De prisão por dança a decapitação de menores: o que está acontecendo no Irã
Governo iraniano reprime todos que tentam se opor ao regime e aplica penas violentas, como enforcamento
Internacional|Larissa Crippa*, do R7
O recente caso dos jovens que foram presos por dançarem em público chocou a internet, mas essa situação extrema não é um caso isolado.
Desde 2022, o HRANA (Human Rights Activists News Agency) registrou, até novembro do ano passado, que 298 pessoas foram mortas e mais de 14 mil foram presas nos protestos que se espalharam por 129 cidades iranianas.
O país protagoniza uma série de manifestações em defesa dos direitos humanos desde a morte de Mahsa Amini, que foi espancada pela polícia por não usar corretamente o hijab, véu islâmico obrigatório no Irã, em 16 de setembro do ano passado.
A violência praticada contra a jovem iraniana gerou uma mobilização da população local que ocorreu em uma intensidade e proporção que não se viam há 40 anos.
Veja alguns dos casos de repressão violenta no Irã:
Decapitada pelo marido
Uma jovem de 17 anos foi assassinada e decapitada pelo marido após tentar fugir do país e do casamento forçado.
O crime, conhecido como “assassinato de honra”, culturalmente incitado por iranianos extremistas, foi apoiado pelo pai e irmão da garota, que foram responsáveis por levá-la de volta para casa.
O assassino foi filmado andando pela rua com a cabeça da adolescente em mãos. As imagens, ainda que fortes, viralizaram nas redes sociais.
O caso está sendo investigado, mas é muito provável que nada aconteça. “Infelizmente, estamos testemunhando tais incidentes porque não há medidas concretas para garantir a implementação de leis para prevenir a violência contra as mulheres”, declarou o Elham Nadaf, membro do parlamento iraniano. Estima-se que os “crimes de honra” classifiquem 20% dos homicídios do Irã.
Execução de manifestantes
Depois de anos em um regime extremista, as manifestações dos últimos seis meses estão marcando a história do país. Após diversas execuções, por meio da lei ou da força, pessoas se aglomeram em frente ao tribunal de Teerã, capital do país, para o fim da repressão. Entre a multidão de manifestantes, há meninas iranianas que não aparentam ter mais do que 10 anos.
Leia também
De acordo com ativistas, dezenas de crianças e de adolescentes foram assassinados pelo regime por participarem das manifestações ou por suspeita de terem participado, de acordo com a HRANA.
Condenados a serem enforcados
As poucas vítimas do regime que têm direito a julgamento estão encontrando o mesmo destino daqueles que morrem nas ruas. A execução de um lutador de karatê e de um instrutor infantil de lutas gerou revolta ao redor do mundo. Os dois foram enforcados após serem acusados pelo governo de participarem de protestos.
Os condenados não receberam os direitos finais de poderem falar com suas famílias. Antes da execução, familiares tentaram implorar pela revogação da sentença em suas redes. Outros 41 manifestantes aguardam julgamento para enfrentar o mesmo destino.
Jogador de futebol preso
O jogador iraniano Amir Nasr-Azadani, que participou da Copa do Mundo no Catar, está sendo julgado e pode entrar para a lista de vítimas do regime iraniano. Seus fãs se mobilizam ao redor do mundo, temendo pelo fim de sua vida.
Após apoiar publicamente o direito das mulheres de seu país, Amir foi classificado como criminoso e traidor da nação. As autoridades do caso afirmam que Nazar-Azadani também agrediu agentes de segurança durante protestos. O jogador escapou da pena de morte, mas foi sentenciado a 26 anos de prisão.
Celular em meio aos protestos
Um sobrevivente da repressão policial no Irã contou à BBC detalhes do que está acontecendo em seu país.
Ele relata que estava ajudando uma mulher a escapar dos guardas quando foi arremessado em uma van, sufocado e agredido. As agressões aconteciam em meio aos gritos para que ele desbloqueasse o celular.
O homem só foi liberado depois que a galeria de fotos do aparelho foi conferida e não foram encontradas fotos que indicassem sua participação nas manifestações.
O governo iraniano trabalha para classificar a produção de vídeos e imagens dos acontecimentos recentes como um “crime de propaganda negativa contra o governo”, e o manuseio do celular em público pode deixar o proprietário do aparelho em apuros.
Depois dessa situação, o jovem descobriu, conversando com outros manifestantes, que os policiais estavam ameaçando de agressão, estupro e tortura todos que não desbloqueassem seus aparelhos. Em alguns casos, eles cometeram os atos violência de qualquer forma para causar medo entre a população.
Bloqueio das redes sociais
Os iranianos ficaram praticamente incomunicáveis após o governo do país bloquear o Instagram, o WhatsApp, o Facebook e outras plataformas digitais. Aqueles que conseguem divulgar informações sobre o que está acontecendo no Irã correm o risco de ser presos ou executados.
Movimentações internacionais
A onda crescente de repressão no Irã tem preocupado autoridades internacionais. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, declarou na segunda-feira (30) que os EUA vão "tomar medidas para desescalar as tensões".
As projeções para o desdobramento do caso são novos envolvimentos de grandes potências, na tentativa de abafar a violência, e novas medidas da ONU (Organização das Nações Unidas), para combater a censura e o extremismo no Irã.
*Estagiária do R7, sob supervisão de Pablo Marques