Bloqueios e acusações contra oposição elevam tensão na Bolívia
Há oito dias o país tem suas principais vias de acesso a grandes cidades interrompidas por protestos que exigem novas eleições o quanto antes
Internacional|Do R7
Após oito dias de bloqueios de estradas e protestos contra o adiamento da data das eleições na Bolívia, o governo interino aceitou uma denúncia contra o executivo da COB (Central Obrera Boliviana), Juan Carlos Huarachi; o ex-presidente Evo Morales e os candidatos do MAS, Luis Arce e David Choquehuanca
De acordo com o governo, eles irão responder pela morte de pessoas por falta de oxigênio em consequência dos bloqueios que afetam as estradas. Eles serão investigados por suposto crimes de terrorismo, genocídio, crimes contra a saúde pública e outros.
Ainda nesta segunda-feira (10), as Forças Armadas e a Polícia boliviana desde atuam na vigilância do pessoal de saúde e no transporte de material médico, além de reforçar a proteção das instituições públicas, frente às manifestações geradas pela crise sanitária e política no país.
Os bloqueios nas estradas fez com que tanques com oxigênio ficassem presss no trajeto e hospitais declarando emergência pela ausência deste insumo, além do desabastecimento de alimentos em várias regiões.
No fim de semana, uma prefeitura da região central de Cochabamba decidiu assumir as instalações da estatal Yacimiento Petroliferos Fiscales Bolivianos (YPFB), para pressionar a renúncia da presidente transitória da Bolívia, Jeanine Áñez.
Mesa de diálogo
Neste fim de semana, o diálogo convocado pela presidente de transição, Jeanine Áñez, terminou depois de três horas e meia sem muitos resultados devido à ausência dos dirigentes sindicais que promovem os protestos.
Os principais candidatos eleitorais junto com Áñez, candidato do grupo Juntos, como o ex-presidente Carlos Mesa da aliança Comunidade Cidadã ou o ex-ministro Luis Arce, do Movimento pelo Socialismo (MAS) do ex-presidente Evo Morales, compareceram ao encontro.
Esteve presente o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Salvador Romero, que na véspera conduziu mais uma reunião com representantes do Parlamento, que fracassou devido à insistência dos mobilizados para que as eleições fossem realizadas no dia 6 de setembro, conforme previsto anteriormente, e não 18 de outubro, nova data que o órgão eleitoral definiu.
"A proposta foi clara e concreta, nas eleições de 6 de setembro, tudo o que acontecer será de responsabilidade exclusiva do Tribunal Eleitoral e da Assembleia Legislativa", alertou o mineiro Juan Carlos Huarachi, máximo representante da Central Obrera Boliviana (COB).
Essa entidade e o chamado Pacto de Unidade, que congrega sindicatos camponeses e indígenas vinculados ao MAS, são os promotores dos bloqueios, acusados de dificultar o fornecimento de medicamentos como oxigênio medicinal para hospitais.
Crise política
A crise política se iniciou na Bolívia no dia da contagem de votos da eleição presidencial em outubro de 2019. Na ocasião, antes mesmo de finalizada a contagem de votos, a oposição não aceitou a vitória nas urnas do ex-presidente Evo Morales, do MAS, que estava 10 pontos na frente do segundo candidato, Carlos Mesa.
Iniciou-se, então, uma série de protestos violentos que exigiam sua renúncia, comandadas principalmente por setores de Santa Cruz e La Paz. A ação contou com o apoio da OEA (Organização dos Estados Americanos) que acusou Evo Morales de fraudar o resultado da eleição.
Evo Morales renunciou e um governo interino assumiu a Bolívia, através de Jeanine Áñez. Em março, um estudo do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts dos Estados Unidos) disse que o argumento de fraude apontado pela OEA era frágil, já que pela contas era provável que Evo tivesse mesmo vencido no primeiro turno.
Aumento das tensões
Neste domingo, um dos principais líderes opositores a Evo Morales, e candidato à presidência, Fernando Camacho convocou a população para ir até os bloqueios desobstruir as estradas.
"Vamos desmantelar os bloqueios que afetam Santa Cruz. Faremos isso de forma pacífica, mas com coragem, peço à polícia e às forças armadas que fiquem do lado de seu povo. Defendamos a pátria, não podemos permitir que nos roubem a liberdade e a vida", escreveu no Twitter.
Para o vice-ministro da Segurança Cidadã, Wilson Santamaría, o anuncio é preocupante. "A violência não se combate com violência, se combate com a lei em mãos", disse Santamaría.
"Camacho está enviando seu povo para confrontos violentos com os massistas, que criam o caos e não ajudam a pacificação, e espalham a pandemia [de covid] contra a qual todos lutamos”, destacou.