Líbia já acumula quase 100 mortes em confrontos em Trípoli

Novo balanço foi divulgado pelo Ministério da Saúde do país, conflito começou no fim do mês de agosto

21/09/2018 - 17h03 (Atualizado em 22/02/2024 - 06h15)

Em um novo balanço apresentado nesta sexta-feira (21), o Ministério da Saúde da Líbia informou que, desde o dia 26 de agosto, 96 pessoas foram mortas e 444 ficaram feridas por conta dos confrontos entre grupos armados em Trípoli, na capital do país.

A Líbia enfrenta um vácuo de poder e uma guerra civil desde a queda do ditador Muammar Kadafi, em 2011, e é atualmente uma das principais preocupações da Europa.

Os confrontos são entre milícias leais ao governo de união nacional (GNA, na sigla em inglês, reconhecido pela comunidade internacional), liderado pelo primeiro-ministro líbio, Fayez al-Sarraj, e a "Sétima Brigada", também chamada de "Kanyat", em função da família que a comanda, os Kani, e é baseada em Tarhuna.

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Apesar da missão da Organização das Nações Unidas na Líbia (Manul) ter anunciado no início de setembro um cessar-fogo entre as milícias, a mídia local relatou que os grupos armados violaram o acordo em Trípoli.

Além disso, os confrontos forçaram o governo, que é apoiado pela ONU, a declarar estado de emergência em Trípoli e nas cidades de seus arredores, afirmando que os confrontos são uma "tentativa de impedir uma transição política" no país.

Mais de 100 refugiados escapam de traficantes, mas são alvejados na Líbia:

Uma cena dramática ocorreu a oeste de Bani Walid, na Líbia. Presos e escravizados por traficantes de pessoas, mais de 100 refugiados foram alvejados assim que conseguiram escapar do cativeiro. As informações são do MSF (Médicos sem Fronteira)

Eles correram na tentativa de fugir e os traficantes, enfurecidos, começaram a atirar por toda a região levemente montanhosa, coberta de uma vegetação rasteira. A fuga ocorreu na noite de quinta-feira (23), no fim da tarde

Os feridos, 25, foram encaminhados para o Hospital Geral de Bani Walid. A maioria dos sobreviventes é de adolescentes e eles afirmaram que pelo menos 15 pessoas morreram na fuga. Os traficantes os vendiam e revendiam nas regiões de Bani Walid e Nesma, de onde os prisioneiros não conseguiam sair, em várias negociações

Ao atender os necessitados, o MSF informou que doou suprimentos para o hospital para reabastecimento de estoques médicos. Segundo relatos da entidade, havia vários corpos com cicatrizes, marcas visíveis de queimaduras elétricas e feridas infeccionadas, que comprovavam o sofrimento e a tortura da qual foram vítimas

Segundo o The Libya Observer, fontes locais disseram que 107 imigrantes - 23 da Etiópia, 73 da Eritreia e 11 da Somália - escaparam de um esconderijo, que ficava em um local chamado "fábrica 51". Neste momento, quem abriu fogo contra eles foi um traficante local chamado "Musa Diyab"

O que salvou os sobreviventes de serem recapturados foi a firme atuação de um grupo de Bani Walid, que trabalha no hospital público. Também participou do salvamento uma corrente de apoio vinda do poder municipal, de membros de organizações da sociedade civil, anciãos e membros das forças de segurança, entre outros

A reação destes defensores foi rápida, na proteção dos fugitivos, que continuavam a ser perseguidos e provavelmente seriam sequestrados novamente se não fosse a atuação desta rede de apoio. Então eles foram transferidos para uma instalação de segurança em Bani Walid, cidade que foi um dos últimos locais de resistência do governo de Muammar al-Kadafi antes da queda em 2011

Na manhã seguinte, eles foram novamente transferidos, desta vez para centros de detenção em Trípoli. Isto significa que continuarão prisioneiros, apenas em condições menos dramáticas por não estarem nas mãos do tráfico, mas em situação ainda precária

Esta foi uma crítica de Christophe Biteau, coordenador-geral do MSF:
— Todas as medidas necessárias devem ser tomadas para garantir que os pacientes possam acessar o tratamento necessário e proteger essas pessoas extremamente vulneráveis de mais danos após sobreviverem a tais atrocidades. A detenção arbitrária não pode ser uma solução. Eles precisam urgentemente de proteção e assistência

O MSF acompanhou a vida dessas pessoas em centros de detenção de Trípoli, na Líbia, durante mais de um ano. Eles testemunharam prisões arbitrárias, extorsões e abusos físicos. Mulheres, grávidas ou não, e crianças, também são tratadas como escravas

A organização relatou o absurdo do esquema: deve ser chamado daquilo que realmente é, um negócio promissor de sequestros, torturas e extorsão

Tudo isso é provocado, segundo a entidade, pelas políticas utilizadas pela UE, que acabam criminalizando migrantes e refugiados. Eles são impedidos de todas as formas de chegar à costa europeia, tendo de permanecer ou retornar para o pesadelo da Líbia

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