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França vai às urnas com avanço da direita, apoio à Ucrânia em risco e guinada na política militar

Pesquisa indica 36,5% de intenções de voto a partido liderado por Marine Le Pen no 1º turno nas eleições parlamentares deste domingo

Internacional|Do R7, com Estadão Conteúdo

Emmanuel Macron convocou novas eleições que podem fortalecer a direita na França Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil – 28.03.2024

Os eleitores da França vão às urnas, neste domingo (30), para escolher parlamentares depois que o presidente Emmanuel Macron decidiu dissolver a Assembleia Nacional. Prerrogativa do presidente, a manobra trocará 577 legisladores e foi adotada pela primeira vez desde 1997 depois do sucesso da direita nas eleições europeias em junho.

Pesquisa do instituto Ifop-Fiducial indica que os candidatos do RN (Reagrupamento Nacional), partido liderado por Marine Le Pen, seguem na liderança com 36,5% das intenções de voto no primeiro turno.

O RN está à frente da NFP (Nova Frente Popular) com 29%, a união de partidos de esquerda, e do campo do presidente Emmanuel Macron, o Ensemble (20,5%). Muito atrás, os republicanos receberam 7% das intenções de voto.

Após o segundo turno, marcado para 7 de julho, o Ifop-Fiducial prevê entre 225 e 265 assentos para o RN, campo liderado por Jordan Bardella, contra 88 hoje — quando a maioria absoluta está fixada em 289.


O índice de participação permanece elevado. Chegou a ganhar 1 ponto em relação a 27 de junho, ficando em 67%. Para efeito de comparação, durante as eleições legislativas anteriores, 49% dos eleitores foram às urnas. Além disso, 83% dos eleitores afirmam ter certeza da sua escolha. Isso significa que apenas 17% dos eleitores afirmam que ainda podem mudar de ideias.

Nova política militar e apoio à Ucrânia

A líder da direita radical Marine Le Pen disse na última quinta (27) que, se seu partido conquistar a maioria na Assembleia Nacional, poderá tomar algumas decisões sobre defesa e Forças Armadas. A declaração põe em dúvida o apoio francês à Ucrânia na guerra contra a Rússia, já que Le Pen é aliada de Vladimir Putin.


O papel de comandante das forças, porém, é uma zona cinzenta da Constituição francesa. O país tem um regime de governo semipresidencialista, e cientistas políticos estão se tentando interpretar como exatamente o presidente Emmanuel Macron e um primeiro-ministro hostil às suas políticas compartilhariam o poder se o RN de Le Pen ganhar a maioria no Parlamento.

Segundo Le Pen, Jordan Bardella, seu protegido e líder de destaque de seu partido, lideraria o próximo governo da França se seu partido ganhar. Ela sugeriu em uma entrevista que Bardella, com apenas 28 anos e sem experiência governamental, também assumiria pelo menos algumas decisões sobre a defesa da França e suas Forças Armadas. Macron tem três anos para cumprir seu último mandato como presidente.


Servir como um comandante-em-chefe das Forças Armadas “é um título honorário para o presidente, já que é o primeiro-ministro quem realmente puxa as cordas”, disse Le Pen em uma entrevista ao jornal Le Télégramme.

A constituição francesa declara que “o Presidente da República é o chefe das forças armadas” e também “preside os conselhos e comitês superiores de defesa nacional”. No entanto, a constituição também afirma que “o primeiro-ministro é responsável pela defesa nacional”.

Especialistas constitucionais dizem que o papel exato do primeiro-ministro em política exterior e defesa parece estar sujeito a interpretação. Essa é uma questão com potenciais repercussões globais: a França possui armas nucleares, e suas tropas e pessoal militar foram destacados em muitas zonas de conflito ao redor do mundo.

A última vez que a França teve um primeiro-ministro e um presidente de partidos diferentes, eles concordaram amplamente sobre assuntos estratégicos de defesa e política exterior. Mas desta vez, o conceito de compartilhamento de poder conhecido na França como “coabitação” pode ser muito diferente, dado a animosidade entre políticos de direita radical e esquerda. Ambos os blocos parecem ressentir profundamente do presidente centrista e favorável aos negócios.

Em março, Macron alertou as potências ocidentais contra mostrar quaisquer sinais de fraqueza para a Rússia e disse que os aliados da Ucrânia não devem descartar enviar tropas ocidentais para a Ucrânia para ajudar o país contra a agressão da Rússia.

Le Pen está confiante de que seu partido, que tem um histórico de racismo e xenofobia e laços com a Rússia, conseguirá traduzir seu triunfo impressionante nas eleições para o Parlamento Europeu no início deste mês em uma vitória na França.

O primeiro turno acontece neste domingo. O decisivo segundo turno ocorre daqui a uma semana, em 7 de julho. O resultado permanece incerto devido a um sistema de votação complexo e alianças potenciais.

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