Dia 6: 'Viver com essa ameaça, não desejo a ninguém', diz ucraniano
Repórter da Record conta que, enquanto crescem os confrontos na fronteira, ucranianos tentam levar a vida com precaução
Internacional|Leandro Stoliar, da Record TV
Chama minha atenção um menino de 7 anos subindo em um tanque usado na Segunda Guerra Mundial. Ele subia como se fosse um brinquedo gigante. O tanque fica exposto na frente do museu da guerra em Kharkiv, no leste da Ucrânia, a 30 quilômetros da fronteira com a Rússia.
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Talvez a fronteira seja um dos lugares mais perigosos do mundo atualmente. Mas parece que esse perigo todo não afeta muito a vida de quem está acostumado com ameaças.
O ucraniano Gueorguiy é muito jovem, mas, apesar da idade, ele já sabe que o país vive uma ameaça de guerra. Apontei o microfone porque queria ouvir o que tinha a dizer. Ele conta que não tem medo:
"Dizem que a guerra vai começar, mas ela não começa, por isso não tenho medo. Se começar, vou embora".
Conversei com o avô, o georgiano Ravez Abramovich. Ele se diz, sim, preocupado com o crescimento da escalada de tensão na fronteira:
"Me preocupa muito porque já passei por uma guerra, e viver com essa ameaça de novo não desejo a ninguém. Ninguém merece".
Enquanto os confrontos crescem na fronteira da Ucrânia aqui no leste, os ucranianos tentam levar a vida com uma certa precaução. Só em 24 horas, os grupos separatistas pró-Rússia lançaram 60 bombardeios em territórios ucranianos e deixaram três soldados feridos.
Não dá pra bobear...
Mas decidimos, mesmo com todo o perigo, seguir de carro até a fronteira com a Rússia. Conseguimos uma autorização especial para acompanhar o trabalho dos militares na trincheira ucraniana. Lá é "um olho no peixe e o outro no gato". Mas sabe como é repórter, né?! Quando tem história, parece que a gente cria coragem.
Disse ao Luis Felipe Silveira, meu parceiro nesta cobertura especial: "Nada de ser super-herói. Repórter bom é o que traz a notícia de volta". Mas Luis sabe o que faz.
Percorremos a trincheira que é vigiada 24 horas por dia. O porta-voz do Exército não quis me dizer quantos homens trabalham lá. Ele estava preocupado com a nossa presença. O perigo de um confronto existe. Uma cerca de 2 metros de altura de arame farpado divide os dois países. Homens armados dos dois lados. Tudo monitorado por câmeras.
Perto dali, uma vila fantasma. A maioria dos moradores abandonou sua casa por medo da ameaça de uma invasão russa.
Encontramos uma das moradoras que insistem em ficar no local. Uma idosa de 75 anos. A cara da minha avó. Baixinha de olhos azuis como a água do mar e muito simpática.
A ucraniana diz que tem medo de uma invasão russa, mas o que mais preocupa é não poder ver o filho que mora no lado russo da fronteira. Ela me conta que tem medo de morrer sem conhecer os netos.
Lembrei da minha vozinha que já morreu.
Pra quem não sabe, Stolear significa carpinteiro em ucraniano. Meu avô era dessa região da Europa. Ele mudou uma letra no nosso nome para escapar do nazismo.
Foi impossível não me emocionar.