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Chile: Piñera confirma tendência centrista na América Latina

"Sem voto obrigatório, chilenos optaram pelo conhecido", diz especialista

Internacional|Ana Luísa Vieira, do R7

Empresário, Piñera tem 68 anos e já governou o Chile entre 2010 e 2014
Empresário, Piñera tem 68 anos e já governou o Chile entre 2010 e 2014 Empresário, Piñera tem 68 anos e já governou o Chile entre 2010 e 2014

A vitória de Sebastian Piñera nas eleições presidenciais do Chile neste domingo (17) confirma as tendências políticas centristas verificadas nos principais governos latino-americanos nos últimos anos. É esta a avaliação de José Maria de Souza, doutor em Ciência Política e especialista em América Latina das Faculdades Integradas Rio Branco, de São Paulo.

— Os chilenos seguiram o fluxo. O Piñera é considerado um político de centro-direita e, na América Latina atualmente, nós temos governantes deste mesmo posicionamento — como Mauricio Macri na Argentina e Michel Temer no Brasil. Aquela onda progressista, de governos mais à esquerda, parece ter chegado ao fim. A Michelle Bachelet, atual presidente chilena, é considerada a última representante desse movimento.

Piñera — que tem 68 anos e já governou o Chile entre 2010 e 2014 — recebeu 54,57% dos votos no domingo, enquanto o jornalista e político Alejandro Guillier, representante do grupo de centro-esquerda Nova Maioria apoiado por Michelle Bachellet, obteve 45,43% nas urnas. Esta é a segunda vez que a atual presidente alterna de mandato com o líder de centro-direita. Souza ressalta, entretanto, que o resultado do pleito não significa necessariamente um reforço de antagonismos.

— Vivemos hoje um cenário de mitigação dos extremos. O Chile é um país que não tem o voto obrigatório e foi redemocratizado recentemente, em 1990. Nessa situação, políticos que não conseguem acomodar diferentes interesses fazendo um governo pautado por consensos e por um pacto nacional não conseguem se eleger. Desta vez, os chilenos optaram pelo conhecido.

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Na opinião do especialista, a derrota de Guillier se deve, em certa medida, à impopularidade de Bachellet — que não teve sucesso ao implementar a agenda de políticas prometida desde que subiu ao cargo.

— Desde que Bachellet foi eleita, havia sérias dúvidas em relação à capacidade dela de implementação de políticas, já que ela não obteve maioria nas duas casas legislativas do Chile, assim como o Piñera também não conseguiu ainda. Neste contexto, a tomada de decisões fica muito difícil. Ela tinha como proposta uma reforma no sistema educacional, por exemplo — que foi aprovada, mas com algumas concessões para a oposição, não da maneira como ela gostaria. Além disso, ao longo de seu governo, houve algumas denúncias em relação à corrupção e ao envolvimento de seus familiares em sistemas ilícitos. Isso pode ter agravado o quadro e prejudicado suas chances de fazer um sucessor político.

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Manuel Furriela, diretor da Faculdade de Direito do Complexo Educacional FMU, lembra ainda do desgaste sofrido por Bachelet por conta da desaceleração da economia chilena. Segundo o banco central do país, o PIB avançou 1,6% em 2016, no menor patamar desde 2009. “A economia chilena vinha demonstrando vigor durante muitos anos e, no último governo Bachellet, sofreu um processo de desaceleração. Grande parte dos eleitores atribuem esse problema à gestão dela”, diz o professor.

Em campanha, Piñera prometeu reativar a economia chilena e reduzir o tamanho do Estado, buscando atrair investimentos internacionais. Para Furriela, serão estes os maiores desafios do presidente eleito em seu primeiro ano de mandato. “Eu acho que ele deve trazer a economia chilena para um eixo mais pró-mercado, já que ele é um dos principais empresários do país”, completa. José Maria de Souza, por sua vez, lembra de outras pautas que devem entrar para a agenda do líder em 2018 — nos campos econômicos e sociais.

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— A economia do Chile é muito atrelada aos Estados Unidos. Os rumos que os EUA tomarem em breve obviamente vão influenciar a situação chilena. Em termos de política regional, a Aliança do Pacífico — bloco comercial latino-americano formado por México, Peru, Chile e Colômbia — ainda não decolou. Fora isso, acredito que, para o primeiro ano de mandato, se confirmem aquelas demandas domésticas próprias de países da América Latina, como melhorias na saúde, na educação, na segurança pública, previdência. No caso do Chile há ainda a resposta aos desastres naturais comuns no território, que são os terremotos, deslizamentos, dilúvios, etc.

Em pronunciamento nesta segunda-feira (18), um dia após a vitória nas urnas, Piñera já afirmou que irá trabalhar para formar um "gabinete amplo, de continuidade e mudança" — dando pistas do tom conciliatório que deve adotar no poder.

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