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EUA X China: qual o peso do boicote 'diplomático' aos Jogos de Pequim?

Com medida, Biden consegue se posicionar contra o adversário geopolítico sem recorrer à guerra comercial, como fazia Trump

Internacional|Fábio Fleury, do R7

Representantes diplomáticos dos EUA, Reino Unido, Austrália e Canadá vão boicotar Pequim-2022
Representantes diplomáticos dos EUA, Reino Unido, Austrália e Canadá vão boicotar Pequim-2022

Na última segunda-feira (6), o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou que seu país vai fazer um "boicote diplomático" contra os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, que serão disputados em Pequim, capital da China, ao longo do próximo mês de fevereiro.

Segundo a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, a medida serviria para mostrar que a administração Biden não compactua com o que ela chamou de "histórico de violações de direitos humanos" por parte do regime chinês, especialmente nas relações com territórios como Hong Kong e Taiwan, e também no chamado genocídio dos uigures na província de Xinjian.

Após o anúncio americano, várias outras nações tradicionalmente alinhadas com os EUA, como o Reino Unido, a Austrália e o Canadá, também divulgaram que farão parte do boicote diplomático.

Em um primeiro momento, seria possível confundir com o boicote liderado pelos EUA devido à invasão da União Soviética ao Afeganistão, que tirou 65 países, como China, Índia, Argentina e Israel, dos Jogos de Moscou-80. Outros 14 países do bloco soviético acabaram não disputando a edição seguinte, em Los Angeles-84, em retaliação. O Brasil disputou as duas edições.


No entanto, os boicotes da década de 1980 foram completos, os países simplesmente não mandaram representantes para disputar os Jogos. No caso atual, os países que fizeram o anúncio apenas não vão enviar representantes de Estado ou governo para acompanhar e participar de solenidades. Os atletas de todas as delegações poderão estar nas competições.

Disputas geopolíticas

Para o cientista político Leonardo Paz, professor do curso de Relações Internacionais do Ibmec-RJ, a articulação feita pelo governo Biden para unir alguns dos aliados mais tradicionais dos EUA em uma ação conjunta contra a China, seu principal adversário geopolítico, pode render bons frutos no futuro.


"Levando essa disputa para o campo dos direitos humanos, ele ganha em duas pontas, com quem quer bater de frente com a China e com os progressistas, porque é um tema muito caro para essa ala do Partido Democrata. É um tema de política exterma que ganha pontos, avançando agenda e fazendo isso usando ferramentas diplomáticas normais", analisa.

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Para comparar, Leonardo Paz lembra a guerra comercial que o ex-presidente Donald Trump promoveu como modo de desafiar a China no cenário geopolítico. "Subir tarifas de importação, proibir empresas de negociar impactam a indústria e causam muitos problemas, alguns ainda não foram resolvidos. Não mandar uma comitiva para a China tem um impacto muito pequeno", explica.


Com a medida, os EUA também conseguem reunir apoio em torno de uma bandeira em comum, mas que, de acordo com o cientista político, pode ter seu alcance ampliado no futuro. "Colocar todo mundo na mesa para tomar medidas contra a China é muito difícil, ela é o principal parceiro comercial da maioria dos países. Esse boicote não afeta a balança comercial de ninguém e abre portas", diz.

Para contextualizar o possível peso do boicote, o professor relembra a tentativa do governo de Barack Obama de pedir que países aliados entrassem como acionistas do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, entidade proposta pela China que financia dezenas de projetos pelo mundo, especialmente a Nova Rota da Seda, o principal plano do presidente chinês Xi Jinping.

"Obama tentou fazer com que os países não entrassem no banco e se deu mal, até o Reino Unido entrou como acionista. Construir alianças pontuais contra a China é muito difícil, e nesse caso é uma vitória. Eu daria uma medalha [a Biden]", completa Paz.

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