Como sanções de Trump mudam a ‘guerra energética’ entre Rússia e Ucrânia
Medidas contra gigantes do petróleo russo ampliam impacto da disputa que se concentra em ataques a refinarias e usinas elétricas
Internacional|Do R7
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Longe das trincheiras, a Rússia e a Ucrânia travam uma guerra paralela: a do setor energético. A disputa ganhou novo fôlego após os Estados Unidos anunciarem sanções amplas contra a indústria petrolífera russa – a principal fonte de recursos do Kremlin.
Segundo o jornal The New York Times, as medidas do governo Donald Trump atingem diretamente as duas maiores empresas de energia da Rússia, Lukoil e Rosneft. A ação busca pressionar Moscou a interromper ataques à infraestrutura elétrica e de gás da Ucrânia.
As sanções, anunciadas na última quinta-feira (23), isolaram essas companhias em relação ao sistema financeiro internacional e ameaçam punir países que continuarem comprando petróleo russo.
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O ex-diplomata europeu Balazs Jarabik disse ao New York Times que as medidas representam “a primeira grande ação punitiva de Trump” e visam forçar o Kremlin a considerar um cessar-fogo limitado.
Mesmo assim, especialistas afirmam que Moscou pode resistir, apoiando-se em aliados, como China e Índia, para contornar restrições. A Rosneft e a Lukoil respondem por cerca de metade da produção de petróleo da Rússia, e colocá-las na lista negra pode reduzir significativamente as exportações para a Ásia.
O pesquisador Jack Watling, do RUSI (Instituto Real de Serviços Unidos), afirmou que a capacidade russa de reconstruir forças militares depende diretamente das receitas de petróleo e gás. Sem esses recursos, o país enfrentará dificuldades para manter o esforço de guerra.
Putin reconheceu que as sanções prejudicam a economia, mas disse que não mudarão o cálculo estratégico do Kremlin. Trump, por outro lado, declarou que o impacto deve ficar claro “em seis meses”.
Disputa por energia
Ao mesmo tempo, desde agosto, a Ucrânia tem intensificado o uso de drones de longo alcance para atacar refinarias, depósitos e oleodutos que sustentam a economia de guerra do regime de Vladimir Putin.
De acordo com dados do centro independente britânico OSC (Open Source Centre), Kiev realizou 58 ataques a instalações energéticas russas entre agosto e meados de outubro. Antes disso, haviam sido apenas três ataques em junho e julho.
Os drones ucranianos chegaram a percorrer até 2.000 km dentro da Rússia, atingindo refinarias, estações de bombeamento e terminais de exportação espalhados por parte do território do país.
Autoridades de Kiev disseram à agência Reuters que o objetivo é provocar escassez de gasolina e diesel na Rússia, dificultando a logística militar. A estratégia já produz efeitos: os preços internos de combustível subiram cerca de 10%, e há filas em postos de abastecimento.
A Reuters calcula que os ataques tenham reduzido 21% da capacidade de refino russa no fim de agosto, o equivalente a 1,4 milhão de barris por dia. Em resposta, Moscou intensificou bombardeios contra usinas e subestações elétricas na Ucrânia.
Como são os ataques
Impedida inicialmente de usar armamentos ocidentais em território russo, a Ucrânia passou a produzir drones próprios, como os modelos Liutyi e FP-1, que são capazes de voar mais de 1.000 km.
As operações geralmente envolvem 20 a 30 drones armados com explosivos, segundo uma fonte ucraniana. Em algumas ofensivas, o número chega a 300 aeronaves. Parte dos drones atua como isca, desviando a atenção das defesas aéreas russas.
Imagens de satélite verificadas pela Reuters mostram que a Rússia instalou estruturas de proteção e redes antidrones em refinarias estratégicas, como a Gazprom Neftekhim Salavat, a 1.400 km da fronteira ucraniana.
Mais da metade dos ataques identificados pelo OSC teve como alvo refinarias localizadas na parte europeia da Rússia, de Krasnodar (Mar Negro) até regiões próximas a Moscou e São Petersburgo. Algumas, como as usinas de Syzran, Saratov e Afipsky, foram atingidas várias vezes.
A Ucrânia também atacou estações de bombeamento do oleoduto Druzhba, responsável por levar petróleo russo até a Hungria e a Eslováquia, e terminais marítimos no Mar Negro e no Mar Báltico.
Em retaliação, o governo russo impôs restrições às exportações de diesel e gasolina. As interrupções obrigaram o país a aumentar o envio de petróleo bruto e reduzir a exportação de derivados refinados.
O especialista ucraniano Mykhailo Gonchar, do centro Strategy 21, disse à Reuters que os ataques podem complicar as operações da estatal Transneft, que administra os oleodutos russos, e também forçar Moscou a gastar grandes valores com reparos.
Principal fonte de receita
O setor de petróleo e gás representa entre um terço e metade da arrecadação federal da Rússia. Segundo o Ministério das Finanças russo, essa participação caiu para 25,4% em agosto de 2025, um dos menores níveis desde o início da guerra, em fevereiro de 2022.
Dados da Agência Internacional de Energia indicam que a receita da Rússia com exportações de petróleo e derivados atingiu patamares mínimos em cinco anos, agravando a desaceleração econômica.
Apesar da queda, o governo russo afirma que a economia segue estável e que o crescimento projetado é semelhante ao de países da UE (União Europeia).
Na prática, os ataques e a escassez de combustível pressionaram os preços – a gasolina subiu 9,5% e o diesel, mais de 3% desde fevereiro, segundo a Reuters. Em regiões como a Crimeia, sob ocupação russa, há relatos de racionamento de combustíveis
Pressão sobre a Ucrânia
Enquanto tenta sufocar a economia russa, a Ucrânia também enfrenta ataques diários em usinas, estações de bombeamento e sistemas de gás. Estima-se que o país tenha perdido 60% da capacidade de produção de gás, segundo uma autoridade europeia citada pelo New York Times.
Cidades como Chernihiv, com 270 mil habitantes, registraram apagões totais, e autoridades locais adiaram o início do aquecimento central em prédios residenciais. O prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, afirmou que o país enfrenta “o inverno mais difícil desde o início da guerra”.
A Ucrânia tenta agora importar cerca de 4 bilhões de metros cúbicos de gás, mas precisa de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 10 bilhões) para isso. Ainda não está claro se os países europeus – também sob pressão fiscal – financiarão a operação.
Um plano em discussão na Europa prevê o uso de ativos russos congelados para emprestar US$ 163 bilhões (R$ 875 bilhões) à Ucrânia, o que garantiria recursos para os próximos dois anos. A proposta, no entanto, enfrenta entraves jurídicos e políticos.
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