Desmatamento não ameaça pacto com Mercosul, diz embaixador da UE
Para Ignácio Ybáñez, novo representante europeu no Brasil, crise na Amazônia é questão pontual, mas alerta sobre riscos da política ambiental brasileira
Internacional|Da EFE
O novo embaixador da União Europeia (UE) em Brasília, Ignácio Ybáñez, afirmou em entrevista exclusiva à Agência Efe que o desmatamento na Amazônia não deve ser um fator de impedimento para a rafificação de acordo entre o bloco e o Mercosul, que foi assinado no fim de junho em Bruxelas, na Bélgica.
Por outro lado, o diplomata espanhol enviou um alerta para as autoridades brasileiras de que a liberação de agrotóxicos pode prejudicar as exportações para os países-membros da UE, devido às regras sanitárias existentes que, segundo Ybáñez, não serão flexibilizadas.
Apesar do tema polêmico, o novo embaixador garante ter expectativa de um bom diálogo com o governo do presidente Jair Bolsonaro, destacando que se trata de um líder favorável à assinatura do acordo entre os dois blocos comunitários.
O aumento do desmatamento na Amazônia pode impactar ou atrasar a ratificação do acordo entre Mercosul e União Europeia?
Ignácio Ybáñez - Levamos 20 anos negociando o acordo, que é uma aposta de futuro entre as duas regiões, por isso, não é correto pensar que os parlamentos irão reagir por coisas pontuais. O mais importante é que o acordo contém compromissos de como queremos que seja a nossa relação futura. Por exemplo, no tema ambiental há uma clara aposta no cumprimento do acordo de Paris (sobre mudanças climáticas) e dos convênios internacionais por parte do Brasil e do Mercosul.
O que mais preocupa a União Europeia sobre a ratificação do acordo?
IY - O que preocupa é realmente que os governos possam informar bem seus parlamentos do que está em jogo com esse acordo e dos efeitos que ele terá. A aposta que fazemos é por valores comuns de estado de direito, de direitos humanos, de sustentabilidade e de liberalização econômica.
Como está a relação com o governo do Brasil?
IY - Um pouco das mensagens que transmito ao governo é que a vontade das instituições europeias é trabalhar em todas as direções para melhorar a relação e que reforçar a relação bilateral com o Brasil é mais do que favorecer a ratificação do acordo entre União Europeia e Mercosul.
O que falta para conseguir a ratificação?
IY - Vamos conseguir a rafificação se explicarmos bem o acordo para ambas as partes. Não é só um acordo comercial, e é isso que queremos desenvolver: a nossa aposta é trabalhar conjuntamente de maneira intensa.
Qual é a postura da Europa sobre as aprovações de agrotóxicos no Brasil?
IY - Estes produtos não poderão entrar no mercado europeu. A saúde dos cidadãos dos dois blocos tem que ser preservada. Se os produtores brasileiros querem continuar exportando para a Europa, que é um mercado muito atrativo para eles, terão que cumprir as normas sanitárias que a Europa impõe.
É difícil falar com o governo do Brasil sobre assuntos ambientais?
IY - Não é mais difícil ou mais fácil. Não pretendemos diminuir os padrões já estabelecidos. Estamos no início de um novo governo que está adotando suas políticas e temos que ir promovendo o diálogo dia a dia. Vejo que há uma aposta muito clara do governo Bolsonaro pelo acordo, que é uma mudança radical nas nossas relações.
Quais são as expectativas a médio prazo com o acordo?
IY - A médio prazo, o que o acordo pretende é que os padrões da União Europeia e o Mercosul sejam cada vez mais próximos e que haja um dialogo entre as partes, protegendo os dois lados. Vamos estabelecer um mercado muito mais amplo e muito melhor.
Como será seu trabalho na delegação da União Europeia no Brasil?
IY - A vontade da delegação da União Europeia aqui é colaborar com o governo brasileiro, que, além disso, agora tem a responsabilidade de exercer a presidência do Mercosul. Portanto, será o nosso ponto de contato direto com os países-membros do bloco.