Combates são retomados no Sudão após fim da trégua
Exército e as forças paramilitares suspenderam os confrontos por 72 horas e iniciaram novamente minutos após prazo acabar
Internacional|Do R7
O Exército e as forças paramilitares, em guerra pelo poder no Sudão, retomaram os combates na manhã desta quarta-feira (21), logo após a expiração de um cessar-fogo de 72 horas amplamente respeitado em Cartum, segundo testemunhas.
Os moradores da capital acordaram com o fogo de artilharia e o barulho dos combates, poucos minutos depois do fim da trégua, que começou no domingo, à 1h (horário de Brasília), disseram à AFP.
Omdurman, um subúrbio ao norte da capital, foi alvo de "bombardeios de artilharia e combates" e "aviões de guerra" sobrevoaram outros bairros próximos, acrescentaram.
O Exército, sob o comando do general Abdel Fattah al-Burhane, e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR) do general Mohamed Hamdane Daglo, comprometeram-se a interromper todos os movimentos e ataques para permitir a passagem de ajuda humanitária nesse país do leste da África, um dos mais pobres do mundo.
Na noite de terça-feira (20), último dia da trégua, ocorreu um grande incêndio na sede da Inteligência de Cartum.
As FAR "bombardearam o prédio", violando a trégua, disse à AFP uma fonte do Exército.
Um "drone do Exército bombardeou o prédio onde as tropas das FAR estavam reunidas, causando o incêndio e a destruição parcial da sede da Inteligência", respondeu uma fonte das FAR.
A comunidade internacional, reunida em Genebra, prometeu na segunda-feira (19) 1,5 bilhão de dólares em ajuda (7,1 bilhões de reais na cotação atual), ou seja, metade das necessidades propostas pelas organizações humanitárias.
Segundo a ONU, 25 milhões dos 48 milhões de sudaneses não podem sobreviver sem ajuda humanitária.
Crimes contra a humanidade
As tréguas anteriores foram violadas imediatamente após sua entrada em vigor.
Nesta quarta-feira, moradores relataram "explosões, fogo intenso e (bombardeios) em áreas residenciais" em Dilling, no Kordofan do Sul, 500 quilômetros ao sul de Cartum.
Darfur, uma vasta região no oeste do Sudão e que faz fronteira com o Chade, sofreu a violência mais grave desde o início do conflito.
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De acordo com as Nações Unidas, em El Geneina, capital do estado de Darfur Ocidental, 1.100 pessoas morreram. As ruas estão repletas de corpos cobertos com roupas sob o sol escaldante e muitas lojas foram saqueadas.
Em uma gravação on-line na terça-feira, o general Daglo denunciou "um conflito tribal" em El Geneina, alegando ter ordenado seus homens a "não intervir", e acusou o Exército de "criar sedição ao distribuir armas" aos civis.
Os habitantes seguem em longas filas em direção ao Chade, sob o fogo cruzado dos beligerantes, mas também de combatentes tribais e civis armados.
Desde sexta-feira, "15 mil sudaneses, incluindo quase 900 feridos" fugiram para Adré, no Chade, a cerca de 30 quilômetros de El Geneina, segundo a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF).
No total, "550.000 pessoas fugiram para os países vizinhos", segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), e mais de "dois milhões" de sudaneses estão deslocados dentro do seu próprio país, afirmou o alto comissário das Nações Unidas para os refugiados, Filippo Grandi.
Em Darfur, "o conflito agora tem uma dimensão étnica", alertaram a ONU, a União Africana e o bloco do leste da África, Igad.
A violência ali cometida pode constituir "crimes contra a humanidade", afirmaram.