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EUA: sete jovens brasileiros estão separados dos pais em abrigo

Ex-funcionário de abrigo em Tucson, no Arizona, denunciou que filhos de imigrantes chegaram em maio ao local sem nenhuma orientação

Internacional|Fábio Fleury, do R7

Jovens separados dos pais na fronteira dos EUA são mantidos em abrigos
Jovens separados dos pais na fronteira dos EUA são mantidos em abrigos

Sete jovens brasileiros, com idades entre 8 e 17 anos, estão detidos em um abrigo da imigração norte-americana na cidade de Tucson, no Arizona desde o fim de maio, sem contato com a família. A denúncia é de um ex-funcionário, também de origem brasileira, que falou com o R7 sobre a situação.

Antar Davidson de Sá trabalhou por 4 meses no abrigo e se demitiu na última terça-feira. Segundo ele, a situação no local começou a deteriorar no mês passado, depois que o governo Trump adotou a política de 'tolerância zero' e passou a separar filhos de imigrantes de seus pais.

Chegada dos brasileiros

Sá conta que, logo após a mudança de política, em 29 de maio, três irmãos brasileiros, de 16, 10 e 8 anos, chegaram ao abrigo apavorados, separados dos pais e sem notícias deles. Como era o único funcionário do local com conhecimentos de português, ele foi tentar ajudar, mas recebeu uma orientação que considerou cruel.


— Pediram para não deixar eles ficarem abraçados. Achei isso muito errado. Eles estavam chorando muito, porque achavam que a mãe deles tinha morrido, entenderam errado o que os guardas falaram. Tive que explicar que na verdade eles não sabiam onde a mãe estava. Falaram que levaria uma semana para localizá-la e mais uma para conseguir colocar todos em contato.

Antar de Sá fez a denúncia
Antar de Sá fez a denúncia

No dia seguinte, outros quatro adolescentes brasileiros, três de 17 e um de 14 anos também chegaram ao abrigo em Tucson. Os sete, seis vindos de Minas Gerais e um do Rio, ainda estão no local, sem perspectiva de sair ou encontrar os parentes, segundo Sá. Para complicar ainda mais a situação, um deles vai completar 18 anos no próximo dia 24 e as autoridades ainda não definiram se ele será transferido para um local onde estão detidos imigrantes adultos.


Mudança de perfil

A implantação da política de 'tolerância zero' na fronteira dos EUA com o México mudou imediatamente o perfil dos jovens que chegam ao abrigo, segundo Sá. E isso complicou a maneira como os funcionários precisam lidar com eles.


— Até o fim de maio, quem chegava eram jovens vindos da Guatemala e Honduras, que atravessavam a fronteira desacompanhados. Eles sabiam como era o sistema, sabiam que iam ficar algum tempo e, em seguida, ser enviado para responsáveis. Agora não, os jovens são separadas do pais, a maioria não fala inglês, não tem a menor ideia do que está acontecendo. Eles chegam desesperados, gritam pelos corredores, alguns tentam até se matar.

Especialmente na relação com os jovens brasileiros, Sá viu problemas graves. Ele conta que tentou juntar todos em uma turma para ensinar inglês, mas que eles foram separados por idade e precisam aprender o novo idioma em aulas ministradas em espanhol.

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— O pessoal achava que, como eles falam português, iriam entender espanhol. Então tentavam falar em espanhol, gritavam, e eles não entendiam. E o pessoal do abrigo não me deixava ajudar direito. Diziam que eles não podiam ter um "tratamento especial". Tentei o máximo, mas não deu, não queria ser a pessoa que ia contar pra eles que os pais estão presos.

Portões fechados

Outro problema, de acordo com Sá, é que o abrigo oficialmente pertence ao governo federal, mas é operado por uma organização sem fins lucrativos, responsável por 27 instituições do tipo nos estados do Arizona, Texas e Califórnia.

— Nunca vi ninguém do governo federal lá, ninguém tem acesso. Minha sogra é congressista estadual do Arizona e não consegue entrar para inspecionar o lugar. Agora estou trabalhando com ela para tentar melhorar a situação desses jovens, me sinto responsável por elas.

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