Doentes e engaioladas: raposas são criadas na Finlândia para o mercado internacional de pele
País nórdico produz 1 milhão de peles por ano e perde apenas para a China; cidadãos europeus buscam a proibição do comércio
Internacional|Do R7, com AFP
Grupos de direitos dos animais divulgaram na semana passada vídeos de raposas machucadas, doentes e presas em pequenas gaiolas. Os animais foram filmados enquanto estavam na fila para serem abatidos, na indústria de peles da Finlândia.
As imagens, gravadas sem autorização, foram obtidas pela associação finlandesa Oikeutta Eläimille (Justiça para os Animais). Os registros levantam a discussão sobre esse setor e aumentam os apelos para que esse comércio acabe.
Com cerca de 1 milhão de peles produzido anualmente, o país nórdico é o líder europeu na criação de raposas e o número 2 no mundo, atrás apenas da China.
"A criação de peles já deveria ser proibida na Finlândia. Acho lamentável que ainda não o seja", disse à agência de notícias AFP Mai Kivela, parlamentar da Aliança de Esquerda, que faz parte da coalizão governista.
Em dezembro, uma iniciativa de cidadãos europeus que pediam a proibição do comércio de peles em toda a União Europeia alcançou 1 milhão de assinaturas, o suficiente para forçar uma resposta da Comissão Europeia.
Vários estados-membros já vetaram esse tipo de indústria, mas o apelo é para que os 27 países do bloco também interditem esse comércio, por ser uma prática considerada "cruel por natureza". A pandemia de Covid-19 acelerou o movimento, com proibições totais ou parciais na França, Holanda ou Estônia.
Na Finlândia, a primeira-ministra, Sanna Marin, sob pressão de seus parceiros da Aliança de Esquerda e dos Verdes, anunciou em 2020 que apoiava a proibição, mas não avançou nesse assunto.
A maioria no Parlamento defende o comércio de peles de animais por gerar 360 milhões de euros, cerca de R$ 2 bilhões, em exportação. Além disso, esse setor emprega mais de 3.000 pessoas e é vital para certas regiões rurais da Finlândia.
Vídeos chocantes
Trancadas em gaiolas de metal claramente muito pequenas, raposas de raça gigante com pelo extremamente grosso aparecem com doenças oculares e infecções de ouvido e cauda.
“As condições de vida desses animais nessas fazendas são francamente terríveis”, disse à AFP o ativista da associação, Kristo Muurimaa.
As raposas, incapazes de atender às suas necessidades de movimento, são suscetíveis a doenças comportamentais, como andar compulsivo, explicou.
Nos vídeos, algumas raposas estão tão acima do peso que nem parecem mais raposas. Também são vistas ao devorar o cadáver de alguns de seus filhos.
Segundo a associação, o problema é generalizado e "todas as fazendas de peles na Finlândia são mais ou menos idênticas no tratamento do animal".
A Fifur condenou a gravação não autorizada dos vídeos e afirmou que eles não representam a realidade.
"Eles dão uma imagem completamente falsa da paternidade", disse à AFP seu porta-voz, Olli-Pekka Nissinen.
A organização diz que mostrou os vídeos para seus criadores, mas eles "não reconhecem seus animais, exceto talvez uma raposa prateada".
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Ainda assim, visitas veterinárias serão organizadas para investigar as acusações, disse a Fifur.
As quatro fazendas certificadas "são bem administradas e certificadas e têm criadores que cuidam de seus animais", disse Nissinen.
O sistema de certificação, destinado a atestar o bom estado de saúde dos animais, inclui visitas de controle anuais.
"Em geral, uma fazenda que possui entre 5.000 e 10 mil animais pode ter infecções repentinas", mas as estatísticas mostram que "os ferimentos e a mortalidade são bastante baixos", argumentou Nissinen.
A Dinamarca, campeã mundial de visons, optou por abater mais de 15 milhões desses animais por precaução à saúde. A reprodução recomeçou timidamente no início de janeiro.