem ao país. Além disso, o governo saudita é um grande fornecedor de petróleo para os Estados Unidos. São parceiros comerciais importantes”, acrescenta Arnaldo Cardoso, do Mackenzie.

5. As intenções do governo iraniano

É importante considerar ainda os interesses do Irã em atrair Washington novamente à mesa de negociações. O país do Oriente Médio sofre com as sanções impostas pelos Estados Unidos depois que Donald Trump se retirou do pacto nuclear assinado em 2015.

“A inflação no Irã está alta, o desemprego cresceu e existe uma desvalorização da moeda local. O ataque de sábado seria uma forma dos iranianos mostrarem aos Estados Unidos que, no atual curso das sanções norte americanas, Teerã consegue causar estragos importantes à economia dos aliados de Washington”, detalha Gunther Rudzit.

6. O inimigo mora em casa?

Antes dos ataques, o príncipe saudita Mohammad bin Salman planejava uma grande oferta pública de ações de uma das petrolíferas afetadas — a Aramco — e já até promovia mudanças no alto escalão da empresa. As medidas, entretanto, não agradariam 100% da família real.

“Muitos membros da família real acreditam ser preciso ter uma gerência mais profissionalizada da empresa. E seria uma ocidentalização muito grande do maior potencial econômico da Arábia Saudita. Há quem considere que os atentados podem ter sido uma operação interna para atrasar o processo”, lembra o especialista da ESPM.

Rudzit reforça também que, nas últimas semanas, os Estados Unidos acenaram com certa diplomacia ao Irã após conversas na cúpula do G7. “Isso não agradaria ao príncipe e, ainda que seja difícil, os atentados poderiam ser uma tentativa do governo saudita de atrapalhar ou impedir qualquer conversa”, conta.

7. A possibilidade de um confronto aberto

Apesar do acirramento das tensões no Oriente Médio, é consenso entre os especialistas ouvidos pelo R7 que os recentes episódios não devem evoluir para uma guerra aberta. “Os atentados de sábado mostraram que, embora venha atacando o Iêmen há cinco anos, a Arábia Saudita continua vulnerável. Os rebeldes, depois de assumirem a autoria, ainda disseram que podem fazer mais”, resume Arnaldo Cardoso.

Gunther Rudzit reforça o coro: “O momento agora é de esperar qual vai ser a reação do príncipe Mohammad bin Salman, mas acredito que também não interessa para ele uma guerra aberta. Porque se este foi, de fato, um ataque direto ou indireto dos iranianos, houve uma tremenda falha das defesas antiaéreas da Arábia Saudita.”

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