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Marcas do Daesh sobrevivem em Mossul 2 anos após libertação

Dois anos após fim dos combates com os jihadistas, Mossul continua em ruínas, lidando com atentados e sem serviços públicos reestabelecidos

Internacional|Da EFE

Equipe inspeciona destroços de mesquita em Mossul
Equipe inspeciona destroços de mesquita em Mossul

Ataques terroristas, ausência de programas de conscientização antiextremista em escolas e mensagens complacentes com os radicais divulgadas a partir de lideranças religiosas são algumas das marcas que o Daesh ainda mantém vivas em Mossul, cidade declarada como a capital do grupo no Iraque em 2014 e libertada há exatos dois anos.

Desde que voltou à cidade, a segunda maior do Iraque, atrás apenas da capital Bagdá, Warqa al Nuaimi, professora na Universidade de Mossul, convive com a destruição deixada pelos terroristas do grupo jihadista.

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Os serviços públicos são quase inexistentes. As duas principais pontes que ligam leste e oeste da cidade, destruídas durante a batalha para retomar o controle de Mossul, seguem sem funcionar. A maior parte das indústrias ainda está sob as ruínas e muitos se queixam que a corrupção atrapalha a reconstrução.


Falta de apoio do governo

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Shirvan al Dobirdani, deputado pela província de Ninawa, da qual Mossul é a capital, disse à Agência Efe que o governo central do Iraque não atende às demandas feitas pela cidade. Segundo ele, os recursos previstos no orçamento para reconstruir a região ainda não foram repassados às autoridades locais. Falta também presença policial. A atuação das forças de segurança se limita a apenas poucas dezenas de soldados e agentes.


As lembranças deixadas pelo período de dominação do Daesh, porém, não ficam apenas no plano das memórias. Castigada por uma economia de pós-guerra e um desemprego sem precedentes, Mossul segue sofrendo com atentados terroristas orquestrados pelo grupo.

Al Dobirdani acusa familiares dos jihadistas de serem os autores dos ataques esporádicos que ainda abalam a cidade. Além disso, o deputado alerta sobre a crescente presença de terroristas no sul e no oeste de Ninawa. Por esse motivo, o parlamentar não descarta um ressurgimento do Daesh no Iraque.


No último domingo, o Exército do Iraque lançou uma ofensiva com apoio de aviões da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos para expulsar terroristas do Estado Islâmico da região desértica na fronteira do país com a Síria.

A operação ocorreu apesar de o governo do Iraque ter anunciado no fim de 2017 que o grupo terrorista havia sido totalmente derrotado no país.

"As células terroristas adormecidas são ativadas de vez em quando nas regiões ao sul e a sudoeste de Mossul, especialmente em áreas desérticas", explicou o analista militar Rabea al Yauari.

"Eles têm esconderijos, túneis e reservas estratégicas de armas e equipamentos. Há grandes lacunas na segurança, evidenciadas pelas operações do governo ainda em andamento", completou.

Educação em ruínas

Além da questão de segurança, as marcas deixadas pelo Estado Islâmico também podem ser vistas no sistema educacional, um dos focos dos jihadistas durante o período no comando da cidade.

Dois anos depois da libertação de Mossul, o professor Mushad Mohammed Ali afirma que não viu medidas sérias sendo tomadas por parte do Ministério da Educação, que sequer mudou o currículo acadêmico das escolas para ensinar as novas gerações sobre os perigos da ideologia extremista de grupos como o próprio Daesh.

O mesmo ocorre, na avaliação do professor, nos discursos proferidos pelas principais lideranças religiosas nas orações de sexta-feira, as mais importantes muçulmanos. "Tudo o que ouvimos foram discursos tímidos de denúncia que não chegam aos pés da atrocidade cometida por esta escória de assassinos, que destruiu esta cidade", criticou Ali.

Para o professor, o foco deveria estar nos acampamentos de deslocados, pessoas que deixaram a cidade durante a guerra entre o Exército do Iraque e o Daesh para libertá-la das mãos dos terroristas. Neles, segundo Ali, há um grande número de mulheres e crianças parentes de integrantes do grupo extremista.

Ali sugere que o governo do Iraque envie líderes religiosos moderados a esses acampamentos para que suas orações ajudem na reintegração dessas famílias à sociedade de Mossul. De outro modo, o professor teme que eles sejam transformados em "inimigos" do país.

O professor alerta que a falta de iniciativa para combater o problema pode espalhar a ideologia extremista entre os mais jovens, desembocando no surgimento de uma nova geração do Daesh.

"Se conseguíssemos reabilitar 90% deles, estaríamos muito bem", concluiu Ali.

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