Embarcação Sea Watch se nega a devolver 52 imigrantes à Líbia
Organização humanitária resgatou no Mediterrâneo e alegou que não vai enviá-los à Tripoli por não ser um porto seguro, apesar de exigência italiana
Internacional|Da EFE
A organização humanitária Sea Watch anunciou nesta quinta-feira (13) que não devolverá à Líbia os 52 imigrantes que foram resgatados na quarta-feira (12) no Mediterrâneo por não ser um porto seguro, apesar de a Itália exigir o desembarque destas pessoas em Trípoli.
"A Sea Watch não desembarcará os náufragos na Líbia. Trípoli não é um porto seguro. Devolver necessariamente pessoas salvas no mar a um país em guerra, para que as encarcerem e torturem, é crime", denunciou a organização alemã nas redes sociais.
Os imigrantes foram resgatados ontem quando viajavam em um barco em frente ao litoral da Líbia, concretamente a cerca de 75 quilômetros do litoral da cidade de Zawiya, próxima à fronteira com a Tunísia e área de atividade das máfias que se dedicam ao tráfico de pessoas.
O ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, artífice da política de portos fechados às embarcações de ONGs, pediu ao navio da Sea Watch que se dirija ao porto de Trípoli e fez ameaças caso não seja ouvido.
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"O barco ilegal, após embarcar 52 migrantes em águas líbias, se encontra a 38 milhas do litoral da Líbia, a 125 de Lampedusa, a 78 da Tunísia e a 170 de Malta. As autoridades líbias atribuíram oficialmente Trípoli como porto mais próximo para o desembarque. Se este navio ilegal desobedecer tal ordem, pondo em perigo os migrantes, responderá por isso", afirmou Salvini.
A Itália alcançou acordos com as autoridades que controlam Trípoli para que se encarreguem de interceptar os barcos.
"É vergonhoso que a Itália promova estas atrocidades e que os governos da União Europeia sejam cúmplices", lamentou a ONG.
A organização publicou uma troca de e-mails com as autoridades da Guarda Costeira da Líbia nos quais é ameaçada, a pedido da Itália, a transferir os resgatados a Trípoli.
A Sea Watch responde com uma negativa, ao apontar que a Líbia "não está qualificada como um porto seguro", como respaldam vários tribunais italianos em diversas sentenças.
"As pessoas a bordo escapam de países em guerra e, como capitão de um navio com bandeira europeia, não posso assumir a responsabilidade de devolvê-las necessariamente. Portanto sou obrigado a ignorar a indicação de Trípoli como porto seguro e pedir um acordo com a lei de busca e resgate, de refugiados e os direitos humanos", completou a ONG.
Imediatamente depois, Salvini acusou a ONG de "sequestrar os imigrantes por motivos políticos" e de utilizá-los porque foi a organização a que previamente tinha pedido que a Líbia indicasse um porto para se dirigir.
O Conselho de Ministros italiano aprovou na terça-feira sanções de entre 10 mil e 50 mil euros às ONGs que entrem, transitem ou estacionem em águas territoriais italianas, um decreto de lei que ainda tem que ser aprovado pelo parlamento, mas que não inclui as multas de até 5 mil euros por cada imigrante resgatado no Mediterrâneo que Salvini queria aplicar a princípio.