Chineses queimam mortos nas ruas em meio à explosão de casos de Covid-19
Cadáveres se acumulam em funerárias do país, que aumentaram o custo das cremações com o crescimento da demanda
Internacional|Maria Cunha*, do R7
Famílias na China estão queimando o corpo dos entes queridos nas ruas em meio a uma explosão de infecções por Covid-19.
Pequim suspendeu a política de Covid zero no mês passado, após três anos de restrições rigorosas, o que fez o número de casos da doença disparar no país.
Funerárias e hospitais estão sobrecarregados, e especialistas internacionais em saúde estimam 2,1 milhões de mortes por Covid nos próximos meses. Apesar disso, a China afirma que apenas 5.000 pessoas morreram infectadas pelo vírus desde o fim dos rígidos controles impostos à população.
Aumento dos preços
As casas funerárias aumentaram o custo das cremações em meio ao crescimento da demanda — o que aparentemente levou algumas famílias a resolver o problema por conta própria, segundo o Daily Mail.
Em um vídeo publicado nas redes sociais, que parece ter sido feito em uma área rural, um caixão de madeira é visto em chamas.
Em outro registro, que teria sido feito em Xangai, um grupo de pessoas aparece ao redor de uma pira improvisada em um estacionamento.
Mais duas imagens da cidade mostram famílias colocando corpos em lençóis antes de atear fogo neles.
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Xangai concentra o maior número de casos desta onda de Covid-19 na China. A cidade teria 70% dos 25 milhões de habitantes infectados com o vírus, de acordo com um médico de um dos hospitais da região.
Uma captura de tela postada na plataforma de mídia social chinesa Weibo mostra uma mensagem de um homem que conta a seus vizinhos que seu pai havia morrido. No entanto, ele disse que não podia pagar pelos serviços funerários e que iria "encontrar um espaço aberto" para queimar o corpo.
Outro usuário chinês escreveu no Weibo que os cidadãos "não podiam se dar ao luxo de viver presos" e agora "não podem se dar ao luxo de morrer" devido ao aumento dos custos, informou a Bloomberg.
Segundo a agência de notícias, uma cremação na capital chinesa pode ser organizada em três dias a um custo de 68 mil yuans (R$ 53,8 mil), enquanto um serviço no mesmo dia custaria 88 mil (R$ 69,7 mil). Normalmente, custaria alguns milhares.
“Os corpos estão transbordando por toda parte”, disse o funcionário à Bloomberg.
Número de mortos
A Airfinity, pesquisadora de saúde com sede em Londres, acredita que mais de 9.000 pessoas estão morrendo da doença todos os dias na China. Esse número pode subir para 25 mil quando as pessoas começarem a viajar pelo país para as comemorações do Ano Novo Lunar.
Com isso, a companhia espera que os casos da China atinjam seu primeiro pico em 13 de janeiro, com 3,7 milhões de infecções diárias, e alertou que o número de mortes nos próximos meses pode chegar a 2,1 milhões.
As autoridades chinesas afirmam que apenas 5.250 mortes foram registradas durante toda a pandemia, o que é negado também pela população.
"Isso é totalmente ridículo", disse um morador de Pequim, de 66 anos, que só deu seu sobrenome, Zhang. “Quatro dos meus parentes próximos morreram. Isso é apenas de uma família. Espero que o governo seja honesto com as pessoas e com o resto do mundo sobre o que realmente aconteceu aqui."
As autoridades globais de saúde tratam os números da China com ceticismo enquanto tentam impedir a propagação do vírus.
*Estagiária do R7, sob supervisão de Pablo Marques