Grávida, brasileira retida no Líbano lida com falta de assistência médica
Com seis semanas de gestação, agente de turismo não tem previsão de voo de volta e relata "situação desesperadora". Há outros 42 brasileiros no país
Internacional|Clarice Sá, do R7
Grávida de seis semanas, a agente de turismo Renata Messias, de 40 anos, ainda não sabe quando poderá voltar ao Brasil para fazer seus exames de pré-natal. Ela está retida no Líbano por conta do lockdown que vigora no país desde 18 de março. A história de Renata, no entanto, começa dois dias antes, quando foi impedida de embarcar para o Rio de Janeiro com um passaporte fornecido pela Embaixada após perder o documento em um táxi. Nesse dia, 16 de março, foi declarado estado de emergência no país. Renata enfrentou um labirinto burocrático que resultou em sua permanência e se estende até este domingo (12).
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A viagem que seria uma visita técnica para analisar o potencial libanês como destino turístico é hoje permeada por sentimentos de angústia e impotência. “Cada dia que passa é uma diária de hotel que eu tenho que pagar a mais. Não tenho mais dinheiro pra ficar aqui. Vim como turista. Estou grávida, estou passando mal, enjoando, super fraca. Não consigo sair da cama direito, não consigo comer direito. Preciso voltar, preciso fazer pré-natal, exame. Minha situação é desesperadora”, desabafa. O plano de saúde que contratou para a viagem expirou e o sistema público é restrito a residentes. “Não tenho família aqui, não tenho pra onde correr.” Não há perspectiva para voo de retorno.
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Somam-se à situação a falta de transparência e a dificuldade de articulação que enxerga nas autoridades brasileiras. Representantes do governo chegaram a dizer que pressionariam as companhias aéreas a honrarem seus compromissos em meio a uma enxurrada de cancelamentos.
“A gente recebe informação de outras fontes de que nada está sendo feito. Toda a atuação do consulado é no sentido de por panos quentes, sendo que o próprio Itamaraty não dá uma resposta condizente. Não dá um prazo, não dá uma data. O governo libanês fala que nada está sendo feito [pelo governo brasileiro]”, afirma. “Há uma dificuldade aparentemente imposta pelo governo libanês que nosso consulado não consegue burlar. É um governo muito difícil, só que a impressão que tenho é que o consulado não tem contatos suficientes, não consegue ter uma atuação eficaz.”
Crise
O Líbano enfrenta um momento de convulsão social desde o final do ano passado. A pior crise econômica desde a guerra civil (1975-1990) desencadeou uma onda de 15 dias de protestos em todo o país que culminaram na renúncia do primeiro-ministro Saad al-Hariri no final de outubro. A chamada “revolução do WhatsApp” seguiu em ebulição no início deste ano, com críticas a toda a classe política, considerada incompetente e corrupta. “O governo não tem interesse em abrir o país agora porque eles estão usando a quarentena para conter os ânimos. O Líbano teve pouquíssimos casos de coronavírus e a quarentena é extremamente restritiva”, conta Renata.
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Até a noite deste sábado (11), havia 20 mortes e 619 casos confirmados do novo coronavírus no país, de acordo com a Johns Hopkins University. Há bloqueios para o acessos aos bairros e é preciso comprovar a residência para passar pela barreira policial. Há toque de recolher a partir de 19h - quem não cumpre, paga multa. A circulação de carros está proibida aos domingos.
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“Foi me dito que, se houvesse negociação pelo nosso Consulado, poderia ser que o governo libanês permitisse [o voo de repatriação], porém é um governo difícil complicado, em que tudo é feito na base da propina, da corrupção. Pode ser q queiram dinheiro pra liberar isso”, diz Renata. Além dela, há outros 42 brasileiros no Líbano tentando voltar, de acordo com o Itamaraty.
A artista Naima Yazbek, de de Beirute há 11 anos faz parte do grupo. “Nunca quis sair daqui mas estou numa situação em que preciso estar com minha família e tenho o direito como brasileira de voltar.” A principal preocupação de Naima é a mãe, de 78 anos, que mora sozinha, com quem passou as férias no Brasil em fevereiro. Confinada desde 9 de março, Naima diz que recebe apoio dos amigos, mas sente solidão longe da família.
Itamaraty
Em comunicado, o Itamaraty informa que “as severas restrições de movimentação e o fechamento de todas as fronteiras libanesas - terrestres, marítimas e aéreas - limitam severamente a gama de opções disponíveis para a repatriação. A excepcionalidade da situação e as dificuldades impostas pelo isolamento imposto pelas autoridades no país desaconselham qualquer previsão, mas o Itamaraty está trabalhando, ininterruptamente, para lograr o retorno de nossos compatriotas.”
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Dez brasileiros retidos no Líbano estão em situação de vulnerabilidade e contam com apoio da Embaixada para assistência médica e primeiras necessidades. Estas pessoas e as que não residem no país terão prioridade no retorno.
A recomendação aos brasileiros é informar sua situação à Embaixada em Beirute ou, por telefone, ao Grupo Especial de Crise para assuntos consulares e migratórios. O número para casos na África e Oriente Médio é + 55 (61) 9826 00 568.