Dicas para quem está entrando nos EUA: verifique o visto e desligue o telefone
Com o aumento de notícias sobre viajantes com entrada negada, é fundamental entender o que pode levar; veja o que você precisa saber
Internacional|Claire Fahy, do The New York Times
Em aeroportos e fronteiras terrestres de todo o país, turistas e outros visitantes que chegam aos EUA relataram ter sido pegos pela campanha de “verificação aprimorada” do governo Trump. Até mesmo imigrantes legais, como portadores de green card e cidadãos naturalizados, foram submetidos a interrogatório e revista adicional.
Isso levantou questionamentos sobre as práticas recomendadas para a entrada nos Estados Unidos, os direitos do viajante na fronteira e a legalidade das revistas de dispositivos e bagagens.
Aqui estão algumas coisas que você deve saber antes de visitar os Estados Unidos ou retornar ao país, como turista, residente legal ou cidadão.
Você é um visitante com visto ou Esta (autorização eletrônica de viagem para os Estados Unidos)? Isso deve se adequar aos seus planos de viagem.
De acordo com a União Americana pelas Liberdades Civis (Aclu, sigla em inglês), os funcionários fronteiriços dos EUA têm “amplo poder discricionário” para negar a entrada. Essa decisão pode ser tomada com base na suspeita de que a pessoa está entrando no país com uma finalidade diferente daquela indicada pelo seu visto ou pelo Sistema Eletrônico para Autorização de Viagem (Esta, sigla em inglês) – por exemplo, se ela tem um visto de turista, mas parece estar planejando trabalhar.
“Já vimos indivíduos detidos apenas por dizerem que estão ‘disponíveis para trabalhar’ no LinkedIn. Isso serve como prova de que eles não estão indo só à Disneylândia ou a um casamento”, disse Michael Wildes, advogado de imigração de Nova Jersey que cuidou da imigração de Melania Trump para os Estados Unidos.
Cheryl David, advogada de imigração na cidade de Nova York, enfatizou que as regras não mudaram quando se trata de entrada nos EUA, mas afirmou que agora há uma clara “política de tolerância zero”.
Até mesmo os cidadãos devem estar preparados para uma verificação adicional.
Se surgirem dúvidas sobre os documentos de viagem do passageiro, os funcionários da fronteira podem tirá-lo da fila e submetê-lo a verificações adicionais, momento em que a bagagem e os dispositivos eletrônicos, como o laptop e o telefone celular, podem ser revistados.
Até mesmo portadores de green card e cidadãos naturalizados podem estar sujeitos a verificação adicional.
Os cidadãos americanos e os residentes permanentes legais não podem ter sua entrada no país negada por se recusarem a entregar seus dispositivos, mas essa recusa pode resultar em um processo alfandegário mais longo, informou a Aclu.
Catherine, de 67 anos, cidadã naturalizada que se mudou para os Estados Unidos há 45 anos, disse que nunca foi selecionada para interrogatório adicional ao passar pela imigração, mas desde o início do governo Trump foi parada duas vezes por motivos que ainda não estão claros para ela. Catherine pediu que fosse identificada apenas pelo seu nome do meio, temendo que seu status de naturalizada pudesse ser revogado por se manifestar.
Mais recentemente, Catherine estava voltando da Argentina quando ela e o marido foram parados em um aeroporto de Dallas. O controle de fronteira lá era automatizado, com os passageiros escaneando o passaporte para passar pelos portões, mas, quando chegou a hora de tirar uma foto, um grande X vermelho apareceu na tela de Catherine. Seu marido falou com os funcionários da fronteira e o casal finalmente foi autorizado a passar.
As mídias sociais, as conversas de texto e outros históricos do viajante podem ser pesquisados em seus dispositivos.
Como o controle de fronteira existe tecnicamente fora dos Estados Unidos, o viajante com visto ou autorização Esta tem capacidade limitada de se opor às buscas em seus dispositivos eletrônicos, de acordo com a Aclu, e se o fizer, corre o risco de ter a entrada negada.
Em geral, há dois tipos de buscas de dispositivos eletrônicos: manual e avançada, explicou Tom McBrien, advogado do Centro de Informações de Privacidade Eletrônica, organização sem fins lucrativos de privacidade na internet sediada em Washington.
Ele também informou que as buscas manuais envolvem o exame de um telefone desbloqueado. Em geral, os tribunais consideram que isso equivale a revistar bagagens e permitem buscas manuais sem a obtenção de um mandado. Uma busca avançada, ou “forense”, envolve a conexão de um dispositivo externo ao telefone para examinar seu conteúdo. Alguns distritos federais exigem um mandado para isso, enquanto outros não.
McBrien e outros especialistas em privacidade recomendam apagar de seu dispositivo tudo que você não quer que alguém leia ou veja antes de sua chegada.
McBrien também comentou que recomenda que seus clientes desativem os recursos Face ID ou Touch ID em seu iPhone, de modo que seja necessário mais do que apenas um agente agitando o telefone na frente do rosto ou colocando o dedo nele para desbloqueá-lo. Melhor ainda, segundo ele, é desligar o telefone antes de passar pelo controle de fronteira, pois o aparelho tende a exigir a senha completa quando é ligado novamente.
Ele acrescentou que, se você se recusar a desbloquear o telefone quando solicitado, as autoridades podem confiscá-lo e, provavelmente, terão de obter uma ordem judicial para abri-lo. Entretanto, o visitante pode ter sua entrada nos Estados Unidos negada por se recusar a desbloquear o dispositivo.
Wildes observou que o fator principal que os agentes de patrulha de fronteira procuram é a consistência. Se uma pesquisa forense mostrar uma conta de mídia social desativada, os agentes podem pedir que ela seja reativada. Se uma conta de e-mail foi excluída recentemente, podem solicitar acesso a ela. “A mídia social se tornou um grande problema para muita gente que não percebe como ela pode ser acionável.”
c. 2025 The New York Times Company
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