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Itália: vítimas de abuso por padres pedem investigação independente

Grupos denunciam que imprensa e governo italiano são coniventes com os escândalos sexuais relacionados à Igreja Católica

Internacional|Do R7

Cerca de 65% dos habitantes da Itália são católicos
Cerca de 65% dos habitantes da Itália são católicos

Associações de vítimas de agressão sexual cometidas por clérigos na Itália lançaram uma campanha nesta terça-feira (15) para pedir uma investigação independente sobre abusos contra menores, cometidos por religiosos a poucos quilômetros do Vaticano.

Para as associações de vítimas na Itália, o assunto permanece tabu, então elas pedem mais disposição por parte da Igreja italiana para trazer à luz décadas de abuso e sofrimento. Nove organizações aderiram à campanha chamada "Além do silêncio" para solicitar a instalação de uma comissão para investigar os casos, como aconteceu na França e na Alemanha.

"O governo deve agir, deve aproveitar o impulso criado por investigações imparciais em outros países", disse à AFP Francesco Zanardi, fundador de uma das principais associações de vítimas, a Rete l'Abuso (Rede de abuso).

"Se a Itália não fizer isso agora, temo que nunca o fará", disse Zanardi, que foi abusado por um padre quando adolescente.


Investigações realizadas nos Estados Unidos, na Europa e na Austrália revelaram a magnitude do fenômeno, bem como a cultura de acobertamento que impera há décadas. 

Segundo a Rete L'Abuso, mais de 300 padres foram acusados, ou condenados, de abuso sexual na Itália nos últimos 15 anos, de um total de 50 mil padres em toda a península. Esses são números imprecisos, devido à ausência de relatórios e de investigações independentes.


"Nada foi feito"

Em resposta, o semanário italiano Left anunciou que, a partir de 18 de fevereiro, abrirá um banco de dados com o nome dos religiosos condenados e investigados. Para isso, contará com informações das associações.

"Queremos preencher um vazio. Tanta falta de atenção é inaceitável", disse Federico Tulli, da redação da revista.


Algumas vítimas denunciaram a indiferença da hierarquia da Igreja italiana e do Judiciário diante desse drama. "Mesmo entre os magistrados há relutância", disse Zanardi.

O jovem siciliano Antonio Messina, que sofreu abusos entre 2009 e 2013, denunciou não apenas o padre pedófilo, mas também o bispo de sua região que acobertou o caso e transferiu o agressor para outra sede, onde continuou mantendo contato com jovens.

"Não quero que o que aconteceu comigo aconteça com outros jovens. É o meu objetivo", afirmou, em entrevista coletiva online. 

Membro da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores, diretor do Instituto de Antropologia para a Prevenção do Abuso e um dos conselheiros mais próximos do papa Francisco, o jesuíta Hans Zollner admitiu, em recente entrevista à AFP, a necessidade de uma investigação. 

"Provavelmente há padres que cometeram abusos e continuam vivendo sem que ninguém os incomode", disse ele. 

O papa Francisco, que repetidamente expressou vergonha pelo abuso sexual de crianças por parte do clero católico, mudou a lei para endurecer a punição e, nesta segunda-feira (14), simplificou os procedimentos do Vaticano para investigar as acusações.

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A reforma divide a poderosa Congregação para a Doutrina da Fé em duas seções que tratarão, separadamente, de questões doutrinárias e disciplinares. Hoje, a instituição é responsável por julgar os padres que foram acusados de abuso sexual de menores e tem cerca de 20 membros dedicados quase que exclusivamente a essa tarefa.

Zanardi acredita, no entanto, que qualquer investigação deve ser independente. "Eu teria pouca fé" em uma investigação interna, reconheceu. 

A Igreja Católica italiana mantém grande influência, e dois terços da população são fiéis, de acordo com uma pesquisa de 2019. 

"Há um silêncio total na mídia italiana e no governo em Roma", lamentou Zanardi. "Sem ninguém exigindo ação, a Conferência Episcopal Italiana faz o que quer", completou.

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