Especialistas afirmam que golpe militar contra Nicolás Maduro não salvará Venezuela da crise
Problemas de abastecimento vão além da questão econômica
Internacional|Do R7*
Os líderes de oposição venezuelana Leopoldo Lopez, Antonio Ledezma e Marina Corina manifestaram na última semana em comunicado à população a preocupação com a crise da Venezuela e aconselharam ao presidente Nicolás Maduro se afastar do poder.
"Filas para comprar alimentos, escassez de produtos, inflação e alto índice de violência são sinais de que precisamos soluções urgentes e imediatas, saídas políticas dentro da Constituição” expressaram os políticos.
Segundo os opositores, o presidente Maduro não tem a capacidade, apoio popular, nem força de vontade para tirar o país da crise. “O melhor presente que o senhor Maduro daria ao povo venezuelano seria a sua renúncia, assim a Venezuela poderia se reconstruir” declaram conjuntamente.
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Ledezma e Corina convocaram a população a realizar protestos nas ruas de forma pacífica e democrática para manifestar a rejeição contra um sistema político "empobrecedor".
Segundo Marcus Vinicius de Freitas, professor de Direito e Relações Internacionais da FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado), mudanças de comando no país neste ano são muito improváveis de acontecer. Ele acredita que para o presidente Maduro abandonar o poder seria necessário um golpe militar, ou seja, exigiria a organização das forças militares junto à sociedade civil.
O especialista em Relações Internacionais e professor do Senac-SP, André Mendes Pini, concorda com Freitas e afirma que a crise econômica do país pode significar uma oportunidade para oposição tentar confundir a população e tirar a esquerda do poder.
— As elites venezuelanas possuem um histórico de se aproveitarem de situações como estas para intensificar as crises. O governo precisa lidar com a ascensão da direita, assim como com as rupturas internas do chavismo que estão agravando a situação.
Ameaça de Golpe ou Boato
Um relatório recentemente publicado pela agência norte-americana Stratfor indicou que o presidente venezuelano poderia sofrer um Golpe Militar ao voltar ao país de origem. Segundo fontes consultadas pela agência, haveria um descontentamento por parte de alguns membros do PSUV — partido governista — e os coletivos chavistas que junto à oposição tentarão impedir que o líder bolivariano assuma novamente o governo nos próximos dias.
Entre os motivos mencionados pelo relatório estariam a crise econômica e o desabastecimento de alimentos no país.
Segundo André Mendez Pini, é necessário lembrar que junto à escassez de alimentos existe um setor privado que aproveita o momento para uma possível ascensão, boicotando o governo e agravando a insatisfação popular.
O R7 entrou em contato com o coletivo juvenil Cinco de Março do Estado de Monagas, e eles comentaram que os alimentos que não estavam nos supermercados eram vendidos em preços elevados nos mercados informais e em grandes quantidades. “A gente acha muito estranho e misterioso mas nos últimos meses foram encontrados nos armazéns de empresas privadas muitos alimentos que eram desviados a revendedores para incrementar a especulação” declararam.
O Ministério do Poder Popular e da Presidência da Venezuela confirmou em entrevista telefônica ao Portal R7, por meio da sua assessoria, que as ameaças de golpe militar são boatos e tentativas da oposição para confundir a população. Eles manifestaram não estar preocupados com as mobilizações promovidas pelos líderes. “Guerra avisada não mata soldados” explicaram.
Renúncia do Presidente
Nas últimas duas semanas, o mandatário Maduro realizou negociações com a China, Rússia e Irã e outros mandatários do Oriente Médio para debater as consequências que o baixo preço do petróleo está provocando no país. Ele também solicitou um empréstimo ao líder chinês em um encontro na segunda-feira (5). Para a imprensa, o presidente declarou que após sua “volta ao mundo”, ele conta com todos os recursos necessários para devolver a estabilidade a Venezuela.
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Porém, o comunicado elaborado pela oposição conclui solicitando a renúncia do presidente Maduro e afirmando que a hora das mudanças chegou e é preciso protestar contra uma ditadura que não tem mais como contribuir ao país.
Henrique Capriles, governador de Miranda e também líder de oposição, se opõe a essa teoria "golpista" e afirmou em coletiva de imprensa nesta quarta-feira(14) que não é necessário mudar o poder para estabilizar a Venezuela. No entanto, ele procura conversar com os outros líderes da oposição.
O professor Marcos Freitas considera que uma mudança de poder ou um golpe militar só contribuiria a agravar a crise econômica do país. Produzirá desconfiança em novos investidores, assim como problemas com os acordos do Mercosul.
* Texto de Katherine Rivas, estagiária do R7