María Corina Machado: quem é a opositora de Maduro que ganhou o Nobel da Paz

A líder da oposição na Venezuela, María Corina Machado, ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 2025, anunciado nesta sexta-feira (10) pelo Comitê Norueguês do Nobel, em Oslo. A opositora foi reconhecida pelos “esforços persistentes em favor da restauração pacífica da democracia e dos direitos humanos” em seu país.

Machado, de 58 anos, foi impedida de disputar as eleições presidenciais de 2024 pelo Judiciário venezuelano, alinhado ao presidente Nicolás Maduro, que acabou reeleito em um pleito contestado internacionalmente por falta de transparência. Desde então, após perseguições e prisões de aliados, a líder opositora vive escondida na Venezuela.

Segundo o comitê, Machado “mantém acesa a chama da democracia em meio à escuridão crescente”. O texto oficial da premiação afirma que ela representa “um dos exemplos mais extraordinários de coragem civil na América Latina nos últimos tempos”.

“Estou em choque”. Foi o que disse Machado em sua primeira manifestação após o anúncio, durante uma ligação com Edmundo González Urrutia, candidato apoiado por ela nas eleições de 2024 e hoje exilado na Espanha.

A conversa foi compartilhada nas redes sociais por González, que comemorou o prêmio chamando-o de “um reconhecimento muito merecido pela longa luta de uma mulher e de todo um povo por nossa liberdade e democracia”.

Quem é Machado

Nascida em 1967, em Caracas, María Corina Machado é engenheira industrial e tem formação em finanças. Ela iniciou a carreira no setor privado antes de se dedicar à política e à defesa dos direitos civis.

Em 1992, fundou a Fundação Atenea, voltada ao acolhimento e educação de crianças em situação de rua. Dez anos depois, ajudou a criar a Súmate, organização de monitoramento eleitoral conhecida por treinar observadores e promover eleições livres.

Eleita deputada da Assembleia Nacional em 2010 com votação recorde, foi expulsa do cargo quatro anos depois pelo governo chavista. Desde então, lidera o partido Vente Venezuela e ajudou a fundar a aliança Soy Venezuela, que reúne grupos pró-democracia.

Impedimento e repressão

Machado venceu as primárias da oposição em 2023 com mais de 90% dos votos, tornando-se a principal adversária de Maduro. No entanto, o Supremo Tribunal de Justiça, ligado ao governo, a inabilitou por 15 anos para ocupar cargos públicos.

Com a proibição, ela apoiou Edmundo González como candidato único da oposição. Apesar de denúncias de fraude e de indícios de vitória do opositor, o Conselho Nacional Eleitoral, controlado por chavistas, declarou Maduro reeleito sem divulgar os detalhes da apuração.

Machado percorreu o país sob forte repressão, chegou a ser presa brevemente em janeiro deste ano e viu seus principais aliados detidos ou forçados ao exílio. Mesmo assim, continuou a atuar politicamente na clandestinidade.

Na política, ela defende reformas econômicas liberais, como a privatização de empresas estatais – incluindo a petrolífera PDVSA – e programas sociais voltados à população mais pobre.

Apesar de críticas, inclusive internas, Machado costuma descrever sua luta como “coletiva”, voltada à redenção e à unidade dos venezuelanos.

Reconhecimento internacional

María Corina Machado foi descrita pelo Comitê como uma “figura unificadora” em um cenário político antes fragmentado. Ela e Edmundo González receberam, em 2024, o Prêmio Sakharov de Direitos Humanos da UE (União Europeia).

Machado é a 20ª mulher a vencer o Prêmio Nobel da Paz, entre 112 homenageados desde 1901. O prêmio deste ano inclui 11 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,2 milhões) à vencedora.

O Nobel da Paz é o único dos prêmios concedido em Oslo. As demais premiações (de Medicina, Física, Química, Literatura e Economia) são entregues em Estocolmo, na Suécia.

Crise venezuelana

O Comitê Norueguês disse que a Venezuela, antes uma democracia estável, vive hoje sob um regime autoritário, marcado por pobreza extrema, censura, prisões políticas e êxodo de mais de 8 milhões de pessoas.

As eleições de 2024 desencadearam protestos em todo o país, que foram reprimidos com violência – mais de 20 pessoas morreram, segundo a agência Associated Press (AP). O governo de Maduro também rompeu relações diplomáticas com outros países, como a Argentina.

Segundo o Comitê, María Corina Machado cumpre os três critérios definidos por Alfred Nobel para o prêmio: promover a fraternidade entre nações, reduzir a militarização e trabalhar pela paz.

“Ela demonstrou que as ferramentas da democracia também são as ferramentas da paz. María Corina Machado personifica a esperança de um futuro em que os direitos fundamentais sejam protegidos e as vozes dos cidadãos sejam ouvidas”, disse o comunicado.

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