Em desespero, grupo terrorista faz “jogo de cena” para mostrar força
Extremistas estão apostando na propaganda para passar imagem de poder
Internacional|Caíque Alencar, estagiário do R7*
Perdendo cada vez mais territórios na Síria e desesperado para mostrar que ainda tem poder militar, o Daesh (também conhecido como Estado Islâmico) passou a fazer um “jogo de cena” e aderiu ao marketing para passar a imagem de força para a comunidade internacional, um exemplo disso foram as recentes ameaças do grupo contra a Copa do Mundo de 2018. De acordo com especialistas ouvidos pelo R7, o grupo radical está com os dias contados e já não tem mais a mesma influência dos seus tempos de auge em 2014.
Conforme explica o professor José Niemeyer, coordenador do curso de Relações Internacionais do Ibmec/RJ (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais do Rio de Janeiro), um dos sinais que o Daesh tem perdido força são as ameaças dos jihadistas em fazer novos atentados terroristas. “Isso tudo está me parecendo mais jogo de cena do que necessariamente algo mais organizado”, diz o professor.
— A própria ação violenta determina uma diminuição de projeção do ponto de vista do poder. É como nas relações humanas. Só partem para a violência aqueles que estão muito frágeis. Quando você diz para alguém que vai quebrar a cara dele e você não faz nada, aí você começa a perder um poder muito grande junto àqueles que convivem junto com você. Eles veem que você está com uma retórica de insolência, mas não está conseguindo realizar a ação que você diz que vai realizar.
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Um dos exemplos que Niemeyer cita como uma ameaça que não deve se concretizar são as recentes imagens que o Daesh divulgou sobre a Copa do Mundo. Na última delas, publicada no domingo (29), Neymar aparece agachado em uma cena que lembra os assassinatos feitos por degolamento praticados pelos extremistas.
Apesar de muitas dessas imagens serem chocantes, a capacidade do Daesh se esgotou nos últimos anos, o que pode ser observado principalmente pela sua perda de território no Oriente Médio e a diminuição de seu poderio bélico dentro da Síria.
— A Síria é o principal ponto de atuação deles e de atuação desses extremistas. E é exatamente na Síria que eles não estão conseguindo mostrar o peso que eles diziam que tinham. Quer dizer, com a entrada da Rússia apoiando o governo sírio, com os rebeldes sendo apoiados também pelo serviço secreto das potências centrais, principalmente os Estados Unidos, e com a vitória do governo em algumas regiões, isso fica cada vez mais evidente.
Segundo a agência de consultoria IHS Markit, a área controlada pelo Daesh no Oriente Médio em janeiro de 2015 era de 90.800 km². Essa extensão territorial caiu para 78.000 km² em janeiro de 2016 e despencou ainda mais no mesmo mês de 2017, passando para cerca de 60.400 km². De acordo com o último levantamento feito pelo IHS Markit, em junho deste ano, a área de controle do Daesh era menor ainda, de 36.200 km².
Para o professor de geopolítica De Leon Petta Gomes da Costa, das Faculdades Integradas Rio Branco, um dos reflexos da perda de poder do Daesh é a falta de critérios para que o grupo reconheça a autoria de ataques terroristas.
— Como figura e ator sólido, ele realmente está em desespero. Agora qualquer pessoa que fizer um atentado e falar é que membro, eles vão confirmar porque dá essa aura de poder. Mas fisicamente ele está esgotado. Ele virou algo parecido como um McDonald's do terrorismo. Você pode abrir uma franquia dele em qualquer lugar.
Segundo Costa, a guerra que começou a ser travada passou a ser mais calcada na propaganda e no terror psicológico, conforme também explica o professor de Relações Internacionais da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), Heni Ozi Cukier.
— Não é uma coisa que acabou, mas grande parte da penetração do Daesh acontece hoje no espaço virtual. Inclusive o que se prevê é o aumento de ataques menores em outros países conforme ele perde território. Ele se tornou muito sublocalizado e quase clandestino.
“Nome plantado”
Para José Niemeyer, uma das questões que também precisa ser discutida é o nome pelo qual o Daesh ficou mais conhecido, o que, para ele, foi utilizado de forma estratégica para dar mais credibilidade ao grupo extremista. O professor suspeita, inclusive, que a denominação foi “plantada” por quem sabia o seu real objetivo.
— Eles começaram a sentir que eles precisavam mostrar para a comunidade internacional que eles não eram simplesmente um grupo terrorista. Eles precisaram começar a arregimentar mais apoio, então, como Estado Islâmico, eles começaram a conseguir esse apoio maior. Eles diziam que não era só um grupo terrorista, era uma organização que tinha pilares religiosos, organização política e o objetivo da criação de um Estado na perspectiva territorial.
*Sob supervisão de Fábio Cervone