Estreito de Ormuz: como o Irã pode bloquear a rota marítima?
Ameaça de interrupção em passagem estratégica para o petróleo global preocupa líderes mundiais; entenda riscos e implicações
Internacional|Do R7

O Estreito de Ormuz, uma estreita passagem marítima entre o Irã e a península Arábica, voltou ao centro das atenções globais em meio à escalada sem precedentes no conflito entre Israel e Irã.
Por ali, passam cerca de 20 milhões de barris de petróleo por dia – quase um quinto do consumo mundial – e grandes quantidades de gás natural liquefeito, segundo a rede Al Jazeera.
No domingo (22), o Irã aprovou o fechamento do Estreito como uma medida retaliatória aos bombardeios lançados no dia anterior pelos Estados Unidos contra as três principais instalações nucleares iranianas.
A possibilidade de interrupção na passagem poderia abalar a economia global. Mas como o Irã poderia fechar essa rota estratégica? Por que essa ameaça é tão temida? E quais seriam as consequências?
Abaixo, o R7 explica o que está por trás dessa tensão.
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O que é o Estreito de Ormuz?
O Estreito de Ormuz é uma passagem marítima que conecta o Golfo Pérsico ao Golfo de Omã e, posteriormente, ao Oceano Índico.
Localizado entre o Irã, ao norte, e Omã e os Emirados Árabes Unidos, ao sul, o estreito tem cerca de 33 km de largura em seu ponto mais estreito.
Apesar de parecer amplo, o tráfego marítimo é restrito a dois corredores de navegação, cada um com apenas 3 km de largura: um para entrada e outro para saída do Golfo Pérsico, ambos separados por uma faixa de 3 km.
Esses corredores, definidos internacionalmente para evitar acidentes, são como uma “estrada marítima” de mão dupla. Por eles, passam diariamente petroleiros e navios de carga que transportam petróleo e gás de países como Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Iraque e Catar, principalmente para a Ásia.
Por que o Irã pode ameaçar o estreito?
A ameaça de fechar o Estreito de Ormuz ganhou força após a decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de bombardear as três principais instalações nucleares iranianas: Fordow, Natanz e Isfahan.
Esse foi o primeiro ataque militar norte-americano contra o Irã desde a Revolução Islâmica de 1979, segundo a rede Al Jazeera. O Irã prometeu retaliar, e uma das opções seria interromper o tráfego no estreito.
Embora o estreito esteja em águas internacionais, segundo o direito marítimo da ONU (Organização das Nações Unidas), a geografia e o poderio militar do Irã tornam a ameaça possível.
Os corredores de navegação, estreitos e previsíveis, ficam ao alcance de armas iranianas, como mísseis, drones e minas navais.
No domingo, a mídia estatal iraniana informou que o parlamento do país aprovou uma medida para fechar o estreito. A decisão final sobre a medida, no entanto, cabe ao Conselho Supremo de Segurança Nacional.
O ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, afirmou que os EUA cruzaram “uma linha vermelha muito grande” e que o Irã tem “várias opções” de retaliação, sem confirmar o bloqueio.
Já o líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, disse que Israel cometeu um “grave erro” e “deve ser punido”, mas não mencionou o estreito diretamente.
Como o Irã poderia bloquear o estreito?
O Irã possui estratégias militares que poderiam dificultar ou interromper o tráfego no Estreito de Ormuz. Veja as principais:
- Minas navais: pequenas, silenciosas e difíceis de detectar, as minas podem ser lançadas por submarinos, navios ou helicópteros. O Irã possui milhares delas, incluindo o modelo EM-52, de fabricação chinesa, que lança foguetes ao detectar alvos;
- Mísseis antinavio: o Irã mantém baterias móveis de mísseis, como os modelos Noor e Khalij Fars, ao longo de sua costa montanhosa. Esses mísseis têm alcance para atingir navios em navegação e podem ser escondidos, dificultando ataques contra eles;
- Lanchas rápidas e drones: a Guarda Revolucionária Iraniana opera lanchas rápidas e drones kamikazes, capazes de atacar em “enxames”. Essa tática já foi usada contra navios ligados a Israel no passado, segundo a Al Jazeera; e
- Apreensão de navios: o Irã já capturou petroleiros no passado, como em 2019, quando apreendeu embarcações britânicas em retaliação à captura de um navio iraniano em Gibraltar. Em 2023, o petroleiro Advantage Sweet foi apreendido e liberado após mais de um ano.
Quais seriam as consequências?
Fechar o Estreito de Ormuz teria impactos globais imediatos. Segundo o Goldman Sachs, um bloqueio poderia elevar o preço do petróleo a mais de US$ 100 por barril, aumentando os custos de produção e a inflação, especialmente para bens como alimentos e produtos químicos.
Países importadores de petróleo enfrentariam crescimento econômico mais lento, e bancos centrais poderiam adiar cortes nas taxas de juros.
A simples ameaça de fechamento já tem afetado o mercado. Seguros marítimos sobem, navios desviam rotas, e o preço do barril reage.
Mas o bloqueio também seria prejudicial ao Irã. O país exporta seu próprio petróleo pelo estreito, e um fechamento afetaria a China, que compra quase 90% dessas exportações (cerca de 1,6 milhão de barris por dia).
Além disso, estados árabes do Golfo, como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, poderiam entrar em conflito para proteger seus interesses.
O que diz a comunidade internacional?
Os Estados Unidos e o Reino Unido mantêm patrulhas navais no Golfo Pérsico, lideradas pela Quinta Frota norte-americana, baseada no Bahrein, para garantir a liberdade de navegação. Qualquer tentativa de bloqueio pelo Irã poderia provocar uma resposta militar direta.
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, pediu à China que pressione o Irã, alertando que fechar o estreito seria “suicídio econômico” para Teerã, segundo o jornal britânico The Guardian.
Embora o Irã nunca tenha fechado o Estreito, a ameaça é uma carta política e militar usada há décadas. Incidentes como as “Guerras dos Tanques” na década de 1980, escaramuças com a Marinha americana em 2007 e apreensões de navios mostram que o Irã tem capacidade de causar disrupções.
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