Entenda como ‘cerveja psicodélica’ ajudou império pré-inca no Peru a consolidar poder
Pesquisa sugere que bebida misturada a planta alucinógena fortalecia laços sociais e ajudava os Wari a expandir domínio
Internacional|Do R7
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O crescimento do império Wari, civilização que antecedeu os incas no Peru, pode ter sido impulsionado por uma bebida incomum: uma espécie de “cerveja psicodélica”. É o que propõe um novo estudo publicado na revista científica Journal of American Archaeology.
Os Wari floresceram entre os anos 600 e 1000 d.C. e construíram cidades como Huari e Pikillaqta, com templos, moradias da elite e extensas redes administrativas. O império controlava grande parte do atual território peruano e de áreas na Argentina e no Chile.
Segundo os pesquisadores, os governantes Wari misturavam uma planta com propriedades alucinógenas, chamada vilca (Anadenanthera colubrina), a uma cerveja feita da planta Schinus molle.
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Essa combinação teria produzido efeitos psicodélicos mais suaves, mas duradouros, que podiam influenciar o comportamento das pessoas daquela civilização durante dias ou até semanas.
“O consumo dessa mistura teria reduzido, mas prolongado o efeito da vilca”, disse Justin Jennings, curador de Arqueologia Sul-Americana do Museu Real de Ontário e coautor do estudo.
Bebidas com política?
De acordo com o artigo, os banquetes comunitários onde a cerveja era servida reuniam grupos de diferentes origens dentro das residências de autoridades Wari. O ambiente isolado e o efeito coletivo da bebida teriam fortalecido vínculos sociais e políticos.
“Essas reuniões eram experiências coletivas marcantes, que criavam laços fortes entre os participantes”, afirmam os pesquisadores.
O estudo sugere ainda que os efeitos psicológicos da bebida – como aumento de empatia e abertura emocional – teriam sido úteis para um império que precisava integrar povos antes rivais.
“Os efeitos persistentes do consumo podem ter sido essenciais para a legitimação e consolidação do poder Wari”, disse Jacob Keer, coautor do trabalho.
Evidências e ceticismo
Restos de sementes de vilca foram encontrados em sítios arqueológicos Wari, próximos a vestígios da cerveja à base de Schinus molle. Para os autores, isso dá força à hipótese da mistura.
Mas outros especialistas pedem cautela. Patrick Ryan Williams, diretor da Escola de Evolução Humana e Mudança Social da Universidade Estadual do Arizona, nos EUA, considera a hipótese interessante, mas diz que ainda faltam provas diretas.
“Encontrar sementes de vilca onde a cerveja era consumida não é evidência suficiente de que as duas foram misturadas”, disse Williams ao site especializado Live Science. “Precisamos detectar traços químicos da planta nas cerâmicas usadas”.
Mary Glowacki, arqueóloga e presidente do Grupo de Pesquisa Arqueológica Pré-Colombiana, também elogiou o estudo, mas ponderou que o uso de substâncias intoxicantes em rituais políticos era comum em várias culturas andinas antigas.
Perguntas e Respostas
Qual é a proposta do estudo sobre a 'cerveja psicodélica' e o império Wari?
O estudo sugere que o crescimento do império Wari, que precedeu os incas no Peru, pode ter sido impulsionado por uma 'cerveja psicodélica'. Essa bebida era feita a partir da mistura de uma planta alucinógena, a vilca, com uma cerveja feita da planta Schinus molle.
Quando e onde os Wari floresceram?
Os Wari floresceram entre os anos 600 e 1000 d.C. e construíram cidades como Huari e Pikillaqta, abrangendo grande parte do atual território peruano e áreas na Argentina e no Chile.
Quais eram os efeitos da mistura da cerveja com a vilca?
A combinação da cerveja com a vilca produzia efeitos psicodélicos mais suaves, mas duradouros, que podiam influenciar o comportamento das pessoas por dias ou até semanas. Segundo Justin Jennings, coautor do estudo, o consumo dessa mistura prolongava o efeito da vilca.
Como os banquetes comunitários contribuíam para a sociedade Wari?
Os banquetes comunitários, onde a cerveja era servida, reuniam grupos de diferentes origens nas residências das autoridades Wari. O ambiente isolado e o efeito coletivo da bebida fortaleciam vínculos sociais e políticos entre os participantes.
Quais benefícios psicológicos a bebida poderia trazer para o império?
Os efeitos psicológicos da bebida, como aumento de empatia e abertura emocional, eram considerados úteis para integrar povos antes rivais, ajudando na legitimação e consolidação do poder Wari, conforme afirmado por Jacob Keer, coautor do estudo.
Que evidências arqueológicas sustentam a hipótese da mistura?
Restos de sementes de vilca foram encontrados em sítios arqueológicos Wari, próximos a vestígios da cerveja à base de Schinus molle, o que fortalece a hipótese da mistura proposta pelos pesquisadores.
Quais são as críticas à hipótese apresentada no estudo?
Patrick Ryan Williams, diretor da Escola de Evolução Humana e Mudança Social da Universidade Estadual do Arizona, considera a hipótese interessante, mas ressalta a falta de provas diretas. Ele argumenta que encontrar sementes de vilca onde a cerveja era consumida não é evidência suficiente de que as duas foram misturadas, sendo necessário detectar traços químicos da planta nas cerâmicas usadas.
Qual é a opinião de outros especialistas sobre o uso de substâncias intoxicantes em rituais?
Mary Glowacki, arqueóloga e presidente do Grupo de Pesquisa Arqueológica Pré-Colombiana, elogiou o estudo, mas observou que o uso de substâncias intoxicantes em rituais políticos era comum em várias culturas andinas antigas.
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