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Atenção dos EUA para guerra na Ucrânia abre espaço para influência da China na América Latina

Cúpula das Américas foi um indicativo que a relação de alguns países do continente com governo americano não é mais a mesma

Internacional|Letícia Sepúlveda, do R7

Presidente da China, Xi Jinping, em um encontro com o presidente dos EUA, Joe Biden
Presidente da China, Xi Jinping, em um encontro com o presidente dos EUA, Joe Biden

A China tornou-se o principal parceiro comercial da América Latina nos últimos anos com grandes investimentos em vários setores econômicos, o que contribui para o aumento de sua influência na região.

O país asiático tem cada vez mais a economia voltada para o exterior e compete em muitos setores com outras grandes potências. Além disso, consegue se projetar para o mundo todo por meio de suas empresas de tecnologia que vão de redes sociais e smartphones de ponta até a rede 5G, a quinta geração da internet móvel de alta velocidade e que está em fase de implantação em vários países. 

Historicamente muito ligados à política dos Estados Unidos, os países latinoamericanos agora estreitam cada vez mais seus laços com o governo chinês, enquanto a Casa Branca volta seus olhos para a Rússia e para a Ucrânia, diante das tensões da guerra, e para a Europa, com as questões envolvendo a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

A professora do curso de relações internacionais da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Alana Camoça acredita que a América Latina é um espaço de disputa entre a China e os Estados Unidos.


“Desde o governo do George Bush filho (2001-2008), a política externa dos EUA se voltou para o Oriente Médio, o que gerou um vácuo político na América Latina e acelerou a ascensão da China na região. A atenção americana para os latino-americanos só voltou a partir do governo Obama (2009-2017)”, afirma Alana.

O professor do curso de relações internacionais da ESPM Ricardo Leães completa: “Os EUA deixam a América Latina de lado e só voltam a olhar para nós quando percebem que há realmente um risco de perda de influência. Isso ocorreu nos anos 2000 com a guerra do Iraque e acontece de novo agora, com suas preocupações focadas na guerra na Ucrânia."


Cúpula das Américas

A Cúpula das Américas, realizada na cidade americana de Los Angeles na última semana, foi um indicativo que a relação entre os EUA e muitos países do continente não é mais a mesma.

O presidente Joe Biden decidiu às vésperas da abertura que não convidaria para o encontro representantes de Cuba, Venezuela e Nicarágua, situação que gerou o descontentamento de outros líderes convidados.


O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, comunicou que não compareceria à cúpula por discordar da postura adotada pela Casa Branca. Pelo mesmo motivo, Bolívia e Honduras também anunciaram que boicotariam o evento.

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Em discurso, o presidente argentino, Alberto Fernández, disse que ser anfitrião do evento não permite ao país excluir participantes, e o primeiro-ministro de Belize chamou a atitude do governo Biden de “imperdoável”.

Presidente dos EUA, Joe Biden, durante o discurso de abertura da Cúpula das Américas
Presidente dos EUA, Joe Biden, durante o discurso de abertura da Cúpula das Américas

“Venezuela, Cuba e Nicarágua além de enxergarem a China como uma parceira política importante, têm desavenças históricas com os Estados Unidos, o que contribui para o avanço da influência chinesa", explica a professora Alana.

Para a especialista, os Estados Unidos tentam estreitar os laços com a América Latina por meio de cúpulas internacionais e encontros entre líderes. Washington também deverá prestar mais atenção na Colômbia e no Brasil devido às eleições presidenciais deste ano, que podem influenciar a parceria comercial e política entre os governos.

Relações comerciais

Os dados do Ministérido da Economia mostram que a China supera os Estados Unidos em valores de exportação e importação tanto nos primeiros meses de 2022 quanto no comparativo com o mesmo período de 2021. As exportações brasileiras para o país asiático são mais que o dobro do que foi vendido ao mercado americano no mês de maio.

As exportações do Brasil para a China, Hong Kong e Macau no mês de Maio totalizaram 8,53 bilhões de dólares. Já as importações chegaram a 4,67 bilhões de dólares. No período de Janeiro a Maio deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado, as vendas aumentaram 1,4% e atingiram 38,13 bilhões de dólares e as importações cresceram 29,8% e totalizaram 23,62 bilhões de dólares.

Por outro lado, as exportação brasileiras para os Estados Unidos no mês de maio somaram 3,09 bilhões de dólares as importações chegaram a 4,88 bilhões de dólares. No acumulado de janeiro até maio deste ano, em relação ao mesmo período de 2021, as exportações para os Estados Unidos atingiram o valor de 13,60 bilhões de dólares e as importações totalizaram 20,67 bilhões de dólares.

A maior economia do mundo

Presidente da China, Xi Jinping
Presidente da China, Xi Jinping

Uma estimativa da Bloomberg publicada em fevereiro deste ano aponta que a China deve ultrapassar os EUA e se tornar a maior economia do mundo em cerca de uma década, mas também indica que o resultado está longe de ser garantido.

“Ainda que a China se torne a maior economia do mundo, em termos de influência os EUA ainda têm outras esferas de poder muito significativas, como o ponto de vista político

e cultural, além do poder militar, posição que os chineses ainda estão muito distantes”, aponta Camoça.

Para Leães, “a influência de um país sobre o outro não se dá apenas por questões comerciais. Mesmo que haja a expansão da China em termos econômicos, ainda existe o desafio de expandir essa influência em outras áreas que são importantes, para que um país consiga se consolidar de fato como uma grande potência.”

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