Epidemia de opiáceos deve ser questão médica, diz jornalista
Em artigo, especialista afirma que o vício neste tipo de droga precisa receber atenção do sistema de saúde da mesma forma que outras doenças fatais
Internacional|Beatriz Sanz, do R7
Um fato recorrente na longa guerra às drogas nos EUA é o pedido de que o vício seja tratado como uma questão de saúde e não de segurança pública.
O jornalista German Lopez, do portal Vox, que acompanha o assunto vai além. Em uma coluna sobre o tema, relembrando a extensa cobertura feita por ele sobre a epidemia de opiáceos no país em 2018, o jornalista afirma que o vício deve ser visto como uma questão médica, merecendo a mesma atenção que outras doenças.
Ele explica, por exemplo, que se um paciente com problemas cardíacos desse entrada em um pronto socorro e morresse por falta de tratamento adequado seria uma “catástrofe”. Lopez acredita que a diferença entre as doenças cardíacas e o vício é apenas o estigma que os usuários sofrem.
Leia também
Um relatório mostra que apenas 10% das pessoas que deram entrada nos hospitais por conta de overdose, em 2016, receberam cuidados médicos adequados para o vício.
Para efeito de comparação, em 2017, cerca de 49 mil pessoas morreram por overdose de opiáceos nos Estados Unidos, um recorde no país.
Médicos e receitas adequadas
Segundo Lopez, uma forma de tentar reduzir os riscos da epidemia de opiáceos é que os médicos estejam preparados para atender dignamente os usuários de opiáceos e que eles possam prescrever a medicação substituta adequada.
Hoje, dois medicamentos podem ser usados para lidar com as crises de abstinência de dependentes químicos, a buprenorfina e a metadona.
Estudos comprovam que esses remédios são altamente eficazes para o tratamento da dependência de opiáceos e podem reduzir em até 50% a morte dos pacientes com vício. Além disso, tanto a buprenorfina e metadona ajudam a manter o usuário no tratamento.
No entanto, o uso dos dois remédios é mínimo em todo o país. O relatório da Comissão de Opióides da Casa Branca divulgado no ano passado aponta que apenas cerca de 5% dos médicos do país estão autorizados a prescrever buprenorfina em suas receitas.
Com uma oferta tão baixa de médicos que podem receitar esse remédio, grande parte dos EUA ficam sem a cobertura adequada. O mesmo relatório mostra que 47% dos condados dos EUA — e 72% dos condados rurais — não têm médicos que possam prescrever o medicamento.
Outras falhas
Investigações feitas pelo próprio Lopez mostram que apenas um estado norte-americano (Rhode Island) oferece tratamentos adequados para prisioneiros viciados em opiáceos.
Outra questão que diminui o acesso das pessoas necessitadas aos cuidados médicos é a determinação dos planos de saúde e seguradoras de não reembolsarem os pacientes viciados que buscam tratamentos nos hospitais.
Os EUA não possuem um sistema público e gratuito de saúde, por isso todos os tratamentos são pagos.