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Como a eleição de Javier Milei afeta as relações com o Brasil?

Mercado brasileiro não deve se prejudicar e pode até se expandir, já que o novo presidente defende a livre negociação, diz pesquisadora

Internacional|Do R7

Javier Milei fala com eleitores no último dia de campanha
Javier Milei fala com eleitores no último dia de campanha Javier Milei fala com eleitores no último dia de campanha

Representando uma "mudança", desejada pelos argentinos que o elegeram, Javier Milei, de 53 anos, é o próximo presidente da Argentina. Apesar de o Brasil ser o principal parceiro comercial desse país, enquanto candidato ele disse não ter intenção de manter boas relações com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a quem chamou de corrupto, ladrão, comunista e presidiário.

Com formação em economia, o político tem apenas dois anos de experiência nessa carreira, pois estreou como deputado de la Nación em 2021. Seu jeito excêntrico, marcado por reações explosivas, preocupa parte dos argentinos, por conta da possibilidade de ruptura com o Brasil.

Nesse caso, diferentes especialistas afirmam que quem tem mais a perder é a Argentina, mesmo se forem considerados apenas os aspectos comerciais. Isso porque o Brasil é o maior comprador de produtos argentinos, mas a Argentina está apenas em terceiro lugar entre os maiores fornecedores do mercado brasileiro, atrás da China e dos Estados Unidos, segundo dados da CAC (Câmara Argentina de Comércio e Serviços).

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Milei se elegeu pela coligação La Libertad Avanza, e durante todo o período anterior ao pleito adotou uma postura radical, conservadora e de extrema-direita, definindo-se como ultraliberal.

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Ele é contra o aborto, mesmo que seja decorrente de abuso sexual, e quer proibir a educação sexual nas escolas. Também nega a existência do aquecimento global, a eficacácia das vacinas e a veracidade da pandemia da Covid-19, além de defender o livre porte de armas, ideias que o aproximam do ex-presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.

Não é raro ele também ser comparado com Donald Trump, o ex-presidente do Estados Unidos, já que, além do pensamento conservador, construiu sua carreira na iniciativa privada.

"Ele é um outsider, não apenas da política, mas também das empresas, do setor privado, porque sempre foi um funcionário de segunda linha, nunca teve muito êxito em nada do que se propôs a fazer", diz Gisela Pereyra Doval, pesquisadora do Conicet (Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas), órgão ligado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação Produtiva da Argentina.

"A vitória dele é preocupante, primeiramente, porque ele nem sequer vai poder administrar o país como uma empresa, já que nunca fez isso bem com uma empresa. Fracassou em tudo", completou.

Entre as propostas de Milei para a economia da Argentina, estão a eliminação do Banco Central e a dolarização da economia. Em relação ao comércio exterior, ele diz que os empresários e produtores devem ter liberdade para conduzir as negociações livremente, sem regulação ou interferência do Estado.

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Além da hostilidade em relação a Lula, a divergência de pensamento é evidente, mas isso não significa que ele vá cortar relações com o Brasil. "Pode haver um esfriamento das relações, exatamente pela falta de proximidade ideológica, como aconteceu no período em que o presidente era Jair Bolsonaro, que não tinha afinidade com Alberto Fernández [o atual líder do governo argentino]", analisa o cientista político Leandro Consentino, professor do Insper.

Ele acredita que muita coisa do que Milei falou enquanto era candidato foi dita apenas para ganhar o voto dos eleitores, e pode ficar só em nível discursivo. "Lideranças populistas verbalizam muito, mas não realizam, têm uma retórica forte, que não costuma passar para a ação."

Victor Missiato, analista político, doutor em história política e professor do Colégio Presbiteriano Mackenzie, também defende a opinião de que não deve haver rompimento das relações entre os dois países. "É importante lembrar que Milei não vai poder fazer tudo o que quiser, porque a maioria do Congresso é mais peronista [alinhado com Fernández e sua antecessora, Cristina Kirchner, ambos apoiados por Lula]", diz.

Para Gisela Doval, o Brasil não corre riscos de ter prejuízos econômicos, ao contrário. "Alguns setores industriais serão amplamente favorecidos, porque a ideia dele é liberalizar absolutamente tudo, acabar com impostos e tarifas", afirma.

Consentino fala que, se Milei optar pelo distanciamento em relação ao Brasil, ele pode procurar por outros parceiros comerciais, que sejam mais alinhados ideologicamente com ele e seu governo. "Mas, mesmo se o mercado argentino diminuir um pouco, ele ainda vai continuar relevante para o Brasil. Além disso, o governo brasileiro pode e está disposto a ajudar a Argentina a superar a crise em que está, é uma oportunidade que aquele país não deve dispensar", avalia.

Missiato acredita, ainda, que novos parceiros podem se interessar pelo mercado portenho, e a concorrência pode aumentar para o Brasil. "Mas não será nada drástico, algo em torno de uns 10%", diz.

Todos concordam que o maior impacto pode ser no Mercosul. "Acho que é bem difícil qualquer presidente decidir sair do bloco, mas o Milei já falou contra o grupo, causou constrangimentos e pode criar entraves que devem esfriar a conclusão do arcordo com a União Europeia", fala Consentino, do Insper.

"Vejo um cenário complexo, mas não necessariamente ruim para o Brasil em termos comerciais. Vai ficar mais complicado em termos políticos e em outros setores importantes, como o meio ambiente, por exemplo. Digamos que o melhor que pode acontecer, se o bloco não puder avançar, é que se congele, fique como está", finaliza Gisela.

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