Julgamento de El Chapo: irmão de sócio detalha guerra dos cartéis
Grupo de El Chapo Guzmán e o cartel de Tijuana disputaram rotas de tráfico de cocaína para os EUA, nos anos 1990, com dezenas de mortes
Internacional|Fábio Fleury, do R7
Primeira testemunha a depôr no julgamento do traficante mexicano Joaquín 'El Chapo' Guzmán, Jesús 'El Rey' Zambada detalhou como foi a guerra entre os cartéis de Tijuana e Sinaloa, por rotas de tráfico de drogas para os EUA, no início da década de 1990.
Zambada continuou, nesta quinta-feira (15), o depoimento iniciado na véspera, quando ele contou como seu irmão, Ismael 'El Mayo' Zambada, se tornou sócio de El Chapo em Sinaloa.
Foi o terceiro dia de audiências na corte da Justiça Federal dos EUA no Brooklyn, em Nova York. O julgamento ainda deve levar meses até sair o veredito. El Chapo é acusado de 17 crimes e pode pegar prisão perpétua.
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Guerra dos cartéis
Em seu depoimento, El Rey contou que seu irmão, Ismael, começou a trabalhar para o cartel de Tijuana em 1987, para quem Guzmãn também prestava serviços. A organização era comandada por Ramón Arellano Félix
Quatro anos depois, El Mayo e El Chapo uniram forças com outros traficantes para desafiar o poder dos Arellano Félix e tomar as rotas de tráfico de drogas que passavam por Tijuana, na fronteira com os EUA. Eles formaram um grupo chamado "A Federação", que mais tarde se tornaria o cartel de Sinaloa.
"Eles (os Arellano Félix) achavam que eram os reis, os donos de Tijuana, e não queriam que ninguém atravessasse a fronteira com drogas sem sua autorização", contou Zambana. "Muitas pessoas morreram por isso".
Tiros e atentados
El Rey relatou como sobreviveu a um atentado contra sua vida na Cidade do México, no início dos anos 1990. Ele disse que estava em uma loja, quando pistoleiros do cartel de Tijuana abriram fogo contra ele. Atingido de raspão na cabeça, ele caiu no chão, mas não desmaiou.
"Me levantei e atirei neles com minha pistola. Eles se assustaram porque acharam que eu estava morto. Feri um deles e, com isso, consegui me salvar", disse Zambada.
O ex-traficante, que está preso nos EUA desde 2012, também contou que um de seus irmãos, Vicente, foi morto em meio à violência entre os cartéis.
Ele também relembrou o tiroteio na porta de uma boate em Puerto Valladas, em novembro de 1992, quando pistoleiros a serviço de El Chapo abriram fogo contra uma multidão. O alvo era Ramón Arellano Félix, que conseguiu escapar. Seis de seus homens foram mortos.
Meses depois, homens de Arellano Félix fuzilaram um carro no estacionamento do aeroporto de Guadalajara, achando que Guzmán estaria ali. O arcebispo da cidade, Jorge Jesús Posada, verdadeiro ocupante do veículo, morreu com 14 tiros, junto com seis outras pessoas.
Fuga espetacular
Na última parte do depoimento nesta quinta, Zambada falou sobre a primeira fuga de El Chapo da prisão, em 2001. O chefão havia sido preso pouco tempo depois da morte do arcebispo, na Guatemala, em 1993.
Após passar quase oito anos no presídio de segurança máxima de Puente Grande, em Jalisco, ele conseguiu sair pela porta da frente. Zambala contou que seu irmão, El Mayo, e o irmão do Chapo, Arturo Guzmán, foram responsáveis pelo plano.
Em 19 de janeiro de 2001, um guarda que recebeu suborno deixou a porta da cela do traficante aberta. Outro se aproximou com um carrinho de roupas sujas, onde Guzmán se escondeu. Dentro do carrinho, ele foi levado até um carro, entrou no porta-malas e o veículo saiu pelo portão principal do presídio com ele dentro.
Escolta policial
El Rey contou que participou da fuga ao apanhar Chapo com um helicóptero, enquanto ele fugia de militares e policiais. Depois de abandonar a aeronave perto da Cidade do México, eles entraram na capital literalmente escoltados pela polícia.
"Naturalmente, ele ficou preocupado. Eu disse a ele 'não se preocupe, eles são dos nossos, estão aqui para nos proteger'", relatou Zambada.
A testemunha também contou que isso foi possível porque o cartel pagava milhares de dólares por mês em propinas para autoridades mexicanas, de policiais a promotores, passando por políticos de diversos cargos.
"Eu era responsável por gerenciar o dinheiro na Cidade do México. Uma vez ele me disse para dar meio milhão de dólares para um advogado que ia levar o dinheiro para o diretor da Procuradoria-Geral da República, outra vez foi meio milhão para um general", explicou.