Brasil não vai condicionar proteção ambiental ao financiamento internacional, diz Marina Silva
Ex-ministra se reuniu com jornalistas durante a COP27 e delineou as prioridades ambientais do próximo governo
Internacional|Do R7
O Brasil protegerá a Amazônia com seus próprios meios e não vai condicioná-la à chegada de recursos internacionais – afirmou neste sábado (12), na COP27, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que integra a equipe de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
A dois dias da chegada de Lula ao balneário egípcio de Sharm el-Sheikh para participar da cúpula anual do clima, Marina Silva se reuniu com jornalistas e delineou as prioridades ambientais do próximo governo.
A ex-ministra insistiu na necessidade de criação de um superórgão nacional que coordene a ação climática entre os diferentes ministérios.
"É algo inovador, e eu diria que algo potente", declarou Marina Silva.
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A política assegurou que a visita de Lula a Sharm el-Sheikh, antes mesmo de sua posse em 1º de janeiro, envia uma mensagem poderosa, de que "o Brasil volta ao protagonismo ambiental no espaço multilateral".
Segundo Marina Silva, uma prioridade estratégica do novo governo será a luta contra o desmatamento da floresta amazônica, que, durante o governo de Jair Bolsonaro, avançou com força. Em 2021, a destruição desse bioma atingiu um nível recorde em 15 anos, devido à política do governo Bolsonaro de promoção do garimpo e das atividades agropecuárias, inclusive em áreas de proteção permanente.
Nesse desafio de preservar a maior floresta tropical do planeta e sumidouro fundamental de CO2, um dos principais gases que provocam a mudança climática, Marina Silva garantiu que o Brasil agirá com seus próprios meios, sem condicioná-lo à ajuda internacional.
Além disso, ao enfrentar a devastação da Amazônia e buscar a meta de reflorestar 12 milhões de hectares, o Brasil adotará um papel de liderança mundial "pelo exemplo", destacou.
Recompor equipes e orçamentos
Não obstante, Marina Silva deu boas-vindas aos anúncios de Noruega e Alemanha, feitos após a vitória de Lula, de que estariam dispostos a retomar o apoio financeiro por meio do Fundo Amazônia. Esses investimentos foram suspensos em 2019, pouco depois da chegada de Bolsonaro ao poder. Ela também adiantou que o governo buscará novos financiadores.
A Noruega é o maior contribuinte desse fundo. Conforme o Ministério do Meio Ambiente do país nórdico, há atualmente US$ 641 milhões disponíveis.
Para Marina Silva, a ajuda internacional também pode ser útil para promover a chamada bioeconomia.
Segundo a ex-ministra, um dos caminhos é fortalecer a agricultura familiar na Amazônia, não para reverter sua extensão, mas para aumentar a produtividade nas fazendas existentes por meio de tecnologias mais modernas.
Ademais, a aliada de Lula reconheceu haver uma tarefa urgente para recompor os orçamentos destinados à preservação da Amazônia, que sofreram cortes durante a gestão Bolsonaro, e também as equipes especializadas em conservação.
"A recomposição das equipes não é algo difícil, é substituir pessoas inadaptadas, militares que não entendem de meio ambiente", por "equipes técnicas" que hoje "estão ameaçadas, assediadas pelo atual governo", assinalou.
Revisão do mercado de crédito de carbono
A ex-ministra, que viajou ao Egito para preparar o terreno para a esperada visita de Lula, enfatizou que será necessário revisar o mercado de crédito de carbono, para evitar que as empresas de energias fósseis utilizem-no para melhorar suas imagens e evitar a redução de suas emissões.
"Não acho que se deva perpetuar a geração de energia fóssil se apoiando nestes créditos. Essas empresas vão ter que transitar para um modelo de gerar energia, e não apenas de vender petróleo", explicou Marina Silva.
"Esse é o caminho que, com certeza, será perseguido no Brasil, que também é um produtor de petróleo", e que, portanto, utilizará "esse recurso que ainda é necessário para fazer a transição para outras fontes de geração de energia", acrescentou.
A política, que se elegeu deputada federal por São Paulo no último pleito, enfatizou que, na sua opinião, isso também deve ser aplicado à Petrobras, que deve ir além do petróleo e contribuir para a transição energética do Brasil.