Hipopótamos de Pablo Escobar invadem rio na Colômbia
Levados para o zoo particular do traficante, quatro hipopótamos foram abandonados em fazenda e se reproduziram; hoje já são cerca de 60 na região
Internacional|Fábio Fleury, do R7
Quase 25 anos depois da morte de seu mais famoso narcotraficante, a Colômbia ainda lida com as consequências do estilo de vida de Pablo Escobar. A mais extravagante delas: uma população de cerca de 60 hipopótamos que adotou o Rio Magdalena, um dos mais importantes do país, como lar. E o governo colombiano ainda não tem uma política clara para lidar com o problema.
Um zoológico do Equador já se ofereceu para abrigar alguns desses animais, que estão aparecendo cada vez mais frequentemente em cidades próximas do rio Magdalena.
Apesar da aparência dócil e de se alimentarem somente de plantas, estão entre os mamíferos que mais matam humanos na África. A Colômbia ainda não registrou nenhum ataque.
A Fazenda Nápoles
Os hipopótamos são descendentes de três fêmeas e um macho que Escobar importou da África para seu zoológico particular.
Eles foram abandonados na Hacienda Nápoles ("Fazenda Nápoles", em espanhol), a propriedade onde o traficante vivia, no departamento de Antióquia, a cerca de 180 quilômetros de Medellín. O local foi confiscado pelo Estado e hoje abriga um parque de diversões.
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O zoo do traficante, que era aberto à visitação pública, tinha diversas espécies de animais, como girafas, elefantes e rinocerontes. Todos eles foram levados para outros centros depois que Escobar foi morto por policiais em 1993, menos os hipopótamos, que se reproduziram e passaram a se espalhar pelo rio Magdalena.
O pai de todos, conhecido na Colômbia pelo apelido de El Viejo (O Velho, em espanhol), continua vivendo no lago da fazenda.
Alguns de seus descendentes mais jovens — e mais aventureiros — já foram vistos caminhando pelas ruas de cidades próximas à Fazenda Nápoles, como Puerto Triunfo. Pescadores da região também chegaram a capturar filhotes. O vídeo abaixo mostra o passeio do hipopótamo.
Um dos casos curiosos com relação aos hipopótamos aconteceu durante a importação. Originalmente, Escobar comprou dois machos e três fêmeas. Um dos machos morreu na viagem e o traficante mandou banharem o crânio do animal a ouro. A peça está exposta hoje em um museu em Londres.
Condições ideais
O rio Magdalena, com águas lentas e relativamente rasas e sem períodos de seca ou predadores naturais, ofereceu aos hipopótamos condições ideais para se estabelecer.
Eles conseguem atingir a maturidade sexual mais cedo e procriar uma vez por ano, o que fez a população aumentar. Ainda não houve ataques a humanos, mas isso pode não estar longe.
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"A despeito de ser herbívoro, o hipopótamo é um animal agressivo, territorial. Ele não vai virar uma canoa para comer uma pessoa, mas pode atacar alguém que invada seu território. Sem contar que é um animal de uma mobilidade incrível, nada bem na água e anda bem na terra. Na África, tem lagos que à noite estão com 2 mil hipopótamos e de manhã todos podem ter ido embora", explica o biólogo Paulo Simões-Lopes, do laboratório de Mamíferos Aquáticos da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
Para ele, os efeitos da entrada dos hipopótamos no ecossistema da floresta colombiana ainda não estão claros, mas podem aparecer em breve.
"É uma espécie exótica, tudo pode virar um problema. Além da segurança das pessoas. Na América do Sul, temos mamíferos de grande porte, como as antas, mas nenhuma delas se defende como um hipopótamo", avalia.
Sem soluções
O governo local de Antióquia alega que não tem condições financeiras de resolver o problema.
Só o aluguel de um rifle que dispara dardos tranquilizantes custa cerca de US$ 8 mil (por volta de R$ 30 mil). Sem falar nos custos de contratar uma equipe de veterinários e auxiliares que saibam cuidar de mamíferos de grande porte.
Em 2009, quando um casal de hipopótamos foi encontrado a cerca de 100 quilômetros da fazenda, homens do Exército foram enviados para caçá-los.
O macho, chamado de Pepe, foi abatido a tiros e a imagem de sua carcaça sendo transportada em um caminhão gerou protestos de grupos de proteção animal.