Cidadão comum acompanha sem compaixão a busca de bilionários mortos em submarino
Diferentemente de outras tragédias, a dos passageiros do submersível que foram visitar o Titanic não desperta empatia
Internacional|Marco Antonio Araujo, do R7
Um dos aspectos mais evidentes no caso do submersível que se perdeu na expedição turística aos destroços do Titanic é uma visível e mensurável falta de empatia com os integrantes da aventura. Os comentários sobre o assunto, em sua quase absoluta maioria, chegam a demonstrar desprezo e um prazer mórbido com a situação dos passageiros perdidos (agora oficialmente mortos) nas profundezas do Atlântico.
Não é preciso contratar institutos de pesquisa para investigar as motivações negativas do cidadão comum diante do incidente. Primeiro, como já anotamos em outro artigo, foi coisa de rico fazendo riquice. Sejamos francos, não é muito comovente ver bilionários pagarem R$ 1 milhão para um passeio micado em todos os sentidos (não só pela falta de segurança e conforto, mas pelo próprio destino da viagem em si, que se mostrou fatal).
Muito maior seria a comoção se, em vez de uma experiência fútil reservada a endinheirados, fosse, como pudemos acompanhar, uma missão de resgate a crianças colombianas perdidas na floresta amazônica. Ou, para ficar bem claro, a torcida unânime que tomou a internet que acompanha as buscas pelo cachorro Wilson. Não é tão complicado assim entender do que é feita a compaixão humana.
Não demorou muito para que viessem comparações bem iradas com os esforços e a desmedida atenção que recebeu o caso do Titan, diante da indiferença mundial que recebem naufrágios em que estão milhares de refugiados e imigrantes — que atravessam mares para fugir da guerra, da fome e de perseguições políticas ou religiosas. Milhares morrem. Não cabe aqui se alongar no assunto, é uma falsa questão, simplória e demagógica, por mais bem-intencionada que de fato seja. Mas é o que rola por aí.
Afinal, para tentar localizar o submersível, foram mobilizados cinco embarcações e aviões, além de robôs que trabalham com pesquisas no fundo do mar. Estão envolvidas na missão a Marinha dos EUA e a Guarda-Costeira do Canadá. E quem vai pagar as custas dessa empreitada são os contribuintes dos respectivos países. É uma missão humanitária, sim. Mas tão incomum, pelas circunstâncias, que é fácil entender a inclemência dos pagadores de impostos e cidadãos do mundo. Todos esses estão na internet, criando memes e postando seus comentários implacáveis. É assim que funciona.
Saiba quem são os ocupantes do submarino que desapareceu em expedição ao Titanic