'Foi consumado o golpe mais nefasto da história', diz Morales
Ex-presidente criticou cerimônia de posse de Jeanine Añez na noite de terça-feira, em cerimônia sem quórum legislativo e cercada por militares
Internacional|Da EFE
Dois dias após renunciar à presidência da Bolívia, Evo Morales denunciou que o país presenciou "o golpe mais ardiloso e nefasto da história", declaração feita logo após a proclamação da senadora opositora Jeanine Áñez como presidente interina.
"Foi consumado o golpe mais ardiloso e nefasto da história. Uma senadora de direita golpista se autoproclama presidente do Senado e depois presidente interina da Bolívia sem quórum legislativo, rodeada de um grupo de cúmplices e protegida pelas Forças Armadas e pela polícia, que reprimem o povo", escreveu Morales no Twitter.
O ex-presidente denunciou à comunidade internacional que "a autoproclamação de uma senadora como presidente" viola a Constituição boliviana e as normas internas da Assembleia Legislativa.
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Segundo Morales, a proclamação "ocorre sobre o sangue de irmãos assassinados por forças policiais e militares usadas para o golpe".
Cerimônia de posse
Áñez assumiu na terça-feira (12) a presidência interina da Bolívia - vacante desde a renúncia de Evo Morales - em sessão no Parlamento que não contou com a presença dos representantes do Movimento ao Socialismo (MAS), partido do agora ex-governante.
"Assumo de imediato a Presidência do Estado", proclamou a senadora da União Democrata, que ativou a linha de sucessão após as saídas de Morales e de todos os cargos que estavam acima dela.
Antes de assumir a presidência interinamente, Áñez foi nomeada presidente do Senado, do qual era uma das vice-presidentes.
A Constituição boliviana estabelece que, na ausência do chefe de Estado, assumirão a presidência, na ordem, o vice-presidente do país, o presidente do Senado e o do Congresso. As pessoas que ocupavam todos esses cargos renunciaram após a saída do mandatário.
Morales, que aceitou asilo político do México, renunciou à presidência no último domingo, após ser pressionado pelas Forças Armadas e depois de uma auditoria da Organização dos Estados Americanos (OEA) apontar graves irregularidades na apuração dos votos das eleições presidenciais de 20 de outubro, nas quais ele foi reeleito em primeiro turno para o quarto mandato consecutivo.
Resposta de Añez
A senadora opositora Jeanine Áñez, que na terça-feira se declarou presidente interina da Bolívia, atacou Evo Morales, chamando o ex-presidente de "covarde" por ter seguido para asilo no México.
"O presidente Morales saiu porque queria, porque não se atreveu a responder ao país, isso foi um ato covarde. Agora ele está no México querendo se passar como vítima e enganando o mundo inteiro dizendo que o que aconteceu na Bolívia foi um golpe", disse Áñez, em entrevista à "CNN em espanhol".
Em resposta à afirmação de Morales de que "ocorreu o golpe mais artístico e nefasto da história", Jeanine Áñez disse que "tudo isso é tão falso quanto as eleições do dia 20 de outubro", das quais o ex-presidente foi vencedor entre alegações de fraude que desencadearam uma onda de protestos violentos com oito mortos e cerca de 500 feridos.
A presidente interina reiterou que "o que aconteceu foi uma sucessão e que ela está ocupando seu legítimo lugar". Além disso, ela afirmou que depois de uma reunião com o comando militar, foi reconhecida como presidente da Bolívia.
Jeanine Áñez disse ter agido como o estabelecido na Constituição e assumiu a presidência interina pois "não poderia haver ausência do Estado diante de atos de vandalismo nas ruas".
"A demanda da sociedade era pacificar a Bolívia. Não podíamos ficar indiferentes à situação que Evo Morales nos deixou", afirmou.
A advogada de 52 anos disse que será formado um Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) por "pessoas que terão méritos, que não precisam prestar contas a um partido político da maneira mais vergonhosa e que convocação novas eleições em breve".