Itamaraty adverte para 'quebra de ordem democrática' no Paraguai
Em nota, ministério também ressalta relação de Bolsonaro com presidente paraguaio, Abdo Benítez, ameaçado de impeachment por acordo sobre Itaipu
Internacional|Do R7
Em uma nota que vai até o limite da linguagem diplomática, o Itamaraty advertiu nesta quinta-feira (1) o Paraguai sobre os riscos de "quebra da ordem democrática" com a possibilidade de impeachment do presidente Mario Abdo e ressaltou que a "excelente relação" do país com o Brasil se deve principalmente à relação de Abdo com o presidente Jair Bolsonaro.
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No texto, o Itamaraty diz que acompanha "com grande atenção" o procedo de "juízo político", colocado entre aspas no país vizinho e, apesar de assinalar respeito ao processo constitucional paraguaio, destaca esperar que seja feito "sem quebra da ordem democrática".
Oposição pede impeachment
Abdo e seu vice-presidente, Hugo Velázquez, enfrentam um pedido de impeachment que seria apresentado pelos partidos de oposição a seu governo como reação a um acordo de venda de energia excedente de Itaipu assinado pelos governos do Brasil e do Paraguai.
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O texto, assinado em maio mas relevado apenas na semana passada, elevaria, segundo os parlamentares locais, em mais de 200 milhões de dólares o custo para a estatal de energia paraguaia.
Abdo está sendo acusado de agir contra os interesses do país e tenta agora rever o acordo. Bolsonaro disse nesta manhã que já deu aval para denunciar o acordo —termo diplomático que significa rescindir — de modo a tentar evitar o impeachment de Abdo.
Bolsonaro e Abdo
Eleito pouco antes de Bolsonaro, Abdo é um dos primeiros aliados do presidente brasileiro na região, considerado um dos seus pares na ideologia de extrema-direira pregada por Bolsonaro.
Em sua nota, o Itamaraty deixa claro que o governo brasileiro atribuiu o bom relacionamento com o Paraguai, que teria resultado em "iniciativas de grande impacto positivo para o Paraguai", ao relacionamento entre os dois presidentes e ressalta "a inteira convergência de valores" entre os dois governos.
"Essa elevação sem precedentes do relacionamento Brasil-Paraguai se deve, mais do que a qualquer outro fator, à excelente relação pessoal entre os presidentes Mario Abdo e Jair Bolsonaro, à coincidência de visões estratégicas e à determinação de ambos de agir em conjunto em benefício de seus povos", diz o texto.
"O Brasil espera que essa cooperação com o presidente Mario Abdo possa prosseguir, o que permitirá a plena implementação das iniciativas em curso e a consecução de novos avanços, inclusive no que tange à implementação, em benefício mútuo, dos compromissos dos dois países ao amparo do Tratado de Itaipu", complementa.
Paraguai já teve impeachment recentemente
Em 2012, o Congresso paraguaio destituiu o então presidente Fernando Lugo, de esquerda, em um processo de impeachment. Lugo foi acusado de "mau desempenho de suas funções" pelo Congresso, dominado pela oposição.
À época, o governo brasileiro de Dilma Rousseff e a União das Nações Sul-americanas tentaram evitar o desfecho da crise e chegaram a enviar uma comissão de chanceleres na tentativa de evitar o impeachment.
O processo, considerado pela Unasul e pelo Mercosul como fora dos padrões democráticos, levou à suspensão do Paraguai das duas entidades até a eleição de Horácio Cartes, em abril de 2013.