Prisioneiros russos enviados para morrer na Ucrânia 'pagaram suas dívidas', diz Putin
Milhares de condenados sem preparo nenhum foram recrutados pelo governo da Rússia para lutar em território ucraniano
Internacional|Do R7
O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou nesta sexta-feira (29) que os condenados recrutados nas prisões e que morreram aos milhares na linha de frente da ofensiva na Ucrânia pagaram suas dívidas com a sociedade.
"Morreram. Todos somos seres humanos, todos podemos cometer erros, e eles os cometeram. Deram sua vida pela pátria e se redimiram", disse Putin ao receber no Kremlin militares russos que, segundo Moscou, se destacaram em combate.
"Faremos o que estiver ao nosso alcance para ajudar seus entes queridos", afirmou.
Antes de seu encontro com os soldados, transmitido pela televisão pública russa, Putin respeitou um minuto de silêncio em memória dos ex-detidos mortos em combate na frente sul e cujos funerais serão realizados nesta sexta.
O presidente qualificou os soldados russos desse setor, que segundo o Ministério da Defesa repeliram um ataque ucraniano, como um "exemplo emblemático de valor e heroísmo".
Dezenas de milhares de presos foram recrutados nas penitenciárias russas para lutar na linha de frente, em troca de uma promessa de libertação, após o início da ofensiva russa na Ucrânia, em fevereiro de 2022, em particular para o grupo paramilitar Wagner, mas também para o Exército.
Abatedouro
O grupo Wagner, porém, era conhecido por cumprir seus acordos. Caso os combatentes sobrevivessem à guerra, tinham a liberdade garantida. A Rússia, além de copiar a estratégia, cria empecilhos para cumprir sua parte no acordo, segundo uma reportagem do New York Times.
"É como se estivéssemos sendo mandados para um abatedouro. Para eles, é como se não fôssemos humanos porque cometemos crimes", disse Alexander, soldado recrutado em uma prisão russa, em uma série de mensagens de áudio enviada ao jornal americano.
Alexander disse que passou um mês em treinamento perto da cidade ocupada de Luhansk e depois foi enviado, com a unidade, para manter a frente perto das antigas casas de veraneio próximas à ponte Antonovsky, área que os ucranianos vêm atacando com investidas-surpresa desde que os russos bateram em retirada rumo à margem oriental do rio, em novembro.
Os homens passaram o mês seguinte sob o bombardeio constante do inimigo invisível, que atacou as posições expostas a partir da outra margem; eram atiradores, emboscadas noturnas, drones à espreita o tempo todo.
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O objetivo da missão nunca ficou claro para eles, pois apenas receberam ordens de permanecer na posição em que se encontravam, mas não tinham armamento pesado nem meios de se defender dos ataques ucranianos.
"Eu ficava correndo de um lado para outro feito um idiota. Não disparei uma única vez, nem cheguei a ver o inimigo. Não passamos de isca para expor as posições de artilharia. O que é que estou fazendo aqui, batendo cabeça e tremendo feito vara verde, com bombas chovendo ao meu redor?", desabafou Dmitri, um ex-companheiro de Alexander, em uma mensagem enviada à sua mulher [e compartilhada com o Times] um pouco antes de morrer em solo ucraniano.