Direitos e 'pauta genérica': europeus no Brasil comentam eleições da UE
Portugueses e espanhóis residentes em São Paulo podem votar nos consulados. Em entrevista ao R7, eles revelam expectativas para o pleito
Internacional|Ana Luísa Vieira, do R7
A partir desta quinta-feira (23) até o próximo dia 26, os cidadãos da União Europeia vão às urnas escolher os deputados que devem representá-los no Parlamento do bloco até 2024. Ao todo, serão 751 representantes eleitos.
Longe do Velho Continente, alguns dos europeus residentes no Brasil também podem participar do pleito. O advogado português Jorge Rosmaninho, de 69 anos, é um dos que fazem questão de registrar o voto — mesmo que já viva em terras tupiniquins há 53 anos.
Leia também: O que está em jogo nas eleições europeias de 2019
“Eu conheci Portugal antes da época da União Europeia e sei que era completamente diferente. Não havia água, não havia esgoto, mal havia luz. Foi graças ao bloco que houve condições de criar empregos para que povo trabalhasse e o país se desenvolvesse”, opina.
Rosmaninho, que mora em São Paulo, nasceu na cidade portuguesa de Póvoa de Varzim e se mudou para o Brasil na época da Guerra Colonial Portuguesa: “As colônias portuguesas na África exigiam independência e Portugal queria mantê-las, então enviava jovens para o campo de batalha. Os que não queriam ir para a guerra fugiram, em sua maioria, para a França e o Brasil — como eu”, relata.
Para o advogado, o que está em jogo nas eleições para o Parlamento Europeu em 2019 é “o que sempre esteve: deputados que tenham como obrigação defender seus países na Europa — com direitos iguais para todas as nações dentro das possibilidades do continente”.
Ao R7, o Consulado Geral de Portugal Em São Paulo informou que existem aproximadamente 112 mil eleitores inscritos na capital paulista e mais 12 mil no Escritório Consular em Santos.
Rosmaninho lamenta que os índices de abstenção para as eleições do Parlamento Europeu sejam tão altos: “Na última, em 2014, só votaram 50 aqui em São Paulo”, diz.
Os dados do Parlamento Europeu apontam que, na Europa propriamente dita, a taxa de participação dos eleitores em 2014 foi de 42,6% — entre os portugueses, a abstenção chegou a 66,2%.
'Entidade abstrata'
O arquiteto português Nelson Miguel, de 37 anos, que se mudou para o Brasil a trabalho em janeiro de 2018, conta ao R7 que prefere se abster.
“Não me dei ao trabalho de transferir o título de eleitor para cá. A visão que eu tenho — que, acredito, deve ser a da maioria dos portugueses — é de que o Parlamento Europeu é uma entidade um pouco abstrata. Em Portugal, muitos políticos culpam a UE pelos problemas na economia — dizem que o país não anda porque o bloco não fez isso ou aquilo”, explica.
“As pautas do Parlamento Europeu são importantes, não duvido, mas são genéricas — o que está em causa são os direitos humanos, direções para o futuro da União. Nada disso, contudo, resolve a falta de pão sobre a mesa, não no imediato”, completa.
De acordo com informações disponíveis no site do Parlamento Europeu, a possibilidade de os cidadãos que moram no exterior votarem para as eleições parlamentares diferem de país para país. Italianos, por exemplo, não podem votar fora de casa. Além dos portugueses, belgas e espanhóis estão aptos a registrar o voto no Brasil.
Integração da Europa
A economista Claudia Romero, de Madri, mudou-se para São Paulo há três anos e deve retornar à Espanha em 2020 — motivo pelo qual acha especialmente importante votar para o Parlamento Europeu mesmo que esteja no Brasil.
“Acredito que estejam em jogo principalmente temas como a integração da Europa e a relação da Europa com o restante dos países”, avalia.
No que diz respeito à Espanha, Claudia acredita que os eurodeputados devam discutir, no próximo mandato, a questão da Catalunha — região autônoma que reivindica independência do Estado espanhol desde 2017.
“Eu, particularmente, sou pró-União Europeia e, ao mesmo tempo, defendo o diálogo com os departamentos que reivindicam alguma independência — há outros na Europa além da Catalunha. Pretendo votar em propostas que viabilizem o diálogo com esses grupos e sua integração ao bloco caso eles se separem de seus respectivos Estados”, finaliza.