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Biden e presidente do México discordam sobre crise migratória durante reunião

López Obrador afirmou que os EUA desdenham da América Latina; presidente americano destacou que gasta bilhões com a região

Internacional|Do R7

Presidente dos EUA, Joe Biden, e o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador
Presidente dos EUA, Joe Biden, e o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador

Divergências entre Estados Unidos e México sobre a crise migratória afloraram na segunda-feira (9), durante reunião entre os presidentes Joe Biden e Andrés Manuel López Obrador (AMLO), quando o mexicano denunciou "o desdém" do vizinho pela região.

Diante de Biden, no palácio presidencial da Cidade do México, López Obrador disse que “é o momento de acabar com esse esquecimento, esse abandono, esse desdém pela América Latina e o Caribe contrário à política de boa vizinhança desse titã da liberdade que foi o presidente Franklin Delano Roosevelt" (1933-1945).

"Presidente Biden, você tem a chave para abrir e melhorar substancialmente as relações entre todos os países do continente americano", assinalou o presidente de esquerda, junto aos funcionários do mais alto escalão de ambos os governos.

Em seu discurso após esse chamado, Biden respondeu, fixando o olhar no mexicano, que seu país "gastou bilhões de dólares" no hemisfério ocidental apenas nos últimos 15 anos, e que atender a várias frentes ao redor do mundo. "Infelizmente, nossa responsabilidade simplesmente não termina no hemisfério ocidental", enfatizou Biden, observando que "os Estados Unidos fornecem mais ajuda externa do que qualquer outro país".


López Obrador havia antecipado mais cedo que apresentaria a Biden a necessidade de aumentar o investimento nos países de origem das pessoas sem documentos. “Sei que é uma iniciativa complexa, polêmica, e estou ciente de que sua implementação envolve muitas dificuldades, mas, a meu ver, não existe caminho melhor para garantir o futuro próspero, pacífico e justo que nossos povos merecem”, afirmou.

Problema para o México

Biden não deve anunciar novas medidas, depois do programa lançado na última quinta-feira, que permitirá a entrada mensal de 30 mil venezuelanos, cubanos, nicaraguenses e haitianos por dois anos. Esse plano foi acertado com o México.


"Ao final desta reunião de cúpula, não teremos um novo acordo", afirmou o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, que acompanha Biden. No entanto, "não há razão para acreditar que não haverá um terceiro passo em algum momento", acrescentou, referindo-se a outra medida que beneficia venezuelanos.

Depois de sua chegada ao México, Biden destacou no Twitter que "os problemas na fronteira não serão resolvidos da noite para o dia".


O presidente disse que seu governo usa as ferramentas disponíveis para "limitar a migração ilegal" e "ampliar a legalidade", mas destacou que, para recompor este sistema "quebrado", o Congresso americano "deve atuar".

Biden e AMLO participarão nesta terça-feira (10) da Reunião de Cúpula da América do Norte juntamente com o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, que chegou à capital mexicana na segunda-feira.

Os três líderes condenaram "os ataques à democracia" no Brasil, após a invasão de ontem às sedes dos poderes públicos nacionais por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, segundo um comunicado conjunto.

Antes de sua chegada ao palácio, o presidente dos Estados Unidos conversou por telefone com o colega Luiz Inácio Lula da Silva, a quem expressou seu "apoio inabalável" e convidou para a Casa Branca em fevereiro, após os ataques realizados ontem por opositores às sedes dos poderes públicos em Brasília. AMLO e Trudeau também condenaram esses atos.

Cooperação maior

As cerca de 2,3 milhões de prisões e expulsões de migrantes em condição clandestina no ano fiscal de 2022, as 108 mil mortes por overdose de drogas em 2021, assim como a migração e o narcotráfico, estarão no centro do encontro de Biden com o presidente mexicano.

"Há muitas crianças separadas de suas famílias", denunciou, no domingo, em Ciudad Juárez, o venezuelano José David Meléndez, de 25 anos, expulso enquanto o presidente visitava a vizinha El Paso, no Texas.

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O democrata visitou El Paso antes de voar para o México, em um gesto aos seus adversários, que o criticam por não ter pisado na fronteira de 3.100 km em dois anos de governo. O presidente constatou os problemas migratórios e de narcotráfico na zona limítrofe e irá transmitir suas impressões a AMLO, indicou Jake Sullivan. "Conversará com ele sobre como Estados Unidos e México podem cooperar de forma mais eficaz" no âmbito policial, acrescentou.

As restrições à imigração fazem com que milhares de viajantes fiquem presos no México, especialmente devido ao Título 42, uma medida anticovid que autoriza a expulsão expressa de imigrantes ilegais.

"O México é particularmente relevante quando se trata de lidar com os dois graves problemas, que se tornaram vulnerabilidades políticas para Biden", disse o presidente do "think tank" Inter-American Dialogue, Michael Shifter, à AFP.

"É esperado que o presidente (americano) pressione por uma maior cooperação" em ambas as frentes e que AMLO exija algo em troca, possivelmente, "menos pressão" sobre questões comerciais, afirmou Shifter.

Washington e Canadá mantêm uma disputa com o México, no âmbito do acordo comercial USMCA, sobre uma reforma energética que ampliou a participação do Estado no setor.

'Praga'

Biden também manifestou sua preocupação com o fentanil, uma droga sintética 50 vezes mais potente que a heroína, fabricada e traficada por cartéis mexicanos com componentes químicos da China.

O presidente americano denunciou "a praga do fentanil, que já matou 100 mil americanos", e mencionou o desafio de enfrentar essa ameaça de forma conjunta.

Quase dois terços das 108 mil mortes por overdose nos EUA em 2021 envolveram opioides sintéticos. A quantidade de fentanil apreendida somente em 2022 seria mais do que suficiente para matar toda população dos Estados Unidos, diz a agência.

Em 2021, os dois países anunciaram uma mudança em suas políticas antidrogas para focar nas causas do narcotráfico, após 15 anos de uma estratégia com ênfase na participação ativa das forças militares. Desde seu lançamento em 2006, o México acumula cerca de 340 mil assassinatos e milhares de desaparecidos, sem que os cartéis tenham perdido força.

Durante a reunião, também foi discutido o tráfico de armas, no momento em que o México move duas ações contra fabricantes americanas.

Especialistas em segurança veem um esfriamento da cooperação no âmbito da política de "abraços, não tiros", de López Obrador, que contrasta com operações como a captura, na quinta-feira passada, em Culiacán, de Olívio Guzmán, filho de Joaquín "Chapo" Guzmán, condenado à prisão perpétua nos Estados Unidos.

Com a presença do enviado especial para o clima, John Kerry, o aquecimento global também estará na pauta.

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