EUA entregam à Argentina 40 mil documentos sobre ditadura
Na Argentina, cerca de 30 mil pessoas desapareceram durante a 'guerra suja' travada pelo regime militar contra organizações opositoras
Internacional|Da EFE
O governo dos Estados Unidos entregou nesta sexta-feira ao ministro da Justiça da Argentina, Germán Garavano, 40 mil documentos que deixaram de ser sigilosos sobre a "guerra suja" da última ditadura argentina (1976-1983), o que poderia esclarecer até que ponto Washington conhecia e aprovava os abusos que foram cometidos.
O bibliotecário, David S. Ferriero, máxima autoridade na conservação de arquivos históricos nos EUA, entregou a Garavano seis discos compactos com 40 mil páginas de documentos abertos, dos quais 97% são públicos em sua totalidade, um percentual muito alto nestes casos.
"Em nome do presidente dos EUA, lhe entrego estes arquivos com a esperança de que possam ajudar a sanar seu país", disse Ferriero a Garavano enquanto entregava uma caixa cinza com os discos.
A entrega aconteceu diante de vítimas da ditadura argentina e diplomatas argentinos e americanos durante uma cerimônia em uma pequena sala do edifício do Arquivo Nacional, em Washington, a agência do governo encarregada de guardar documentos históricos.
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Na cerimônia, Ferriero leu uma carta do presidente dos EUA, Donald Trump, dirigida ao presidente argentino, Mauricio Macri, na qual assegura que esta é "a maior abertura de documentos que os EUA entregam a um governo estrangeiro".
Em resposta ao reconhecimento dos EUA, Garavano expressou seu desejo de que a abertura de documentos ajude a "curar feridas" e "trazer uma justiça forte e verdadeira" à Argentina, onde 200 pessoas já foram julgadas e condenadas desde 2006 por envolvimento nos abusos da "guerra suja".
"Este é um fato histórico, a informação vai permitir que os processos judiciais continuem avançando e, talvez, nos permitirão conhecer o lado obscuro de um período tão sombrio como o que vivemos em nosso país", disse Garavano.
Esta é a última entrega de um projeto de abertura de documentos que começou em 2016 por ordem do então presidente Barack Obama (2009-2017) que, durante uma visita a Buenos Aires, prometeu que seu país assumiria a responsabilidade de "enfrentar o passado com honestidade e transparência".
Os documentos abertos desde 2016 provêm das bibliotecas presidenciais de quatro presidentes: o republicano Gerald Ford (1974-1977); o democrata Jimmy Carter (1977-1981); o republicano Ronald Reagan (1981-1989); e o também conservador George H.W. Bush (1989-1993).
Além disso, inclui documentos internos de 15 agências e departamentos de governo, além de comunicações militares e de inteligência e correspondência oficial.
Na Argentina, cerca de 30 mil pessoas desapareceram durante a "guerra suja" travada pelo regime militar contra organizações armadas opositoras, partidos e sindicatos de esquerda, segundo estimativas de organizações de direitos humanos.